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Radicado nos EUA, o professor emérito da Universidade de Ohio tem sido uma figura bastante solicitada para falar aos produtores brasileiros. Neste ano, esteve no One Agro, evento realizado pela Syngenta em junho e, nesta semana, foi a Londrina participar do Fórum Conservar e Produzir, da Sociedade Rural do Paraná.
Confira as 10 lições de Rattan Lal:
1 – Brasil, potência do agro
“O Brasil passou de importador de alimentos a maior exportador líquido de alimentos do mundo. O país deve se orgulhar muito disso. É uma história de sucesso notável. A transformação gigantesca, chamada de ‘O Milagre do Cerrado’, é um dos desenvolvimentos mais importantes da história mundial moderna.
O Brasil está hoje entre os cinco maiores produtores mundiais de cerca de 36 produtos agrícolas. A produção quadruplicou desde 1960 e tem crescido cerca de 3%, a 3,5% ao ano. Isto é o que significa ser uma potência agrícola mundial.”
2 – Brasil pode acabar com a fome no mundo
Analistas argumentam que a savana verde africana pode vir a ser o próximo celeiro do mundo, por causa da semelhança agroclimática com o Cerrado brasileiro. Por isso, gostaria de fazer um apelo ao Brasil para que aquilo que os brasileiros fizeram na região do Cerrado, ao longo dos últimos 25 anos ou mais, ajude África a realizar o mesmo. O Brasil daria uma tremenda contribuição para facilitar a eliminação da fome no mundo e alcançar esta meta de desenvolvimento sustentável.”
3 – Brasil e sua missão de proteger o solo
“O sucesso na produção, tanto no volume de grãos, como na avicultura, na pecuária, aquicultura e outros setores, é uma história de sucesso notável e única. Mas há desafios que não podemos ignorar. A degradação do solo é um problema sério. A desertificação do nordeste do país, a erosão do solo, o esgotamento e a compactação são fatos. A salinização na região semiárida, o uso excessivo de água em algumas regiões e a poluição precisam ser consideradas.
A agricultura tem contribuído para as alterações climáticas, incluindo as terras agrícolas, nomeadamente através da desflorestação e da criação de animais, especialmente por causa da emissão de metano pelos ruminantes.
4 – Agricultura amiga do clima e regenerativa
“A seca é fator a ser considerado com muito cuidado, principalmente na região semiárida e subúmida, principalmente em relação à produção de soja. O déficit hídrico da seca pode ser uma das principais causas da lacuna de produtividade dessa cultura. Mas, tomando cuidado, o rendimento da soja pode aumentar com variedades que tenham raízes profundas, com aumento do rendimento de 500 a 2.500 quilos por hectare.
A distribuição do perfil radicular deve ser considerada para melhorar a resiliência da soja ao déficit hídrico e para se adaptar às alterações climáticas. Assim, como tornar a agricultura amiga do clima, garantindo que a agricultura regenerativa seja adotada, são algumas das considerações a que devemos prestar atenção para os futuros desafios agrícolas.”
5 – Produzir e consumir de forma inovadora
“O impacto na forma como os alimentos são produzidos e consumidos será cada vez mais considerado porque isso afeta a saúde do solo, das plantas, dos animais, das pessoas e do próprio planeta.
6 – Brasil e sua agricultura urbana
“A urbanização populacional em várias partes do mundo, e não apenas no Brasil, vem desenhando as comunidades. A Cidade do México, por exemplo, tem 19 milhões de habitantes.
No Rio de Janeiro, a população aumentou de 3,1 milhões em 1950 para 14 milhões atualmente. Na Grande São Paulo, a população aumentou de 2,3 milhões para 22 milhões. Portanto, a nossa agricultura também deve considerar o papel da agricultura urbana e periurbana, utilizando um sistema de produção de alimentos sem solo, como a aquicultura, a hidroponia e estruturas de estufas de vários andares para produzir alimentos dentro dos limites da cidade.”
7 – Saúde única precisa ser rotina
“O conceito de saúde única precisa ser incorporado à nossa rotina. Saúde do solo, das plantas, dos animais, dos seres humanos, do ambiente, do planeta e das pessoas, ou seja, todo o ecossistema está interligado. Esse conceito é baseado na filosofia de John Moore. Quando tentamos identificar qualquer coisa por si só, descobrimos que ela está ligada a tudo mais no universo.
Digo que a saúde do solo nunca deve ser comprometida. Isso nos traz a questão dos sistemas alimentares sustentáveis, porque a agricultura é apenas um dos primeiros passos do sistema alimentar. O sistema alimentar é toda a cadeia.”
8 – Sistema resiliente de produção de alimentos
“A transformação para um sistema alimentar sustentável é uma componente importante dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Esses objetivos são o número um para [combater] a pobreza. Fome, número 20. Número três, boa saúde e bem-estar. Número seis, água potável e saneamento. Número doze produção e consumo responsável. Ação climática é o número 13. Número 15 diz sobre a degradação da terra. E o número 17, paz e justiça para todos. Os nossos sistemas alimentares no futuro devem prestar atenção a estes objetivos, porque são diretamente afetados pelo sistema alimentar.
Portanto, não se trata apenas de uma agricultura de produção. É uma questão de como o sistema alimentar, toda a cadeia pode ser melhorada e transformada, ou seja tornar-se restauradora do solo. Um sistema resiliente que pode nos ajudar a alcançar um sistema melhor é aquele que pode suportar os choques e se recuperar.
9 – A nova economia é circular
“No Brasil, a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar é um excelente exemplo global de economia biocircular. O país precisa fazer disso um modelo para outras culturas e também a ser seguido por outros países.
Agroecologia e agricultura. Isso segue quatro princípios básicos da ecologia. Ou seja, integração agroecológica agroflorestal de culturas com árvores e pecuária, em vez de apenas pecuária por si só. Integrar culturas com árvores e práticas pecuárias que conduzam a um orçamento de carbono do ecossistema do solo positivo, ou seja, emissões agrícolas negativas, o que significa um orçamento positivo de carbono do solo.
Devemos pensar no CNPK em vez do NPK, adotando o conceito de gestão integrada da fertilidade do solo. CNPK, esse deveria ser o slogan. Devemos equilibrar o uso dos nutrientes das plantas. Não se trata apenas do nitrogênio, mas também do fósforo e do potássio, mas, mais importante, também dos micronutrientes.”
10 – Brasil está pronto para a ecointesificação
Devemos, de fato, salvar terras para a natureza e podemos fazer isso para algumas delas por meio do sequestro de carbono. Isso nos leva ao conceito de ecointensificação. Não estou falando de intensificação sustentável, mas de intensificação ecológica. O conceito de ecointensificação é produzido mais a partir de menos. Menos terra, menos água, menos fertilizantes e pesticidas, menos energia, menos emissões de gases com efeito de estufa.
Até 2100, dos 5 mil milhões de hectares de terras agrícolas em nível mundial, devemos devolver metade desses 2,5 milhões de hectares à natureza. E o Brasil pode desempenhar um papel muito importante. Não estou dizendo para reduzir a produção, estou dizendo para melhorar a eficiência para que o país possa economizar recursos para a natureza.”