As patologias que envolvem diretamente o cérebro são alvo preferencial desta busca por conhecer melhor aquela que é (com justiça) classificada como a estrutura mais complexa que existe. A pandemia de Covid-19 (que, vale lembrar, ainda não acabou), por sua vez, colocou em evidência a saúde mental, dada a carga de estresse a que parte significativa das populações de todo país esteve sujeita nos últimos dois anos. E, no contexto da saúde mental, a demência tem grande relevância.
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Três estudos recentes, segundo reportagem do The New York Times, investigaram quais exercícios físicos, em que intensidade e duração, poderiam ser indicados dar ao indivíduo alguma forma de proteção contra a demência. Especialistas há muito acreditam que esse tipo de proteção é possível, diz a reportagem, mas os resultados dos poucos estudos do tipo já realizados não permitiram formar um consenso em torno desta ideia.
O primeiro dos estudos foi publicado no periódico especializado Neurology, a partir de informações de mais de 500 mil participantes no Reino Unido. Essas pessoas foram acompanhadas por 11 anos, e cerca de 5,2 mil delas desenvolveram demência. Dentre os participantes que se dedicavam a atividades físicas vigorosas, o risco de desenvolver a doença foi reduzido em 35%. Curiosamente, entre as pessoas que se ocuparam de tarefas domésticas, essa redução foi de 21%.
O segundo estudo (um levantamento feito a partir de outras 38 pesquisas, também publicado na Neurology) diz que não foi possível concluir qual tipo de exercício físico seria mais eficiente – mas que os participantes praticavam atividades como natação, corrida, esportes de equipe ou sessões na academia. O terceiro, por sua vez, começou com 1.200 crianças, de 7 a 15 anos, acompanhadas por mais de 30 anos. As que tinham um estilo de vida mais ativo, de maneira sustentada, apresentaram maiores níveis de atividade cognitiva na idade adulta.
Atividade física é algo que deve ser acompanhado por um médico. Não há dúvida de que exercícios físicos beneficiam o corpo como um todo – para o coração, para os ossos, para a musculatura em geral, para a mente, exercícios são bons. Mas não se a pessoa simplesmente calçar seu par de tênis e sair correndo, sem orientação. A visita ao médico antes de incorporar a atividade física à rotina vai evitar exageros e erros, que podem resultar em mais problemas de saúde no futuro.
Quanto à demência, embora os estudos não consigam apontar qualquer relação mais específica entre este ou aquele exercício e a saúde mental, de forma geral o efeito é benéfico. Os estudos acerca da demência – que pode se manifestar como a doença de Alzheimer ou Parkinson, ou ter causas vasculares, ou mesmo por traumatismo craniano – prosseguem. Nos EUA, no ano passado, foi aprovado um novo tratamento para Alzheimer, o aducanumabe – que, segundo a FDA (agência reguladora do setor farmacêutico e de alimentos no país), traz “evidências substanciais” de que reduz as placas de beta amilóide no cérebro”, o que pode gerar benefícios importantes para os pacientes. Com uma doença tão grave e tão presente no mundo, tudo que possa dela nos proteger, seja tratamento, seja a atividade física, é muito bem-vindo.
Claudio Lottenberg é mestre e doutor em oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde.