“O agro não é um negócio que está contaminado”, diz CEO da Ceres Agrobank

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20 de março de 2024
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Guilherme Rodrigues da Cunha diz que cenário é desafiador, mas que se estabiliza agora, de 2024 para 2025

A Ceres Agrobank está entrando com um pedido no Banco Central, neste mês de março, para se tornar um banco do agronegócio. O estudo econômico, financeiro e todo os trâmites de arcabouço regulatório da gestora e securitizadora começou há um ano. Criada há 6 anos, a Ceres é um spin-off, nome que recebe uma empresa que nasceu a partir de outra, da Ubyfol, multinacional brasileira que atua também em Portugal e no Paraguai, no setor de nutrição vegetal. “O pedido basicamente nem é para sermos um banco (no sentido clássico da palavra), mas para que possamos atuar como uma instituição financeira de crédito e financiamento, com a emissão de, por exemplo, as LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio) e dos CDBs (Certificado de Depósito Bancário)”, diz Guilherme Rodrigues da Cunha, 40 anos, CEO da Ceres Agrobank, que há 15 anos atua no agro. A Ceres tem cerca de R$ 5 bilhões em ativos originados e R$ 3 bilhões sob gestão.

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Cunha se diz animado com o projeto e pontua que o agro é maior que o atual ensaio de crise no setor, assustado com o volume de recuperações judiciais de produtores pessoas físicas em 2023, um total de 127 solicitações ante 20 em 2022, segundo dados da Serasa Experian; dos preços achatados das commodities e das perdas de safra por conta de alterações climáticas. “O que a gente está vendo é que existem alguns produtores que se alavancaram demais. Essa é uma parte pequena, muito pontual. Na maioria são grandes produtores alavancados. No médio produtor a gente não vê isso. O agro não é um negócio que está contaminado”, diz ele. “O que sentimos é um cenário mais desafiador em margem, mas que se estabiliza agora, de 2024 para 2025.”

O executivo pontua que as crises no agronegócio, que hoje está assustando parte do mercado financeiro, sempre existiram. “Variação de preço, problemas climáticos, sempre foram recorrentes dentro desse nosso universo agro. O que mudou está muito ligado à pandemia de Covid-19. Quando ela veio, o sistema financeiro, que sempre teve muito medo do agro, viu um setor extremamente resiliente. A soja disparou, ela foi de R$ 80 a saca para R$ 160, e depois bateu nos R$ 200. O mercado financeiro, que colocou foco no agro, viu três anos de muita pujança”, afirma Cunha.

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“É óbvio que viria um rebote e ele veio agora: o preço da commodity caiu, os custos ficaram mais elevados e houve um problema de trava por causa do clima. É a primeira crise, vamos dizer assim, mais aguda que os novos entrantes do mercado financeiro estão vivendo no agro. Acredito que é preciso ter um pouco de paciência e flexibilidade para conseguir alocar os compromissos na linha do tempo e que o produtor vai conseguir sair deles”, diz o executivo. “Hoje, dois terços do crédito do setor do agro brasileiro vem do mercado privado. Ele não vem do governo.  Então, quanto mais se alardeia que o problema é sistêmico, mais o mercado privado, o mercado de capital tende a  ficar longe do agronegócio. Isso é um problema para a agricultura, no final do dia.” 

O país possui atualmente 815 gestoras de investimentos em operação, segundo um estudo da Quantum realizado em janeiro deste ano. “A gente nasceu do agronegócio”, justifica Cunha, para manter o prumo dos negócios. Ele explica o que seria a flexibilidade, por exemplo para a soja, que deve ficar negativa para parte dos produtores. “A soja, no início da safra, estava sendo negociada a R$ 130 a saca, com custos de 32 ou 33 sacas. Hoje, essa soja está em R$ 100 a saca e o custo continua o mesmo, ou seja, a margem virou para o negativo. Mas não significa que o produtor não vá pagar seu financiamento, ele simplesmente está se organizando e a gente precisa ajudá-lo a organizar o fluxo de caixa para que consiga honrar o compromisso nas próximas safras.” E completa: “É muito raro, e tive a oportunidade de ver em pouquíssimas ocasiões – em todos esses anos, seja como CFO ou agora como gestor – um produtor realmente com a má fé de chegar e falar ‘vou pedir uma recuperação judicial porque eu quero’. O normal é ele pedir ajuda, sentar na mesa e tentar achar o caminho.”

Em busca do “agro profundo”

Atualmente, a Ceres atende a cerca de 200 clientes, parceiros pelos quais são acessados 12 mil produtores. Esses clientes são empresas, como sementeiras, laticínios, originadores e revendas do agro, entre outros. Entre as cadeias produtivas atendidas, a soja e o milho representam 60%.

“São grandes e importantes cadeias, todo mundo fica em cima, mas o agro não é somente isso. A gente gosta muito do que chamamos de agro profundo”, diz Cunha. “É óbvio que pelo tamanho e a expressão que os grãos têm no PIB do agro, eles aparecem como o maior setor que a gente atende, mas há outros setores tão pujantes quanto, que são muito mais carentes de crédito e onde há muito menos entendimento de suas peculiaridades.”

Exemplos são as cadeias de pecuária bovina de corte e de leite, tubérculos, peixe, madeiras, entre outros. Entre os fundos disponíveis na Ceres há um que é exclusivo para confinamentos na engorda do boi. “Hoje, temos um fundo de cadeia genética bovina, coisa que ninguém tem, que é para melhoramento de gado de corte, bovinos puros e cruzados de rebanhos de seleção genética.”

Para o eucalipto, o executivo afirma que há pouco atendimento ao mercado justamente pela falta de conhecimento sobre um setor concentrado. “Quase ninguém entende de eucalipto, da biomassa, da madeira”, diz ele. “Na tilápia, uma atividade promissora, é o mesmo. A gente gosta disso e tenta entender esses mercados mais obscuros, vamos dizer assim, do lado do negócio e financiar cadeias que normalmente têm uma dificuldade muito grande de funding.”

Cunha afirma que um desses setores “obscuros” que ele mais põe atenção são os de alho e batata, consideradas culturas ruins para a cessão de crédito por “gastar muitos recursos por hectare e com grandes riscos de perda de colheita”. “Uma das nossas melhores operações é a batata de contrato, para o fornecimento a grandes companhias, como Pepsico, McCain e Bem Brasil. É um negócio extremamente complexo, um setor que precisa importar semente, esfriar produtos, e por aí, mas para nós há uma boa agregação de valor”, afirma. “A gente prospecta esses nichos pujantes e tenta organizar para ter o melhor resultado.”

A cadeia do leite é outro exemplo semelhante. O Brasil produz 35 bilhões de litros de leite por ano, sendo o quarto maior produtor global. “Se eu conseguir financiar o produtor de leite para o laticínio, ele vai desenvolver mais produtores naquele raio próximo e o custo logístico vai cair”, afirma Cunha. “Nessa parte da cadeia do leite, ninguém tira leite para subsistência, nem é o leite para o queijeiro da rua ou da esquina. Normalmente, o produtor que tira leite fornece a um laticínio. E esses laticínios não são pequenos, são grandes empresas e se o produtor puder antecipar seu recebimento é um negócio ganha-ganha.”