Cinco lições de Zagallo para o mundo dos negócios

6 de janeiro de 2024

Zagallo comparece à inauguração de estátua em sua homenagem no Rio de Janeiro, em outubro de 2022. Foto: Reuters

Mário Jorge Lobo Zagallo, que faleceu na sexta-feira (5) era quase um sinônimo de futebol. Único técnico tetracampeão do mundo, e um dos três jogadores profissionais a ser campeão mundial no campo e treinando a equipe (os outros dois são o alemão Franz Beckenbauer e o francês Didier Deschamps).

Zagallo teve uma longa carreira no esporte. Foram 16 anos como jogador profissional, no Flamengo, no Botafogo e na Seleção Brasileira, e quatro décadas como treinador. Dirigiu as principais equipes do Rio de Janeiro e as seleções do Kuwait, dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita.

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Em sua trajetória, Zagallo deixou várias lições valiosas para o mundo dos negócios, que podem ser aproveitadas por empresários e empreendedores.

1) versatilidade

Zagallo fez fama no futebol. Porém sua vida esportiva foi além dos gramados. Também foi um ativo jogador de vôlei de praia. E bem no início de sua carreira, na década de 1950, ele se arriscou na natação e no tênis de mesa pelo América, time do coração onde começou a jogar, ainda nas categorias infantis. Segundo a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Zagallo chegou a ganhar medalhas em competições estaduais.

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2) agilidade

O Brasil era um país com poucos diferenciais nos anos 1950 e 1960. Daí a importância do futebol: era o único elemento em que o País conseguia brilhar. A conquista das Copas de 1958 na Suécia e de 1962 no Chile trouxe uma aura de invencibilidade nos campos. Por isso, a eliminação na primeira fase no torneio de 1966, disputado na Inglaterra, foi tratada como uma catástrofe.

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Na Copa seguinte, disputada no México em 1970, Zagallo foi convocado apenas dois meses e meio antes do início do torneio. Aos 38 anos, ele era considerado jovem e inexperiente. Mesmo assim, em pouco tempo, montou aquela que é considerada a melhor seleção da história de todas as Copas e conquistou o almejado tricampeonato mundial.

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3) motivação

O zagueiro Ricardo Rocha, que integrou a Seleção campeã de 1974, publicou um depoimento emocionado em suas redes sociais ao comentar a morte do técnico. “Zagallo pra mim não foi só o que vocês conhecem, o que vocês viram na tv ou na imprensa, ele salvou minha carreira quando eu pensei que estava tudo acabado. Ele me disse que acreditava em mim e que se eu também o fizesse, todos me seguiriam”, escreveu Rocha. “Eu era só um menino chorando no chuveiro, ele viu O CAPITÃO, O XERIFE e a força que impulsionaria uma Seleção.”

O colega Carlos Alberto Parreira, que dividiu o comando com Zagallo em 1994, tem a mesma opinião. “Zagallo sempre soube extrair o melhor de cada atleta. Em suas preleções, esbanjava confiança e serenidade. Não precisava alterar a voz. Todo mundo o respeitava. Ele me influenciou muito. Não teria sido treinador se não fosse por ele.”

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4) aceitação na mudança

O treinador comandou uma Seleção mais fraca na Copa do Mundo de 1974, disputada na Alemanha, em que o Brasil terminou em quarto lugar (o anfitrião foi o vencedor). Houve vários problemas. A qualidade técnica da equipe era inferior à do time da Copa anterior. E houve mudanças táticas no futebol. Foi a estreia do “carrossel holandês”, estilo que a equipe liderada por Johan Cruyff usou para chegar ao segundo lugar – a Alemanha venceu por 2 x 1.

Desgastado, Zagallo deixou a Seleção e o País. Em 1976, foi treinar a seleção do Kuwait e praticamente inaugurou o mercado do Oriente Médio para os profissionais brasileiros do futebol, tanto jogadores quanto técnicos. Nos anos seguintes ele ainda treinaria as seleções da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.

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5) reinvenção

Zagallo deixou o futebol de vez – como jogador, treinador ou comentarista – em 2007. Ele comentou sobre o estranhamento com a rotina de aposentado. “Ainda não me acostumei. Estava habituado em sair de casa todos os dias, ser cobrado e elogiado nas ruas.” Mas ele mostrou que era importante manter a motivação. “Agora tenho que arrumar coisas para gastar o tempo”, disse.

Nos anos seguintes, ele se dedicou com afinco a outro esporte que já praticava, a bocha. Trazida ao Brasil pelos imigrantes italianos, o esporte é praticado em canchas de terra batida. Por ser um esporte leve, é adequado para praticantes de todas as idades. Aposentado, o treinador passou a disputar partidas, sempre levadas a sério. Em uma entrevista, concedida quando da aposentadoria, aos 75 anos, ele falou dos adversários, todos maduros como ele: “eu, já idoso, estava viajando e trabalhando com a Seleção e eles já jogavam. Por isso estão num patamar acima do meu. Mas logo estarei no topo”.

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Perto dos 90 anos, Zagallo se rendeu aos encantos do mercado publicitário. Em 2020, ele estampou o lançamento da camisa da Seleção Brasileira, inspirada no time tricampeão mundial, em 1970. E sua fixação pelo número 13 lhe garantiu convites para campanhas publicitárias da operadora de telefonia Vivo, que usava esse código.

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