Individual de Abraham Palatnik, artista e artesão, começa em São Paulo

9 de novembro de 2023
Foto: Vicente de Mello

Abraham Palatnik em retrato de Vicente de Mello

De origem judaica, Abraham Palatnik (1928-2020) nasceu em Natal e estudou em Tel Aviv antes de se fixar no Rio onde viveu e produziu sua obra aclamada na cena internacional entre as pioneiras da arte ótico-cinética ocidental. Baseada no tripé, movimento + efeito ótico + participação do espectador, sua linguagem artística reúne códigos da arte abstrata, geométrica e concreta.

Com curadoria de Agnaldo Farias, “Abraham Palatnik – Outros Ritmos,” a partir de sábado (11) na sede da Galeria Nara Roesler na avenida Europa, apresenta 30 obras inéditas de 1950 a 2015 deste mestre da arte brasileira falecido no Rio, aos 92 anos, vítima de Covid.

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Conheço Palatnik desde 1989. Fui apresentada a ele pelo crítico Frederico de Moraes. Fiquei encantada, tão simples, tão genial! Na época, ele havia diminuído muito sua produção de arte, pois a vida o obrigara a assumir a direção artística da fábrica de resina que tinha em sociedade com o irmão no Rio. Estava recolhido em seu apartamento, dando para a magnífica vista da baía de Guanabara e do Pão de Açúcar, sem expor sua obra singular há muito tempo, após receber todas as honrarias em 1951, na primeira Bienal de São Paulo, e depois na Bienal de Veneza, e se apresentar em várias galerias na Europa.

Veja algumas obras de Abraham Palatnik:

Abraham Palatnik, Lúdico L-5, 2006.
Abraham Palatnik, Sem título, 1995
Abraham Palatnik, Sem título, detalhe, 1960

Minha missão, naquele momento, era dar visibilidade à sua produção artística, primeiramente, organizando uma mostra retrospectiva em nossa galeria de São Paulo e, em seguida, batalhar para inseri-la em importantes coleções particulares no Brasil e no exterior, bem como nos acervos de museus como o MoMA de Nova York, o Tate de Londres e outras instituições de relevância internacional.

Com a estratégia traçada, tive a honra de visitar o ateliê em seu apartamento várias vezes. Que experiência incrível! Pouco a pouco, o apartamento amplo foi tomado pelo ateliê de artista. Começara modesto no quartinho dos fundos, mas foi indo até invadir a sala de estar com a vista para o Rio, que tanto o encantava. No final, de habitável, mesmo, só restara seu quarto de dormir. Por todo canto gaveteiros com uma profusão de roscas, parafusos, motores, lâmpadas. Prateleiras com furadeiras, serras, laser. Na sala, sobre a grande mesa de trabalho, vidros com pincéis, tintas de todas as cores, e a grande tela da sala, a inspiradora vista do Rio de Janeiro, paisagem que muitas vezes vejo representada em suas pinturas. O espaço era um mergulho em seu mundo, em sua cabeça. Tive momentos memoráveis com Palatnik, ele falando sobre sua arte, sua técnica, seus desafios, contando sobre suas frustrações, sua filosofia de vida. E, como se não bastasse, era um verdadeiro gentleman. Ficamos bons amigos.

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Artista/artesão/inventor, Palatnik foi um criador no sentido puro da palavra. Jamais teve assistente. Da ideia à finalização, produziu tudo com suas próprias mãos. Era um de seus prazeres, talvez, seu maior orgulho. Somente quando o laser foi comercializado que essa tecnologia de ponta passou a auxiliá-lo na produção das ripas estreitas e finas que criam as texturas onduladas e provocam o efeito cinético característico de suas pinturas.

Não há quem não fique boquiaberto de admiração com a técnica que ele próprio inventou. Imagine só o trabalho que dava para concluir cada tela! Com espessura de alguns milímetros, cada ripa era cuidadosamente serrada, polida, pintada e precisamente disposta lado a lado, uma a uma, sobre sua mesa de trabalho até chegar ao efeito ótico-cromático que ele inventara, personalíssimo, amazing, como dizem os americanos. Alguns, mais sensíveis, definem esse efeito único nas telas de Palatnik como “musical”.

Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) cynthiagarciabr@gmail.com

Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.

info@nararoesler.art
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/