“Amava ir às lojas de tecidos, imaginar as roupas sendo construídas. Foi aí que minha paixão pela moda nasceu. Ficava na fila, olhando o estilista que trabalhava para a loja. As mulheres compravam tecido e já pediam um desenho. Ele fazia coisas espetaculares. Depois, em casa, fazia os meus primeiros desenhos. Quando voltava na loja, conversava com o estilista, dava ideia, mudava o que ele estava fazendo, sugeria encurtar o vestido…”, lembra.
O roteiro deste filme, porém, não levou a protagonista direto aos holofotes da moda. Outras ideias povoaram a mente da jovem mineira. “Sonhava em ser médica. Cheguei a me formar em patologia clínica, mas no estágio percebi que meu emocional me impediria de seguir na profissão. Me envolvia com os pacientes.”
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A próxima curva do destino levou Patricia ao Direito. “Após a medicina, a vontade de ser juíza prevaleceu. Sempre gostei do senso de justiça e da argumentação.” Trancou o curso na Universidade Federal de Uberlândia aos 19 anos, ao decidir viajar para o Japão com um colega de faculdade, Luiz Moraes (o conheceu no casamento da melhor amiga) – seu marido até hoje.
“Passamos três anos lá, foi muito engrandecedor. Trabalhávamos em uma fábrica de componentes eletrônicos – eu, 12 horas por dia; ele, 15. A gente já foi sabendo que voltaria ao Brasil para abrir nosso negócio. Esta vivência no Japão foi uma das experiências mais transformadoras da minha vida. Aprendi sobre disciplina, determinação e planejamento – e a acreditar no meu potencial.”
O plano anterior à temporada japonesa – viveram em Harajuku, bairro que transpira moda em Tóquio – foi cumprido à risca. Ao retornar a Minas Gerais, começaram uma história que completou 20 anos. A continuação deste longa-metragem agora mira cenas em locações cada vez mais internacionais.
Forbes: Como a marca evoluiu nesses 20 anos?
Patricia Bonaldi: Em 2002, a marca nasceu com o nome Patricia Bonaldi. O nosso foco era o mercado de festa, vestidos bordados. Dez anos depois, em 2012, surgiu a PatBO, que veio a partir do meu desejo de ingressar no mercado casual. Mantivemos o nosso principal valor, o handmade, levando o bordado, a alfaiataria e a estamparia feita à mão para um lado mais experimental e ousado. Hoje, acredito que nosso principal diferencial é oferecer uma coleção ampla, transitando por evening, jeans, casual e beachwear. Ano passado, tivemos resultados fantásticos nas vendas globais para o atacado da PatBO, além do e-commerce internacional, que cresceu 265%. Tudo isso sem investidores ou um grande grupo por trás.
Quais as principais metas da marca em 2023?
No Brasil, temos 10 lojas próprias: queremos chegar a 20 em três anos. Mas o foco é a expansão do mercado internacional. Estamos presentes em mais de 25 países, em 250 pontos de venda. Hoje os Estados Unidos são nosso maior mercado. Além do e-commerce, abrimos uma loja há um ano e meio no Soho (NY). No segundo semestre, vamos abrir uma segunda loja no país. Na Europa, contratamos direção comercial em Lisboa, nosso ponto logístico de distribuição do e-commerce. Será assim daqui pra frente: vamos mapear mercados específicos e ter uma operação no local. A longo prazo, quero atuar no mercado asiático. Sei que é super difícil, mas pra mim não existe ‘impossível’ – esta palavra é sinônimo de ‘desafio de grau máximo’.
Como criou o seu primeiro vestido?
Em 2002, abri uma loja multimarcas. Muitas clientes, no entanto, se interessavam pelo vestido que eu estava usando – peças que tinha desenhado para mim, e dizia que não tinha outra pra vender. Até que um dia, uma cliente insistiu, disse que eu precisava começar a fazer para as clientes. Naquele dia, pensei: ‘Bom, então, vamos lá!’. Topei o desafio. Falei para ela que faria, e ela me deu a liberdade de criar o que quisesse. Fiz um vestido preto mídi de cetim. A partir daí, tudo mudou. Foi quando trouxe a minha visão e minhas roupas que o negócio mudou de direção, começou a crescer e explodiu.
Com o aumento da demanda, quem te ajudou?
Como é a sua rotina?
Para aguentar tudo isso, tenho um ritmo fora do normal. Quando saio do Fashion Week de Nova York, entro em outra maluquice: construção de coleção, gestão da empresa, direção… Mas, pela primeira vez, estamos criando cadeiras de diretores nos próximos meses. Isso vai me deixar mais focada em produto, estratégica e marketing. Temos a Fundação Dom Cabral, que nos ajuda com gestão e governança. Sou muito disciplinada. Tenho duas casas: em Uberlândia e São Paulo, e a rotina é a mesma. Acordo 6h30, malho 7h30, café da manhã e vou trabalhar. Durmo entre 22h30 e 23h da noite. Dentro do caos há uma rotina que faz as coisas acontecerem.
Quais são os prós e contras de trabalhar com o marido?
Luiz é muito visionário. Ele é administrador financeiro, responsável pela estratégia, além de liderar a operação nos Estados Unidos. Ele criou o nosso conselho. Mas não romantizo o trabalho com o marido. A gente se potencializa juntos, temos objetivos em comum, mas tem todo um desgaste… Já fomos desafiados, e agora estamos mais tranquilos quanto a isso – fomos lapidados como profissionais e como casal. O importante é saber valorizar o espaço de cada um, com respeito mútuo.
Vale falar de trabalho em casa?
A gente procura não falar. Mas, quando alguém traz no automático, a gente tem o direito de vetar: Não, isso agora não.
Consegue tirar férias?
Que importância você dá a uma boa alimentação?
Cuido muito. Não vivo em dieta, mas me alimento muito bem. Meu maior luxo é almoçar em casa, comida é orgânica, homemade. Arroz, feijão, carne e vegetais. Nada de fritura, de gordura. Saudável e simples, esse é meu jeito de viver. Bem mineirinha! (risos). Se estiver bem alimentada, e dormido bem, sou uma máquina.
O que gosta de fazer quando não está trabalhando?
Pensa numa coisa que eu amo na vida? É a minha cachorra, a Ticha (Yorshire, 13 anos). Todo dia ela almoça, dorme comigo, passeamos… Ela é o meu bebê! (risos) Eu também toco piano. Adoro música. Estudei desde os 9 anos, Bach, Mozart… Em Uberlândia, tenho piano; em São Paulo, um órgão. Ouço Gilberto Gil, Caetano Veloso, Bethânia, amo Cazuza. Gosto muito de ler, empreendedorismo e ficção científica. E, apesar de curtir coisas analógicas, gosto de tecnologia.
Tem alguma lição que pode compartilhar após empreender por 20 anos?
Aprendi que liderança é sobre se adaptar aos novos contextos e, principalmente, ser agente da transformação. Um dos meus maiores aprendizados nos últimos anos foi com a gestão de pessoas. Uma das soluções para a empresa, que se apresentou como divisor de águas, foi trazer uma consultoria de negócios e implementar um plano estratégico de crescimento para reorientar a bússola do nosso business. Se não há como contratar uma consultoria, a mensagem é gestão, desde o primeiro dia. E um bom RH.