Os números são impressionantes por qualquer prisma. São 770 milhões de visualizações nas plataformas de streaming desde o ano passado. US$ 100 milhões (R$ aproximadamente R$ 500 milhões) arrecadados por meio de um financiamento coletivo, 12 milhões de seguidores nas redes sociais e mais de 200 milhões de espectadores pelo mundo. Tudo registrado na página de relações com investidores da empresa.
Poderíamos estar falando de uma companhia em franca expansão. Mas esses dados pertencem à série de TV “The Chosen”, ou “Os Escolhidos”, em português. Trata-se de um drama histórico sobre a vida de Jesus Cristo e de seus discípulos. A 4ª temporada estreou nos cinemas do Brasil na semana passada – quando o ator Jonathan Roumie, que interpreta Jesus, recebeu a Forbes Brasil para uma entrevista exclusiva.
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Em apenas dois dias de exibição, 100 mil expectadores brasileiros assistiram aos dois primeiros episódios, que ficaram em primeiro lugar nas bilheterias do país. “The Chosen” começou a ser filmado em 2018, quando o diretor norte-americano Dallas Jenkins ainda fazia filmes religiosos para sua igreja evangélica, em Elgin, Illinois. Foi em um desses filmes que ele conheceu Jonathan Roumie.
Dallas queria dar uma roupagem às produções bíblicas mais sofisticada, com cores de cinema. Tentou o crowdfunding, 16.000 investidores – que podem participar como figurantes – e US$ 10 milhões (R$ 50 milhões) depois, começaram as filmagens em 2019. Inicialmente, seriam 4 episódios. Mas 4 anos depois, a série já teve 3 temporadas e está totalmente financiada para 7 temporadas, com R$ 500 milhões. O segredo? O ator Jonathan Roumie irá nos contar.
Quem é Jonathan Roumie
Jonathan chega à sala da entrevista no hotel Rosewood, em São Paulo, de maneira tímida. Logo nota que meus braceletes possuem contas que formam um terço (instrumento de reza católico). “É lindo, deixe-me ver?”. E foi assim que ele demonstrou a importância da fé em sua vida, para além do personagem.
O ator, de 49 anos, nasceu em Nova York. Seus pais são do Egito e Irlanda. Foi batizado na igreja greco-ortodoxa e cresceu como católico romano e desde cedo tinha inclinações para artes. Além de ator, é dublador, produtor, diretor. Fez faculdade de cinema e trabalhou por 14 anos como buscador de locações para filmagens. Não queria colocar o rosto em frente às câmeras. Preferia a dublagem.
Mas após os 30 anos de idade, fez um teste de vídeo e passou. Mudou-se para Los Angeles para tentar a carreira de ator – e fez pontas em séries como Chicago Med, Castle e The Good Wife. No entanto, após 8 anos nas cidades dos anjos, mal conseguia sobreviver. Trabalhou como motorista de aplicativo, zelador de prédio, garçom em eventos. Até que, segundo ele, em 2018, teve uma profunda conversão ao catolicismo. Alguns meses depois, estava iniciando as filmagens de “The Chosen”, aos 44 anos, dando, como disse, humanidade a um personagem tão icônico. A seguir, a entrevista completa.
Forbes: O Brasil é o maior país católico do mundo e a população de várias denominações evangélicas também tem crescido muito. E é o segundo país, atrás dos Estados Unidos, que mais assiste ao “The Chosen”. Você conseguiu sentir essa abertura dos brasileiros para o cristianismo e fé?
Jonathan Roumie: Eu senti isso antes mesmo de chegar aqui. Acho que a qualquer momento posso entrar online e fazer uma transmissão ao vivo e terá muitos brasileiros. É visível a paixão por Deus que vem do povo brasileiro. E isso é ótimo e sinto que há uma fome por Jesus que vemos crescer no mundo e especialmente fervoroso por aqui.
Forbes: Gostaria de falar sobre a liderança de Jesus. Temos muitos leitores que são líderes em suas empresas, tomadores de decisão. Há algum ensinamento que você destacaria?
Jonathan Roumie: Ele era tudo sobre verdade e autenticidade, a verdade de Deus manifestada em seu povo e nas pessoas que o seguiram. Ele não tinha medo de ser sincero com as pessoas, às vezes quando isso não lisonjeava seus egos ou isso meio que iluminava coisas que precisavam ser mudadas, coisas que precisavam ser consertadas, coisas que foram feitas para reparar a alma primeiro.
E então todo o resto viria a seguir. E o foco dele estava nas pessoas. Na época em que ele veio os líderes religiosos e os professores estavam muito comprometidos e obcecados quase pela lei às custas dos corações das pessoas. Ele não queria que as regras substituíssem o cuidado com as pessoas.
Forbes: Você tem vários talentos, desenha, toca bateria, dubla, escreve, produz, dirige, atua, dança.
Jonathan Roumie: Danço?
Forbes: Sim, li que você fez o primeiro teste para atuação em vídeo e foi preciso dançar. E você passou, então deve ter dançado bem.
Jonathan Roumie: Acho que teve mais um efeito cômico, mas sim, posso dizer que sim.
Forbes: Então o que quero perguntar é como foi o caminho para descobrir todos esses talentos, desde pequeno e como você desenhou o que poderia ser levado como carreira ou como brincadeira somente?
Jonathan Roumie: Uma das minhas primeiras lembranças foi quando entrei no jardim de infância, com cerca de 5 anos de idade. E quando chegou a hora de começarmos a pintar, aconteceu de eu pintar algo que para uma criança de 5 anos aparentemente parecia meio avançado. Eu tenho herança egípcia. Meu pai é do Cairo e então eu cresci com aquelas imagens em casa e pequenas estátuas e coisas de camelos e pirâmides e esfinges e esse tipo de coisa.
E então, pelo que me lembro, pintei este camelo que parecia um camelo. E minha professora de jardim de infância ficou aparentemente tão impressionada que decidiu me levar para o corredor onde estavam as crianças mais velhas, me levou até a professora de artes da escola. Então eu acho que naquele momento eu sabia que eu tinha dons diferentes dos de outras pessoas da minha idade e no meu caso era com pintura e desenho e assim começou.
Aí e eu realmente me concentrei nisso durante toda a escola e isso meio que se espalhou por outras coisas e eu descobri a música bem cedo e comecei a ter aulas de bateria na escola quando tinha cerca de 11 anos e descobri que sabia tocar bateria e quando entrei no ensino médio essas foram as duas coisas em que me concentrei: arte e música e para mim também foi uma maneira de canalizar minhas energias e canalizar minha estranheza e ansiedade social. Você não sabe o que isso vai traduzir quando adulto. Mas acabou sendo, você sabe, profético o suficiente para que hoje seja assim que eu ganho a vida, como artista.
Forbes: Mas você não queria aparecer nas câmeras, ficou sendo somente dublador por um tempo e antes disso trabalhava na produção.
Jonathan Roumie: Eu nunca quis estar na frente das câmeras. Como artista, isso me apavorava. Eu fiz algumas aulas de atuação na faculdade e pensei que não queria ser visto na câmera. Nunca quis perder minha privacidade. Então a dublagem seria ótima. Acho que é provavelmente por isso que tudo isso aconteceu muito mais tarde na vida.
Quer dizer, quando fui escalado para o “The Chosen”, eu tinha 44 anos e raramente isso, toda essa experiência quase nunca acontece nesta fase da vida de uma pessoa. E então acho que era óbvio que eu precisava desse tempo para estar preparado, para estar pronto, para ter maturidade suficiente para lidar com tudo o que viria com a responsabilidade de desempenhar esse papel.
Forbes: Você aos 11 anos, após assistir ao filme Jesus de Nazaré, de 1977, construiu uma cruz de madeira, pintou com tinta vermelha e carregou pelo seu jardim. O que os vizinhos disseram? Era um prenúncio do que viria 30 anos depois com você interpretando Jesus em vários projetos?
Jonathan Roumie: É olhar para trás e ver as pequenas sementes que Deus plantou dentro de mim desde muito cedo, quando criança. E para mim era apenas eu brincando, foi completamente normal, embora olhando depois, algo como carregar uma cruz no quintal quando tinha 11 anos, geralmente não seja uma coisa normal para uma criança fazer isso.
Forbes: Essa nova temporada, a 4ª da série, é bastante pesada, Jesus está cada vez mais desagradando os governantes e religiosos da época e os discípulos com muitas dúvidas. Como foi para você como ator?
Jonathan Roumie: Sim, definitivamente houve cenas em que disse que não tinha certeza de como fazer. Há tanta coisa acontecendo e há os personagens equilibrando sua humanidade com sua divindade e tentar encontrar esse equilíbrio perfeito pode ser difícil. Eu sabia que seria uma temporada difícil e pesada, e foi, mas acho que também rendeu muitos momentos lindos na história. Eu me senti muito abençoado por podermos retratar isso.
Forbes: Quais os desafios de ser um seguidor de Jesus na vida real?
Jonathan Roumie: Acho que sempre que você se aproximar de Deus e de Jesus, você será testado. Você será testado por coisas que talvez não tenha sido testado antes. As coisas que você costumava fazer, não deseja mais fazer. Mas de repente será como uma voz que começa a gritar para você prestar atenção naquela distração.
E acho que quando isso acontece, você sabe que está no caminho certo. Quando você encontra aquelas distrações gritando com você que agora você está ignorando ou talvez não tenha ignorado há cinco meses, agora você pensa, o que eu estava pensando? Não preciso mais fazer isso. Não tenho mais interesse nisso. Então as vozes tentarão gritar com você e convencê-lo de que você tomou a decisão errada.
E nesses momentos você tem que parar e dobrar a oração e pedir ajuda a Deus e reconhecer que você precisa de ajuda e que aquela coisa que talvez uma vez tenha controlado ou afetado você de tal maneira que você não lhe dá mais nenhum poder.
Forbes: Bem, vamos pular para 2027, final da última temporada da série, a 7ª temporada. O que você vai fazer, além de cortar o cabelo e a barba e ir descansar numa praia do Brasil?
Jonathan Roumie: Risos. Eu descansaria um pouco, posso simplesmente ficar fora da rede por alguns meses, simplesmente não fazer nada. Tomar café brasileiro.