São Paulo não dorme jamais. Capitaneado pela trinca Filipe Assis, Claudia Moreira Salles e Kiki Mazzucchelli, a terceira edição anual do ABERTO3, que leva obras de artistas a casas com arquitetura de excepcional qualidade, este ano, abriu ao público as residências de Tomie Ohtake e da arquiteta Chu Ming Silveira, exemplos estelares da arquitetura da Escola Paulista Brutalista. Esta edição, que teve o prazo estendido até 6 de outubro, é muito significativa por homenagear duas mulheres orientais, imigrantes, batalhadoras, já falecidas, que alcançaram sucesso do outro lado do planeta, bem longe de suas terras natais com culturas tão distintas da nossa.
A casa no Real Parque, projetada nos anos 70 pela arquiteta Chu Ming Silvera para sua família, é um manifesto brutalista no seio da arquitetura brasileira. Em suas paredes de concreto estamos expondo obras de nomes de nossa galeria como Abraham Palatnik, Amelia Toledo, Laura Vinci e a norte-americana Sheila Hicks, e também penduramos um pêndulo de Artur Lescher. Chu também se dedicou ao design de mobiliário (alguns exemplos expostos na casa) mas foi ao design urbano brasileiro que a profissional nascida em Shanghai deixou seu maior legado. Em 1972, criou o icônico Orelhão, que sem ele o Brasil de norte a sul não sobreviveria. Antes do advento do celular, quem nunca falou do orelhão?
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Confesso o meu afeto especial pela casa-ateliê de Tomie Ohtake, projetada em 1968 no Campo Belo por seu filho mais velho, o arquiteto Ruy Ohtake, que também fez a minha. Nesta casa térrea com suas curvas em concreto em diálogo com a obra de Tomie, o belo jardim com a piscina, centralizam todas as atenções. Para lá levamos algumas telas de Tomie de nosso acervo e obras do paulista Bruno Dunley, Fabio Miguez, Maria Klabin e Daniel Senise.
Como homenagem a Tomie, pedi a meu querido amigo Ricardo Ohtake que escrevesse umas palavras sobre este lugar único, marco da arquitetura residencial da América Latina, onde passei momentos deliciosos com a artista e sua família: “Quando perguntavam à Tomie se ela não tirava férias, ela respondia que não podia perder tempo e precisava trabalhar, depois, completava: ‘Não preciso viajar, a minha casa é um hotel 6 estrelas!’ Ela trabalhava diariamente das 8, 9 da manhã, até às 6 da tarde, porque aí não tinha mais uma boa luz, primordial para ver as cores. Apesar do vasto espaço no ateliê, usava a casa toda para colocar obras terminadas recentemente, obras em andamento, estudos abandonados, algumas gravuras, e sempre mudava a colocação porque surgiam obras novas, outras obras avançavam e, passado um mês, ela mudava todas de lugar, retirando-as ou recolocando-as. Como dona de casa fazia questão que tudo estivesse em ordem, da casa ao jardim que ela tanto amava”.
Tomie querida, saudades suas!
Setembro de arte em Nova York
Nova York não dorme jamais. Recomeçou a estação das artes após um verão escaldante no Hemisfério Norte, que antes conseguia deixar a cidade até um pouco mais vazia. Entramos o mês com estande no Armory Show no Javits Center na 11ª avenida onde expusemos cerca de vinte nomes do nosso acervo entre artistas nacionais e estrangeiros. A feira do Armory, que participamos há algumas edições, é sempre um feliz encontro face-a-face com colecionadores, diretores de museus, galeristas e amigos nesse mundo cada vez mais virtual.
Nossa galeria no Chelsea inaugurou a coletiva Japan In/Out Brazil com três artistas mulheres de diferentes gerações que integraram a diáspora japonesa no Brasil e possuem vínculos com o nosso país: Tomie Ohtake (1913-2015), uma das principais representantes da arte abstrata internacional; Lydia Okumura (1948), nome singular da arte conceitual, que vive em Nova York; e a jovem Asuka Anastacia Ogawa (1988), artista contemporânea em ascensão formada no Central Saint Martins College, em Londres, que atualmente vive na Califórnia.
SERVIÇO
Japan In/Out Brazil – Nova York
Até 5 de outubro, 2024
Galeria Nara Roesler
ABERTO3 – São Paulo
Até 6 de outubro, 2024
Ingressos: https://aberto03.byinti.com/#/ticket/
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Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) [email protected]
Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.
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Instagram: @galerianararoesler
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