A descoberta foi revelada no artigo “Tracking the Impacts of El Niño Drought and Fire in Human-Modified Amazonian Forests” (Rastreando os Impactos da Seca pelo El Niño e do Fogo nas Florestas Amazônicas Modificadas Antropicamente, em português), publicado pela PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences dos Estados Unidos) na última semana. O estudo, conduzido por uma equipe internacional de cientistas no âmbito da RAS (Rede Amazônia Sustentável) – consórcio de pesquisa coordenado pela Embrapa e outras instituições nacionais e internacionais – e projetos parceiros, foi realizado antes, durante e depois da seca do El Niño em 2015 e no início de 2016.
“Nossos resultados destacam os efeitos enormemente prejudiciais e de longa duração que os incêndios associados a eventos climáticos podem causar nas florestas amazônicas, um ecossistema que não coevoluiu com a pressão do fogo e da degradação”, explica a cientista.
APENAS UM TERÇO DO CO2 EMITIDO FOI RECUPERADO
Ao examinar o epicentro amazônico do El Niño, no Baixo Tapajós, região da Amazônia oriental, os cientistas constataram que o dano à floresta dura por vários anos. Na prática, três anos depois da seca e em decorrência das queimadas na região, apenas cerca de um terço (37%) das emissões de gás carbônico foi reabsorvida pelo crescimento das plantas na floresta.
A bióloga Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, de Belém (PA), uma das autoras do estudo, explica que a floresta é um importante sumidouro (fonte de retenção) de carbono em situações normais. “O que faz a floresta ser uma fonte de emissões é quando ocorre degradação e o fogo”, comenta.
Ela ressalta, ainda, que de acordo com previsões climáticas, secas extremas se tornarão mais comuns e, até agora, os efeitos de longo prazo desses eventos na Floresta Amazônica, e particularmente nas florestas perturbadas com atividades como extração ilegal de madeira e queima, eram em grande parte desconhecidos.
PERDA DE ÁRVORES FOI MAIOR NAS FLORESTAS AFETADAS PELA AÇÃO HUMANA
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A perda de árvores nas florestas secundárias e em outras florestas afetadas por ação humana foi bem maior do que nas florestas primárias. Isso porque árvores e outras plantas com menor densidade de madeira e cascas mais finas são mais propensas a morrer com a seca e incêndios.
Os pesquisadores estimaram que cerca de 447 milhões de árvores grandes (com mais de 10 cm de diâmetro na altura do peito) morreram e cerca de 2,5 bilhões de árvores menores (menos de 10 cm de DAP) morreram na região do Baixo Tapajós. “A combinação de seca e fogo foi significativamente maior nas florestas modificadas por ações humanas. As emissões de carbono dessas florestas queimadas por incêndios florestais foram quase seis vezes maiores do que as florestas afetadas apenas pela seca”, afirma o professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster.
Para o professor Barlow, as descobertas destacam como a interferência humana pode tornar as florestas amazônicas mais vulneráveis e enfatizam a necessidade de reduzir a extração ilegal de madeira e outros distúrbios em grande escala, bem como os investimentos em capacidades de combate a incêndios região.
A pesquisadora Joice Ferreira diz que o país já tem tecnologia e soluções para prever secas e mapear riscos de incêndios a cada ano. “É possível elaborar mapas de riscos de incêndios com base nas condições meteorológicas e em vários dados facilmente acessíveis, inclusive por sensoriamento remoto, como densidade de pessoas, número de áreas agrícolas, tamanho de áreas desmatadas e outros”, afirma. Ela acrescenta, ainda, que esses mapas podem ser usados para fazer gestão dos riscos, com regras mais rígidas onde o perigo for maior.
“É preciso agir em diferentes escalas. Internacionalmente, precisamos de ações para enfrentar as mudanças climáticas, que estão tornando as secas extremas e os incêndios mais prováveis. Em nível local, as florestas sofrerão menos consequências negativas dos incêndios se forem protegidas da degradação”, conclui Barlow. (Com Embrapa)
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