Nas salas de aula, todos sabem quais professores cospem mais. As primeiras filas de suas classes sempre ficam vazias após o primeiro dia de aula, já que os corajosos que estavam sentados no local anteriormente foram banhados com a saliva do professor. Quando uma palestra é particularmente entediante, os alunos ficam fascinados com a forma como a luz do sol capta as gotas de cuspe, pairando no ar ao redor do professor.
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Coronavírus se espalha por partículas
Todos nós sabemos que tosses e espirros espalham germes, é assim que sempre pegamos resfriados e gripes. Essa disseminação ocorre porque tossir ou espirrar projeta gotículas de alta velocidade cheias de vírus de nosso nariz e garganta para o ar ao nosso redor. É por isso que sempre nos disseram para tossir em nossos cotovelos e lavar as mãos com frequência, mesmo antes da Covid-19.
Porém, a pandemia fez com que algumas pesquisas descobrissem algo a mais sobre meios de disseminação: não é preciso tossir e espirrar, a simples fala já é capaz de levar os vírus em aerossol para o ar. Essa é uma das maiores razões para a recomendação de que todos usem máscaras e fiquem a um metro e oitenta de distância uns dos outros. Outro tópico importante é que nem toda conversa leva a mesma quantidade de gotas ao ar. Tudo depende de qual idioma o falante está usando.
Naquela época, havia muito mais turistas japoneses do que americanos no sul da China, mas os americanos foram responsáveis por 70 casos de SARS-CoV-1 e o Japão não teve nenhum caso. Como isso aconteceu? Na época, uma explicação dos cientistas tinha a ver com a linguagem. Como o pessoal das lojas chinesas geralmente era multilíngue, eles normalmente falavam com os compradores americanos em inglês, enquanto falavam com os turistas japoneses em japonês. E isso é importante porque o inglês está cheio de consoantes aspiradas, enquanto o japonês tem poucas delas.
As consoantes aspiradas lançam saliva para o ar
Enquanto o japonês tem poucas consoantes aspiradas, o que faz com que os falantes espalhem poucas gotículas enquanto se expressam, o inglês tem três delas. Especificamente, as consoantes “p”, “t” e “k”. Emitir esses sons lança uma miríade de gotículas minúsculas do trato respiratório do locutor para o ar, criando uma nuvem de saliva. Se essa pessoa for portadora de um vírus, o ar estará cheio de partículas virais.
Até agora, a perspectiva desse cenário pode ser nojenta, mas nunca pensamos que isso poderia nos colocar em risco de contrair uma doença mortal. A Covid-19 mudou essa visão, e é por isso que os pesquisadores da Universidade RUDN estudaram se as pessoas que falam línguas com letras aspiradas têm uma taxa mais alta de infecção por coronavírus.
O estudo analisou dados de 26 países com mais de 1.000 casos de Covid-19 em 23 de março de 2020. Essa é uma janela de tempo útil porque foi antes do uso de máscara se tornar massivo. Os países foram agrupados de acordo com o fato de as línguas faladas predominantemente conterem consoantes aspiradas ou não.
De fato, houve mais casos de infecção por coronavírus em países que falavam línguas com consoantes aspiradas. Esses países mostraram 255 casos de Covid-19 por 1 milhão de residentes, enquanto os países onde as línguas tinham poucas consoantes aspiradas tiveram 206 casos por 1 milhão de residentes. Tecnicamente, esses números não alcançaram significância estatística, mas a observação é interessante.
O que levar dessa informação? Usar máscaras é uma maneira prática de atenuar esse problema. Quando falamos com máscaras, guardamos nossas gotas para nós mesmos.