Desde o anúncio do primeiro caso, o alastramento do vírus no país foi exponencial, com 25 mortos e 1.546 casos confirmados em 23 de março de 2020. Na ocasião, o prognóstico não era otimista: segundo o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, o sistema de saúde se esgotaria até o final de abril. “O colapso é quando você pode ter o dinheiro, o plano de saúde, a ordem judicial, mas não há o sistema para entrar”, declarou.
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Com o inexorável fato de que milhares de brasileiros serão infectados pelo coronavírus, a prioridade foi frear a demanda de cidadãos pelo sistema de saúde. O distanciamento social é considerado o meio mais efetivo de diminuir a possibilidade de contágio, a necessidade de acesso aos serviços de saúde e o enorme custo humano causado pela pandemia.
O chamado lockdown, ou quarentena compulsória, está entre as medidas vistas como um dos fatores cruciais para a diminuição de casos na China, onde começou a pandemia. Até 23 de março, a China seguia como o país com mais casos (81.093, com 3.270 mortes), seguido da Itália, com 63.927 casos e 6.077 mortes. No mundo, até essa data, 373.818 pegaram a Covid-19, e 16.328 pessoas perderam suas vidas.
Políticas de enfrentamento ao vírus em nível estadual e municipal destoam do posicionamento do governo federal, que acredita que a paralisação de serviços deixará a economia nacional de joelhos. Em 21 de março, o governo de São Paulo, que contém o maior número dos casos confirmados de coronavírus, determinou a quarentena de 645 municípios do estado. A capital paulistana fechou o comércio e começou a montar hospitais de campanha no estádio do Pacaembu e no complexo de eventos do Anhembi para receber os doentes.
Segundo um dos criadores da versão local do movimento “Stop the Spread” (Pare o contágio, em inglês), o fundador da plataforma de entretenimento Ingresse, Gabriel Benarrós, a campanha prioriza suporte ao pessoal da linha de frente e da área de saúde, apoio às pessoas que não podem trabalhar remotamente e profissionais autônomos, além de evitar locais públicos. “Ainda existem empresas que não adotaram o home office: se isso continuar, a contaminação será exponencial”, diz Benarrós, integrante da lista Forbes Under 30 de 2016.
O impacto total da epidemia na economia ainda está por ser conhecido, mas a previsão é que os efeitos até agora já foram suficientes para causar um colapso em vários setores. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o choque do coronavírus já é superior à crise de 2008 ou a de 2001, quando ocorreram os ataques de 11 de setembro nos EUA.
Nessa terra arrasada, desafios e oportunidades foram apresentados para negócios digitais como a iFood, que buscou atender ao isolamento social com ações como entrega sem contato, e a Amazon, que teve uma explosão de demanda, anunciou a contratação de milhares de trabalhadores afetados pela pandemia.
As notícias boas param por aí: entre os setores mais afetados pelo coronavírus, está a aviação civil, que fez uma redução significativa de voos, gastos e quadros de funcionários para lidar com a crise: a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) prevê que o setor pode perder até US$ 113 bilhões em receita este ano devido à queda drástica no tráfego de passageiros. Outro é o varejo tradicional, onde as vendas caíram 5,4% em março em relação a fevereiro, segundo a Cielo – a exceção são os bens não duráveis, como comida e medicamentos.
Reportagem publicada na edição 76, lançada em março de 2020
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