Galinari participou das inaugurações de entrepostos de recebimento de grãos em Mato Grosso do Sul, nos municípios de Rio Brilhante, no sul do estado, e em Ponta Porã, na divisa com o Paraguai, ambos a cerca de 450 quilômetros do centro administrativo da cooperativa. Foram investidos R$ 240 milhões em estruturas que contam, cada uma, com quatro silos para até 40 mil toneladas de grãos, moegas, tombadores, bitrem e armazéns de insumos. Mas esse valor é apenas uma parte do que a Coamo investe.
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A profissionalização das cooperativas tem levado esse setor da economia compartilhada a experimentar um crescimento extraordinário. Seu mais recente movimento é a profissionalização do comando executivo. Dos 53 anos de existência da Coamo, por meio século seu presidente foi um dos fundadores, Aroldo Galassini, que hoje está no conselho. Outro exemplo é a Cocamar, de Maringá (PR), em que, desde 2014, sua diretoria executiva sem mandato é formada por profissionais contratados.
Várias outras grandes cooperativas estão fazendo o mesmo movimento, embora não admitam. Mas eles, os novos executivos da economia compartilhada, vêm por aí. A lógica é bastante clara: as cooperativas agropecuárias estão se tornando “empresas”, cada vez mais complexas, embora o coração do negócio continue sendo um modelo não só de relação comercial, mas, principalmente, uma relação social.
No ano passado, as 10 maiores cooperativas de produtores rurais (veja quadro abaixo) movimentaram R$ 155,765 bilhões, ante R$ 127,220 bilhões no ano anterior, um crescimento de 22,4%. Para ter ideia da grandeza do grupo de super cooperativas, em 2022, o total da produção nacional de vestuário foi de R$ 150,3 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). O país tinha 1.170 cooperativas de agro e 1,024 milhão de cooperados, segundo o mais recente levantamento da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), de 2001. Não há dados oficiais de quanto elas movimentam, mas a estimativa é de cerca de R$ 400 bilhões em 2023.
A Coamo faturou R$ 28,1 bilhões em 2022. “Ser pequeno não é fácil, é quase impossível”, diz Galinari. A cooperativa é um colosso verticalizado, que vai do plantio, passando por logística, industrialização, comércio e serviços financeiros. Por exemplo, produz margarina, óleo, café torrado e farinha de trigo. Em agosto, a cooperativa faz sua estreia no processamento de milho para ração animal. Na primeira fase, serão 200 mil toneladas por ano. “O próximo passo é produzir etanol de milho. Já temos um estudo pronto para ir à assembleia de cooperados.”
Para Galinari, o sucesso da cooperativa está no pacote de múltiplas assistências oferecidas aos produtores que abarcam uma série de serviços. Somente para pesquisa, a Coamo possui duas fazendas que conduzem anualmente 200 experimentos para transferência de tecnologias. “Pequenos produtores poderiam se dedicar a alguns tipos de culturas, mas, para as mais extensivas, eles precisam de infraestrutura, crédito, assistência técnica, logística, meios de comércio competitivos.”
Na exportação, a verticalização de serviços passa por vender diretamente seus produtos. Em 2022, a Coamo exportou 2,107 milhões de toneladas por US$ 1,183 bilhão, entre grãos, farelos e óleos, para 30 países da Europa, América, Ásia e África. “Os grãos são entregues às grandes traders, mas farelo já vendemos diretamente a países como Alemanha, Dinamarca e França. Estamos expandindo esse modelo para os grãos.”
(reportagem publicada na edição 110 da Revista Forbes, acessível no aplicativo na App Store e na Play Store, no site da Forbes e na versão impressa.)