Enquanto jornalistas brasileiros questionam por que o Brasil não assume o protagonismo global na produção de alimentos sustentáveis, os chineses já têm a clara percepção de que o Brasil, alimentando mais de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo com baixas emissões e conservando biodiversidade, já é o protagonista! O Brasil é o único grande produtor de alimentos capaz de garantir segurança alimentar para essa potência asiática em sua jornada inexorável para tornar-se a maior economia do mundo.
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Querem conhecer nossos produtos, contato no WeChat, querem saber como comprar tudo: carne bovina, de porco, pé de galinha, soja, milho, pulses (lentilhas, feijões, grão de bico…) e até sorgo. Mesmo entendendo e valorizando nossas grandes vantagens competitivas, como destinar à conservação 64% do território de Mato Grosso, nossa produção tropical sustentável e baixo carbono e 94% da energia produzida no estado vir de fontes renováveis, acabam priorizando a segurança alimentar.
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Parceria essa ancorada em métricas e indicadores que valorizem nossa biodiversidade, nosso clima facilitador de produção baixo carbono, nossos modelos sustentáveis de produção e a rastreabilidade inclusiva (sem esquecer dos pequenos produtores) de nossa produção. Nesse futuro não tão distante previsto pelo estudo, haverá uma reconfiguração de poderes globais e não haverão países europeus a frente do Brasil.
Mesmo levando em conta o “efeito Bruxelas” – a capacidade da EU de influenciar a criação de normas e regulamentos que irão influenciar o comércio mundial – observa- se claramente que a China tem um projeto pragmático de parcerias. Dentre eles, o “Belt and Road (BRI)”, uma estratégia de desenvolvimento global de infraestrutura que possibilitará investimentos em cerca de 20 países da América Latina.
Em Xangai, participamos da maior feira de importação e exportação do mundo, a CIEE (China International Import Export Expo), onde Mato Grosso teve seu próprio Stand, onde, além de divulgar informações do Estado, facilitar negociações e promover diversas assinaturas de Memorandos de Entendimentos, nosso IMAC, Instituto Mato-grossense da Carne, realizou uma concorrida degustação do novo corte “MT Steak”, eleito em reality show exibido na TV e disponível nos streaming disponíveis em nossas redes sociais e site.
Alguns pensam que deveríamos nos industrializar, outros investir em tecnologia e eu concordo, mas não podemos negar nossa vocação de potência agroecoalimentar! Essa necessidade de industrialização urbana não é antagônica a nossa vocação de alimentar boa parte do mundo, que não detém em seus territórios solos propícios para agricultura e pecuária. Devemos sim passar por um processo de industrialização nas regiões produtoras de alimentos como o Mato Grosso, para que a maior parte do beneficiamento seja feita aqui, gerando empregos e desenvolvimento no nosso pais e agregando o máximo de valor aos nossos produtos alimentícios. Isso tudo, em tempos de COP 28 realizada em Dubai, onde está clara a intenção de pressionar nossos Sistemas Alimentares para abafar qualquer ameaça a continuidade da produção de combustíveis fósseis.
*Caio Penido é pecuarista na região da Serra do Roncador, em Mato Grosso, e presidente do IMAC (Instituto Mato-grossense da Carne). Foi o mentor da Liga do Araguaia, movimento que nasceu em 2015 visando a adoção de práticas sustentáveis e que em 2021 se tornou o Instituto Agroambiental Araguaia.