A chegada do La Niña, que costuma trazer chuvas significativas, começou a gerar expectativas positivas. Porque era esperado que após três anos consecutivos de seca, os perfis de umidade dos solos poderiam finalmente ser recompostos e regressar aos rendimentos e níveis de produção que existiam até à campanha 2021/22.
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Um relatório da BCR (Bolsa de Valores de Rosário) destaca que “as más condições na época do plantio consolidaram um novo ano de declínio na área plantada, atingindo o mínimo dos últimos 8 anos com 5,4 milhões de hectares no país”. No ano passado foram 5,9 milhões de hectares.
Assim, o principal cereal de inverno não consegue se desenvolver adequadamente devido à falta de água em muitos campos, o que afeta a produtividade. Neste contexto, a estimativa de produção foi ajustada para baixo pela entidade, para até 15 milhões de toneladas. A última pesquisa da Bolsa de Cereais de Buenos Aires indica que 66% do trigo está em condições hídricas adequadas, mas os 34% restantes oscilam entre uma condição regular e a seca.
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“Em condições razoáveis há quase 2 milhões dos 5,4 milhões de hectares plantados com trigo na Argentina, portanto, se as chuvas necessárias não forem consumadas em áreas críticas, poderemos esperar novos cortes de produção”, indicou a Bolsa Rosarina. (Os argentinos são os principais fornecedores de trigo para os brasileiros. Em 2022, o Brasil importou 5,7 milhões de toneladas de trigo, vindos principalmente da Argentina (78%), Paraguai (6%), Rússia (5%) e 4% do Uruguai.)
Um país, duas realidades para o trigo
Ao nível da produção, embora possa haver revisões, hoje já falamos de 15,5 milhões de toneladas, volume que representa um milhão de toneladas a menos do que se estimava até um mês atrás.“Em Corrientes, em cidades como Ituzaingó caíram 350 mm (milímetros) de chuva e em Oberá (Misiones) 250 mm. Então, há excessos e inundações, mas aqui em Rosário a água não chegou”, diz o agrônomo Cristian Russo, chefe de Estimativas da Bolsa de Rosário.
Agora, todos olham para o céu e para o boletim do tempo. As chuvas precisam vir em quantidade e rapidamente, para salvar o que resta da colheita. “Todo mundo está com medo”, diz Russo e detalha que é muito diferente se as chuvas chegarem nos dias 5, 10 ou 20 de outubro.
Na análise de Russo, se chover na próxima semana, “o trigo se salva na última hora”. Se, por outro lado, as chuvas caírem no dia 10 “haverá perdas”, mas se for depois do dia 20 haverá um impacto maior no trigo e também “o milho não poderá ser plantado mais cedo”.
Nesse caso, é muito provável que muitos produtores mudem para a soja, uma cultura que requer muito menos perfis de umidade nos solos e, em última análise, haverá menos milho.
Trigo com vendas a conta-gotas
Além disso, o especialista sustenta que “há prudência por parte do produtor”, dado que, com base na experiência da última safra, “ele não compromete a mercadoria, até ter um pouco mais de certeza do nível da produção”.
Por sua vez, a analista de mercado agrícola Lorena D’Angelo destacou que “se considerarmos uma produção próxima de 15 milhões de toneladas, as exportações potenciais poderiam estar próximas de 8 milhões de toneladas”.
Mas as dúvidas geradas pelo clima “permitem não só ver ausente interesse por parte dos exportadores, mas também incerteza por parte dos produtores argentinos, que continuam a não fazer muitos negócios com cereais, antecipadamente”, afirma o especialista.