Quando a usina de Marmelos começou a operar, em setembro de 1889, no município de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, não havia sequer conhecimento sobre o que hoje é o conceito de pegada de carbono. O projeto pioneiro – foi a primeira cidade do país a receber uma hidrelétrica de maior porte – surgiu para atender a uma região próspera que precisava se modernizar.
Rústicas aos olhos do século 21, as máquinas usadas na cafeicultura e no setor industrial em crescimento eram movidas a carvão e derivados de petróleo, insumos que elevam os custos de produção. Já as ruas tinham postes com lâmpadas a gás, que exigiam manutenção permanente.
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Esse protagonismo cresce com a guerra da Ucrânia, cenário que colocou a Europa diante de uma grave crise energética. Na avaliação de José Goldemberg, ex-ministro da Educação e professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), as incertezas com o fornecimento de petróleo e gás e a flutuação dos preços têm levado os países a um novo “nacionalismo energético”, numa tentativa de reduzir as importações.
“É nesse contexto que as energias renováveis contribuem, tendência da qual o Brasil está à frente da Europa”, afirma Goldemberg, que é também consultor da edtech +A Educação.
A menção à usina hidrelétrica de Belo Monte, que afetou os biomas do Médio Xingu, no Pará, é um dos problemas que precisam ser enfrentados para a expansão do sistema de hidrelétricas. As questões envolvidas vão além da ambiental e contemplam os outros dois pilares da agenda ESG: o âmbito social e a governança corporativa.
Esses foram os desafios da gigante global Engie, maior produtora privada de energia elétrica do Brasil, ao implantar o Projeto Novo Estado, sistema de transmissão localizado nos estados do Tocantins e do Pará. Foram investidos R$ 3,2 bilhões e instaladas 3.634 torres ao longo de 1.800 quilômetros que passam por 24 municípios.
Para atender aos preceitos sociais e ambientais, a Engie desenvolveu ações junto às comunidades do entorno, como incentivar o empreendedorismo e apoiar projetos educacionais. A empresa, que é líder em fornecimento de energia renovável no país, afirma ser “referência mundial em energia de baixo carbono e serviços”.
O futuro, no entanto, traz dúvidas. Rica Mello, especialista em gestão de negócios e CEO do Grupo BCBF, acredita que só as hidrelétricas não darão conta de toda a demanda em um cenário que inclui a massificação de carros elétricos, por exemplo.
“Estamos com sobra atualmente porque o Brasil teve um bom investimento de geração de energia hidrelétrica, solar e eólica nos últimos anos, enquanto a demanda não cresceu na mesma velocidade”, afirma Mello. “Houve quase uma década de baixíssimo crescimento e de perda constante do parque industrial, um dos grandes usuários da energia elétrica. Assim que o país voltar a produzir e ter crescimento do PIB, é natural que haja um maior consumo. E a saída para aumentar a capacidade da sua matriz energética será aumentar os projetos e o investimento em pequenas centrais hidrelétricas e em usinas de geração eólica e de energia solar”, completa o especialista.
*Reportagem publicada na Revista Forbes (que pode ser acessada no aplicativo ou no impresso) que integra o Especial ESG na edição 108.