“Esse resultado mostra que o desmatamento deixou de ser apenas um ponto de atenção para se tornar um balizador de decisões de negócio dentro de uma importante fatia do setor agroindustrial e florestal no Brasil”, explica Paula Bernasconi, coordenadora de incentivos econômicos para conservação no ICV (Instituto Centro de Vida) e líder de pesquisas na Coalizão Brasil.
O mapeamento indica, por exemplo, que os dados sobre desmatamento são consultados principalmente para implantação de novos negócios ou operações, representando 64% dos casos. Na segunda posição, está o monitoramento de fornecedores, com 36%. Já o monitoramento das áreas produtivas aparece em terceiro lugar, com 25% de atenção. Os entrevistados também mencionaram o uso dos dados para estimar emissões de gases de efeito estufa, analisar riscos regionais de desmatamento, construir argumentos de comunicação e elaborar cenários de expansão da soja e da pecuária.
“A diversidade nas finalidades de uso dos dados reforça a importância desse tipo de informação para o setor”, destaca Clarissa Gandour, coordenadora de avaliação de política pública de conservação do Climate Policy Initiative/PUC-Rio e também líder da pesquisa da Coalizão. E essa não é a única surpresa. A frequência de uso dos dados também representa um pilar muito importante. Um a cada quatro participantes relatou atenção diária aos estudos.
Embora o levantamento tenha revelado um cenário empresarial positivo, ainda há algumas dificuldades e dúvidas no uso dos dados ambientais. A dificuldade para obter informações sobre os ocupantes das áreas com desmatamento, a falta de atualizações e detalhamento dos dados e as dúvidas sobre sua credibilidade – devido ao risco de interferência política nos órgãos responsáveis – são as reclamações mais frequentes dos entrevistados.
“Parte das dúvidas identificadas no mapeamento, como aquelas referentes ao cruzamento dos dados de desmatamento com dados sobre outros temas, já podem ser abordadas com orientações específicas a esse público, seja via um material informativo ou oficinas de capacitação”, explica Clarissa. “No entanto, para solucionar outras questões, como as informações sobre os ocupantes das áreas, será preciso investir em ações de transparência”, completa Paula.
Na visão das pesquisadoras, esses temas são fundamentais para avançar na sustentabilidade das cadeias produtivas agropecuárias e florestais. Só assim é possível coibir a associação dessas empresas com práticas ilegais que prejudicam a imagem desses setores no país.
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