Conheça a história da burrata, o queijo que veio da neve

15 de novembro de 2016

Divulgação

Uma forte nevasca abateu-se sobre a região de Puglia, na Itália, em 1956. As ruas das cidades ficaram cobertas por uma camada espessa de quase dois metros de neve, em temperatura inferior a 10 graus negativos, e uma violenta onda de frio que durou duas semanas. A origem era uma forte corrente de ar que vinha das regiões mais gélidas do continente europeu, principalmente do norte da então União Soviética, hoje parte do território da Rússia, entre as camadas mais próximas do Polo Norte concentradas na Sibéria.

Em consequência disso, o transporte em todas as regiões do país da bota tornou-se caótico, e a cidade de Andria, situada na faixa centro-sul do território italiano, ficou isolada. Com a crise de abastecimento e a falta de alimentos, coube a um cidadão, Lorenzo Bianchino, a invenção de algo que ajudaria a amenizar os efeitos da nevasca para, em seguida, tornar-se uma iguaria tipicamente italiana e admirada em todo o mundo.

Bianchino criou um frasco de queijo recheado de manteiga e stracciatella, um queijo filamentado com creme de leite ou de manteiga. Era uma intenção era reaproveitar resíduos de pasta cortada (sfilacci), que sobravam da fabricação de mozzarella. As trouxinhas formadas eram mais fáceis de carregar naquele inverno rigoroso. A consistência cremosa daquele queijo deu origem à manteiga especial daquele inverno — ou a burrata di Andria, como ficou conhecida.

A burrata consiste basicamente de uma mozzarella recheada com massa fresca e creme de leite, o que faz dela um derivado nobre entre os queijos de massa filada. A forma como é moldada lembra o tradicional queijo cacciocavallo, também de origem italiana, feito inicialmente com leite de jumenta e um dos principais alimentos do povo nômade.

O diferencial deste tipo de queijo é moldar a massa acidificada em água quente. Antes de fechá-las, o recheio de creme de leite fermentado é misturado com um pouco da massa fresca da mozzarella. Seu sabor é suave, extremamente fresco, acidulado e quando aquecida a massa derrete e forma fios.

As trouxinhas, 60 anos depois, permanecem como a forma mais tradicional e caseira de burrata. A exibida em formato de bolas geralmente é de origem industrial. É possível fazer, artesanalmente, 200 unidades em oito horas de trabalho de uma única pessoa. Depois de pronta, as trouxinhas são colocadas em tanques de água gelada para serem mais tarde embaladas em pequenos sacos plásticos.

Os caseifici, como os italianos nomeiam suas queijarias, são dominados hoje na região da Puglia pela produção deste queijo típico, que espera pelo selo de proteção europeu que reconheceria apenas esta região italiana como a produtora da verdadeira burrata di Andria — a exemplo do que acontece com os espumantes produzidos na região de Champagne, no nordeste da França, e que são os únicos autorizados a utilizar esse nome. Corato e Martina Franca são outros locais na região da Puglia que produzem a burrata original.

Uma tarefa impossível é visitar essa região italiana e não degustar a iguaria, acompanhada de presunto cru, tomates frescos e o friselle, uma espécie de torrada que é considerada o pão típico da região. Para beber, um espumante é mais indicado, ainda que um bom vinho tinto leve também seja uma boa ideia.

Veja três pratos fantásticos com burrata na galeria de fotos:

Divulgação
Divulgação
Divulgação