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“Em termos de taxas de conversão de alimentos e proteínas, as pítons superam todas as principais espécies agrícolas estudadas até o momento”, disse o principal autor do estudo, o biólogo de répteis Daniel Natusch, que é pesquisador honorário da Escola de Ciências Naturais da Universidade Macquarie, em Sidney, na Austrália, classificada entre as 10 melhores do país. Seu campus principal tem 126 hectares.
“As pítons cresceram rapidamente para atingir o ‘peso de abate’ no primeiro ano após a eclosão”, afirmou Natusch. O pesquisador destacou que a carne de cobra é branca e muito rica em proteínas. No seu estudo recentemente publicado, o pesquisador e seus colaboradores estudaram e compararam um total de 4,6 mil pítons que foram criadas comercialmente na Tailândia e no Vietnã, e testaram os efeitos de diferentes dietas fornecidas aos animais. As cobras foram alimentadas uma vez por semana com uma mistura de origem local, incluindo roedores capturados na natureza, subprodutos de carne de porco e pellets de peixe, e foram medidas e pesadas regularmente durante o período de estudos.
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Em seu estudo, Natusch e colaboradores descobriram que tanto as pítons reticuladas, Malayopython reticulatus, quanto as pítons birmanesas, Python bivittatus, cresceram rapidamente em seu primeiro ano de vida – ganhando até 46 gramas por dia – com as fêmeas apresentando maior taxas de crescimento do que os machos.
A equipe descobriu que as pítons podem ficar sem comida por mais de quatro meses sem perder muito peso, e rapidamente retomar o crescimento assim que a alimentação for reiniciada, exigindo menos trabalho do que as criações comerciais tradicional, e capazes de sobreviver facilmente a interrupções prolongadas na cadeia de abastecimento alimentar, como aqueles causados por eventos climáticos extremos. “Elas precisam de muito pouca comida e comem roedores e outras pragas que atacam as culturas alimentares”, diz Natusch.
As cobras nunca foram alimentadas à força, de acordo os pesquisadores, e as taxas de crescimento em ambas as espécies de píton foram fortemente influenciadas pela quantidade de comida que consumiram.
“Aves e mamíferos desperdiçam cerca de 90% da energia dos alimentos que comem, simplesmente mantendo uma temperatura corporal constante”, explicou o professor Shine.
“Mas os animais de sangue frio, como os répteis, apenas encontram um local ao sol para se aquecerem. Eles são muito mais eficientes em transformar os alimentos que comem em mais carne e tecido corporal do que qualquer criatura de sangue quente jamais conseguiria.”
Natusch e seus colaboradores observaram que as pítons requerem menos comida do que outros animais de criação, incluindo frango, carne bovina, suína, salmão – e surpreendentemente, até mesmo grilos. Descobriram também que a alimentação intensiva das cobras juvenis promoveu taxas de crescimento rápidas sem impactos aparentes no bem-estar. Além disso, ao contrário de outros animais de criação, as pítons requerem muito pouca água. “As cobras requerem um mínimo de água e podem até viver do orvalho que se deposita nas escamas pela manhã”, disse ele.
Resumindo, os pythons são especialistas em tirar o máximo proveito de muito pouco. A carne de cobra é considerada sustentável, rica em proteínas, com baixo teor de gordura saturada e já amplamente consumida no Sudeste Asiático e na China. Na verdade, é uma iguaria em muitas partes do Sudeste Asiático. No Vietnã, por exemplo, a cobra é uma especialidade culinária, sendo que num dos pratos mais apreciados ela é servida frita e acompanhada de capim-limão e pimenta. Mas o cultivo de pítons permanece desconhecido na agricultura ocidental.
As cobras podem produzir muitos descendentes em muito pouco tempo. Por exemplo, uma fêmea de píton pode produzir entre 50 e 100 ovos em um ano, ao contrário de uma vaca, que produz em média apenas 0,8 bezerro, e de um porco, que pode produzir entre 22 a 27 leitões na mesma quantidade de tempo. “Nosso estudo sugere que a criação de pítons, complementando os sistemas pecuários existentes, pode oferecer uma resposta flexível e eficiente à insegurança alimentar global.”
Quando processado, quase 82% do peso vivo de uma píton produz produtos utilizáveis, incluindo a carcaça com alto teor de proteína da carne, a valiosa pele para o couro e a gordura (óleo de cobra) e a vesícula biliar (bile de cobra), ambas com propriedades medicinais e uso em vários países. “Mostramos que as fazendas de cobras podem efetivamente converter muitos resíduos agrícolas em proteínas, ao mesmo tempo em que produzem relativamente poucos resíduos”, disse o pesquisador.
As pítons podem digerir uma variedade interessante de fontes de proteína. Neste estudo, a equipe de pesquisa alimentou grupos de pítons com diferentes “embutidos” feitos de resíduos de proteína de sobras de carne e peixe. Talvez surpreendentemente, apesar de as pítons serem exclusivamente carnívoras na natureza, elas também conseguiam digerir soja e outras proteínas vegetais, como revelado quando a equipe criou salsichas proteicas que incluíam 10% de proteína vegetal na carne. “É como esconder brócolis nas almôndegas para fazer seus filhos comerem vegetais.”
No entanto, apesar das muitas vantagens e benefícios apresentados pela criação e consumo de pítons, é improvável que as três Américas, australianos e europeus adotem esta carne, pela carga cultural que trazem para a mesa. “Acho que demorará muito até que se veja hambúrgueres de píton servidos em seu restaurante local favorito.”
* GrrlScientist é colaborador da Forbes EUA, ecologista e ornitólogo, além de escritor e jornalista científico.