4 curiosidades sobre a vida de Pietro Maria Bardi, o homem que criou o acervo do MASP
Beatriz Calais
21 de fevereiro de 2020
Juan Esteves
Com sua memória visual fantástica para obras de arte, Bardi foi diretor do MASP por 45 anos consecutivos
No último ano do século 19, em 21 de fevereiro de 1900, Pietro Maria Bardi nasceu como uma representação dos avanços do próximo centenário. De uma comuna italiana chamada La Spezia, partiu para o mundo, mais especificamente para o Brasil, para se tornar um dos grandes educadores e jornalistas de arquitetura e arte da história.
Seu início estudantil poderia parecer preocupante. Repetiu algumas vezes o ensino básico antes de se formar. Mas nada prejudicou sua capacidade inata de se expressar por meio das palavras e de se posicionar sobre os mais variados assuntos. A escrita estava em tudo, até em sua participação no exército italiano, onde desenvolvia relatos e mensagens da luta armada.
Não demorou muito para que se tornasse jornalista. Falava sobre arte, política e arquitetura, e foi nesse cenário que conheceu sua segunda esposa, a arquiteta Lina Bo, com quem desenvolveu importantes marcos na cultura brasileira.
É difícil dizer se eles tinham alguma ideia do tamanho da influência que teriam no território brasileiro, mas a perspectiva de um cenário próspero e novo na arquitetura do país foi o que os atraiu para uma viagem tão longa. A Europa amargava uma lenta recuperação pós-guerra, enquanto a cena cultural ficava em segundo plano. Assim, em 1946, o casal decidiu fazer uma ousada investida na América do Sul.
Mas eles não partiram de sua terra natal de mãos vazias. Trouxeram para São Paulo um acervo com o qual o Brasil nunca tinha tido contato, uma significativa coleção de obras de arte. Exposições, galerias e bienais invadiram a província paulistana ainda tão acostumada apenas com a arte local. Foi o início da inserção do país no cenário internacional.
Na“Exposição de Pintura Italiana Moderna”, uma das tantas iniciativas culturais que a dupla implementou na cidade, Bardi e Lina Bo conheceram Assis Chateaubriand, o magnata das comunicações no Brasil. A união dos três intelectuais fez nascer algo que Chatô, como também era conhecido, já tinha idealizado há muito tempo: o Museu de Arte de São Paulo, mais conhecido como MASP.
De 1946 a 1947, São Paulo mergulhou na cultura. Em apenas um ano, as exposições de Bardi e o projeto do museu mudaram o rumo da arte no Brasil. Tempos depois, estudantes o encaravam como um tutor, um mestre da vida. E é dessa forma que o professor de história da arte do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Nelson Aguilar, ainda o enxerga.
Em 1965, aos 20 anos, o universitário Aguilar conheceu Bardi, com quem passou a conviver e a quem passou a admirar. “Ele era uma espécie de oráculo, alguém que enxergava o futuro”, revela. De aluno de mestrado a professor universitário, cresceu com essa influência e nunca deixou de valorizá-la, lançando um livro sobre o assunto em 2019 pela Editora Unicamp. A obra, intitulada “Pietro Maria Bardi – Construtor de um Novo Paradigma Cultural”, discorre sobre a vida do intelectual italiano com a propriedade do convívio e o embasamento dos estudos.
“Bardi me orientou. Eu estava fazendo meu mestrado e praticamente vivia no Museu da Avenida Paulista. Tínhamos liberdade para falar o que fosse com ele, de arqueologia a arquitetura”, lembra. Segundo o professor, o conhecimento de Bardi era tão vasto que seus alunos nem conseguiam extrair todo conteúdo que desejavam. “Nós nem sabíamos o que perguntar direito para ele, não tínhamos esse nível de informação de hoje em dia. Quando eu penso no tanto de conhecimento a mais que poderia ter obtido, coloco a mão na cabeça…”, desabafa com humor.
Mas o que Aguilar podia, absorvia. Graças ao contato estreito, conheceu as genialidades, generosidades e polêmicas de um Bardi “poliédrico”, como denomina, explicando que o estudioso tinha muitas facetas – do homem que queria democratizar a cultura ao curador acusado de fraude.
Na galeria abaixo, veja 4 tópicos sobre a vida de Pietro Maria Bardi que podem ajudá-lo a entender melhor quem foi essa figura histórica: