O impacto de adentrar um dos hotéis de arquitetura mais icônica de São Paulo, que completa 20 anos em 2022, tem sido experimentado por um número cada vez maior de paulistanos e paulistas. Impedidos de viajar além-mar por causa da pandemia, os moradores da capital e do Estado estão sentindo na pele por que o Unique já recebeu diversos prêmios internacionais que o colocam entre os melhores da América do Sul, bem como Top 10 entre os melhores hotéis de luxo do Brasil no Traveler’s Choice, do TripAdvisor – além de fazer parte da Legend Collection na Preferred Hotels & Resorts. Os novos hóspedes se encantam com o hotel da avenida Brigadeiro Luís Antônio, que ganha uma perspectiva muito diferente quando observada a partir do lobby, com as palmeiras enquadradas pelas paredes transparentes.
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O terreno onde subiu o hotel era estacionamento do restaurante francês Roanne, onde brilhava um dos chefs europeus mais cultuados no Brasil: Emmanuel Bassoleil. Victor, Jonas e Ruy eram frequentadores do Roanne e fisgaram o francês para montar as bases e tocar o que seria um dos restaurantes de maior badalação em São Paulo: Skye (homenagem à vocalista do Morcheeba, Skye Edwards), no topo do prédio, com uma vista espetacular dos Jardins, do Ginásio do Ibirapuera, do Parque do Ibirapuera e o skyline de arranha-céus da avenida Paulista, cintilante com suas antenas e o relógio do Conjunto Nacional. “O sucesso do restaurante foi imediato”, conta Bassoleil. “A expectativa no começo era de 130 pessoas por noite e começaram a aparecer 700. Virou um lugar turístico: quem tinha duas noites em São Paulo, ficava uma conosco, e a outra no D.O.M (do chef Alex Atala).”
MÚSICA DENTRO D’ÁGUA
Feito o check-in, hora de pegar o elevador e ir para o quarto. Bom, agora vai ser “normal”, certo? Não no Unique. O elevador e o corredor para chegar ao quarto também são uma viagem. É no elevador que você percebe a brincadeira de Ohtake com claro e escuro – ao sair do elevador escuro, o contraste com o claro aumenta o deslumbre do desembarque nos andares, no Skye e no Lobby. Já os corredores são cheios de curvas e diferentes em cada andar – os 94 apartamentos (de 36 a 312 metros quadrados) não estão espalhados de maneira uniforme entre o 2° e o 7° andares do prédio de oito pavimentos em formato de meia melancia. A luz que passa pelas janelas redondas cria manchas ovais, claras e dinâmicas no piso escuro dos corredores.
Comprovado o conforto das mobílias do quarto 203 e o prazer que é trabalhar em uma mesa tão extensa e única, parti para outro clássico do Unique: a piscina climatizada no subsolo, colorida pelas cores da bandeira nacional, com tobogã e sofás de concreto equipados com jatos massageadores. Tinha a informação de que “havia música na piscina”, entendi que era som ambiente, mas precisei mergulhar para compreender: você ouve música dentro d’água. A piscina tem mais um atrativo: teto vazado a céu aberto. Enquanto boiava ouvindo música, admirava nuvens brancas desfilando lentas pelo céu noturno paulistano, pontuado por parcas e valentes estrelas.
SKYE E PISCINA VERMELHA
Hospedar-se no Unique transforma a experiência de ir ao Skye. Sim, o restaurante é excelente em qualquer situação, mas viver o Unique antes de se deparar com o cardápio criado na ponta dos dedos por Emmanuel Bassoleil é outra história. No meu caso, a ocasião ficou ainda especial após uma massagem relaxante na Sala Spa Caudalie: 80 minutos – com direito a ventosas deslizantes pelas costas – sob os cuidados de Rosângela Anselmo, profissional que massageia o Balé da Cidade, no Theatro Municipal. Chá e docinhos no quarto embalam o fim de tarde emoldurado pela janela redonda.
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Wellington tem sangue hoteleiro por parte de pai (potiguar) e de mãe (baiana). Ambos deixaram a roça nordestina para tentar a vida na periferia de São Paulo, na década de 1970. O pai, Edmilson foi steward do Hilton e do Maksoud Plaza; a mãe, Miralva, camareira no Caesar Park. Desde o início da graduação em hotelaria na Universidade Anhembi Morumbi, Wellington estava decidido a alcançar a gerência de alimentos e bebidas – cargo que assumiu no Unique logo aos 23 anos. A rotina puxada de trabalho e estudos, morando no Jardim Guanhembu (extremo sul de São Paulo), fazia-o chegar em casa quase na hora de sair de novo. “Dormia sentado no sofá porque se deitasse na cama não conseguia levantar.” Com especializações no universo do vinho e MBA em Gestão de Hotelaria de Luxo, passou a priorizar viagens enogastronômicas aos principais produtores mundiais. “Aprendi com meu pai que tudo é possível. Procuro disseminar isso no meu time.”
O diretor geral explica que em tempos normais a receita do hotel é dividida em três fatias iguais: hospedagem, eventos e Skye. “Agora, na pandemia, o Skye representa 50%.” Com as restrições de horário no jantar para quem não é hóspede, os clientes estão sendo convidados a ficar no hotel – e tem gente aceitando. Em dois jantares, nem pestanejei na hora de escolher os pratos principais: Robalo Vapor ao creme de champanhe com purê de inhame e caviar, receita criada por Bassoleil em 1992 (“e quando tento tirar do cardápio até os garçons reclamam…”), e Risoto de Lagosta com camarão. Delícias.
Qualquer refeição, claro, é acompanhada por uma caminhada no rooftop do hotel, um mirante fantástico da cidade, sobretudo pelo que se vê no primeiro plano: a piscina vermelha de 25 metros, de Gilberto Elkis, que foi convidado por João Armentano para assinar o paisagismo do hotel. “A ideia da cor vermelha aconteceu em uma reunião”, conta Elkis. “Eu era fumante, olhei para meu maço de Marlboro e falei: ‘Vamos fazer uma piscina vermelha?’ E todo mundo concordou!”, completa sobre a piscina considerada ‘a melhor do mundo’ pela revista “Wallpaper”. “É um trabalho que me rendeu outros até no exterior: o príncipe do Marrocos, Moulay Rachid, esteve no Skye, adorou a piscina e me chamou para fazer uma casa de campo, em Casablanca.” É do paisagista também o Jardim Unique, uma selva de pedras formada pela carga de dez caminhões de mosaico português, poucas plantas e dois estreitos cursos d’água.
Na manhã do meu terceiro dia, após passar a noite na Suíte Paulista (outra com parede curva), horas antes do check-out, me pego hipnotizado pela janela redonda. O devaneio me leva para outra janela redonda, no Parque do Ibirapuera, a dez minutos de caminhada do Unique. Visito o parque numa manhã de quarta-feira, sol de maio, céu azul de doer a vista. Vou até a Oca e paro diante da janela redonda – uno as curvas de Oscar Niemeyer com as de Ruy Ohtake. Como é bonita São Paulo. Como um turista, retorno ao hotel fotografando o Ibirapuera como há anos não fazia. Hora de se despedir da janela da suíte e voltar a admirar a arquitetura externa do Unique. Mas, agora, com outros olhos.
Conheça os ambientes do hotel Unique citados na reportagem na galeria a seguir:
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