Essa é uma pergunta importante, que vem sendo feita por organizações de países que começam a liberar o uso recreacional da droga e vão ter de lidar com empregados que eventualmente irão trabalhar sob a influência da droga. O tema é interessante justamente porque divide a comunidade médica e a científica. Quero comentar um estudo recente, de 2020, feito por pesquisadores da San Diego State University (EUA) e da Auburn University (Austrália).
Os pesquisadores estudaram como o uso de cannabis em diferentes momentos do dia afetava a capacidade das pessoas de concluir tarefas no seu trabalho e como elas se comportavam em relação aos colegas e ao próprio trabalho. Eles observaram que usar a maconha depois do trabalho não prejudicou o desempenho ou a produtividade no dia seguinte. Mas quem fumou antes e durante o trabalho teve uma performance muito ruim.
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O estudo também não fala como foi a experiência para essas pessoas, quer dizer, era a primeira vez que usavam ou já fumavam eventualmente? A Medicina sabe que a primeira prova pode levar a ataques de pânico. Imagine isso acontecer na noite anterior a você ter uma reunião importante?
Outra coisa que deve ser considerada é que é comum a associação de diferentes drogas. Assim, é possível que a pessoa que fuma também beba e, por vezes, até use cocaína. Qual delas levou a um baixo desempenho no trabalho, difícil dizer.
Uma das coisas sobre as quais já há consenso é que a maconha tem um efeito importante na coordenação motora. Ou seja, quem tem uma atividade que exige coordenação – motoristas, por exemplo – não podem de maneira alguma fazer uso da droga, ainda que de forma moderada.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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