Mal cheguei, nem pus o pé na sala, e já fico encantado pelo Loft Bom Jardim, com 400 metros quadrados e três suítes (uma máster, e todas com vistas espetaculares), uma antiga casa de barcos do Sítio Villa Bom Jardim, outro lugar cinematográfico (em vários sentidos), de sete suítes, da empresária e decoradora “de alma caiçara” Sandra Foz, proprietária da Pousada do Sandi (casarão do século 18, Casa da Moeda no Ciclo do Ouro, um dos endereços mais famosos do Centro Histórico e o primeiro hotel de luxo da região desde a década de 1980), que tem como braço direito e administrador do local o filho Sandi Adamiu.
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A família baixou âncora no local na década de 1960. Foi Jamil, pai de Amyr Klink, quem apresentou o terreno à venda do Sítio Bom Jardim para Joviro Foz, pai de Sandra. Conheceu e comprou na hora. Na década de 1980, Sandra conheceu Alexandre Adamiu, empresário e dono da Paris Filmes. Ela apresentou Bom Jardim a Alexandre, que passou a tê-lo como segunda casa (quem tem idade de ter assistido VHS se lembra da propaganda da Pousada do Sandi no começo das fitas). Estão no quintal da casa até hoje as duas réplicas de gorilas usadas na divulgação do lançamento de King Kong no Brasil.
A decoração atual do Loft Bom Jardim mescla litogravuras de aves e plantas da Mata Atlântica, móveis contemporâneos, peças e estampas náuticas, com destaque para objetos indígenas de caça e pesca. Por onde quer que se ande pela casa, sobram enquadramentos lindos pelas amplas janelas. Para ir até a casa principal há uma trilha – mas dá para ir nadando, também. A dica para o primeiro reconhecimento das redondezas é remar de stand up paddle ou caiaque.
Centro histórico
Sandi, hoje, além administrar a ampliação da pousada, consolida outros endereços que formam um circuito irresistível no piso pé de moleque que tanto faz tropeçar em Paraty. Por isso, atenção ao sair de uns drinks (ótimos) no balcão de 12 lugares do ambiente avermelhado e tentador do Apothekario, inaugurado em dezembro de 2020. Dois quartos da pousada foram transformados em um bar que também chama atenção pelo corredor anexo, que funciona como uma galeria de arte, com cópias de litogravuras dos séculos 18 e 19. Na sequência, com um cardápio inspirado em tradições antigas da Sicília, o chef Pippo comanda o restaurante homônimo, destaque da gastronomia da cidade, com pratos divinos que misturam massas e frutos mar frescos. A pegada italiana segue na Gelateria Miracolo.
Projeto que faz brilhar os olhos de Sandi – e do maestro Weslem Daniel de Freitas, de 33 anos – é a formação da Orquestra Municipal de Paraty, com 60 músicos entre 13 e 17 anos. “Conseguimos R$ 100 mil para compra dos instrumentos”, celebra Weslem. Na pousada, formações com poucos músicos se revezam em pequenas apresentações de dançarinos do Educar pela Dança, outro projeto apoiado pelo empresário.
Saindo de carro do centro, no sentido das cachoeiras na serra, uma visita muito especial à Fazenda Bananal, do século 17, em um terreno de 180 hectares, com 70% de Mata Atlântica preservada. Observação de pássaros, agrofloresta, horta, queijaria, pomares, trilhas e um restaurante que valoriza cada folha local, graças a uma profunda pesquisa sobre pancs (plantas alimentícias não convencionais). Lugar para comer devagar – e muito bem. Na saída, pit stop mais do que providencial no Alambique Paratiana, com um tour pela produção, seguido de degustação, além de um museu com 5 mil tipos de cachaça do Brasil.
Reportagem publicada na edição 93, lançada em janeiro de 2022.