Em maior ou menor grau, a palavra sustentabilidade entrou definitivamente para o dicionário corporativo. Apesar de ser “apenas” uma marca de moda fitness, a paranaense Alto Giro tem investido pesado para mostrar que dá para aliar práticas sustentáveis de consumo consciente com receita gorda — no ano passado, o faturamento ultrapassou a casa dos R$ 100 milhões e a expectativa é que a empresa cresça perto dos 20% em 2024.
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Enquanto grandes nomes do varejo como a Zara, Puma e Vert apostam em cobranças por sacola e reciclagem de materiais, a Alto Giro quer fazer a diferença a partir da construção de suas novas lojas, na fabricação de tecidos e até mesmo nas embalagens dos seus produtos.
Em entrevista à Forbes Brasil, Edson Recco Filho, CEO da Alto Giro, explicou a razão pela qual a marca optou por colocar a sustentabilidade em primeiro lugar desde 2021. “Esse avanço [na receita] mostra que responsabilidade ambiental e sucesso financeiro podem coexistir”.
Os planos otimistas de crescimento de receita são sustentados pela força duradoura do segmento de moda praia no país e pelo crescimento do mercado fitness. Em 2023, o setor movimentou R$ 12 bilhões, de acordo com o Fitness Brasil.
Apagando a pegada
Fundada nos anos 1980, a marca sempre investiu no segmento de beachwear e fitness. O setor, no entanto, carrega uma estatística incômoda. A indústria têxtil é uma das indústrias mais poluentes do mundo. Segundo a Global Fashion Agenda, mais de 92 milhões de toneladas de resíduos foram descartados nos últimos anos.
Pensando nisso, a experiência sustentável começa na construção das próprias lojas. Elas são feitas de materiais sustentáveis — isso inclui paredes, móveis, cortinas, forro acústico feito com garrafas PET recicladas e tinta mineral ecológica.
Na prateleira, uma das peças mais vendidas é a camiseta Dry, feita com poliéster reciclado, derivado de garrafas PET descartadas, que ajuda a reduzir resíduos em aterros sanitários e a diminuir a emissão de CO2. Além da preocupação com o material, a peça também possui uma certificação que garante que a malha tingida é segura para o consumidor e para o meio ambiente.
Outras iniciativas incluem o uso de algodão sustentável certificado pela BCI (Better Cotton Initiative). Segundo Edson, essa é uma forma de não só reduzir os impactos ambientais, mas também melhorar as condições de vida nas comunidades agrícolas.
“Estamos confiantes de que, ao focarmos nessas oportunidades, podemos elevar ainda mais nossos resultados e fortalecer nossa posição no mercado”, aponta o executivo.
Ao falar sobre estímulos pró-ambientais, Edson afirma que a Alto Giro conta com um terreno cedido pela prefeitura com o compromisso de “tutela” por três anos. No local já foram plantadas 500 árvores nativas e frutíferas, e eles seguem com a missão de cuidar desse espaço até o fim de 2024. “Cada uma foi plantada por um funcionário, e instalamos plaquinhas com seus nomes, criando um laço pessoal e ambiental”, diz.
A embalagem que envolve as roupas pode ser considerada a cereja do bolo. A Alto Giro está apostando na fabricação de uma sacola com polímero reciclado que utiliza menos energia e emite uma quantidade menor de gases do efeito estufa, estimulando a economia circular como forma de minimizar o impacto trazido pela indústria têxtil.
“Essa solução visa diminuir o desperdício e incentivar práticas mais sustentáveis entre os consumidores. Por exemplo, neste ano compramos quase 8 mil sacolas recicláveis, o que representa uma redução de 20% em relação à quantidade adquirida quando utilizamos sacos não recicláveis”, explica o CEO.
A aceitação positiva do público tem servido de incentivo. De olho em uma fatia de mercado que tende a crescer junto com as preocupações climáticas, a Alto Giro pretende criar cada vez mais uma experiência integrada e sustentável para o consumidor desde o momento em que entra na loja até a embalagem final.
Mesmo com um amplo portfólio de soluções sustentáveis, a Alto Giro não descarta novas iniciativas de moda circular até o fim de 2025.