Até pouco tempo atrás, eu tinha um cargo de extrema responsabilidade na Prefeitura de S.Paulo, e de muita exposição, não apenas na mídia, como dentro do próprio ambiente de trabalho. Certa vez, ao chegar à minha sala, encontro a secretária chorando, bastante sentida como a minha “queda”, ou seja, com o meu desligamento compulsório. Fiquei espantado, porque eu não tinha me desligado da minha função, nem haviam me desligado dela.
Este é um dos exemplos bastante comuns da chamada fofoca negativa. Negativa porque ela pode ser mesquinha, pouco profissional, com grande potencial de afetar um colega ou uma liderança e, por consequência, a saúde mental deles.
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Dois dados desse levantamento se sobressaem:
1) 1 em cada 5 pessoas disse ter se desligado da empresa em que trabalhava por causa de boatos que circulavam.
A circulação de rumores pode, sim, provocar uma queda significativa da “saúde” do ambiente de trabalho.
2) 1 em cada 3 afirmou que a fofoca o ajudou a construir relacionamentos, e quase metade declarou que os auxiliou a aliviar o estresse do dia a dia no trabalho.
De fato, mexericos podem ser divertidos, positivos, saudáveis. Falar pelas costas de um terceiro não necessariamente tem uma conotação maléfica. Pode-se estar comentando, por exemplo, onde um colega vai passar as suas férias, ou que alguém vai ser pai logo. É o que se chama de fofoca neutra.
As conversas de corredor ou da “hora do café”, como se costuma dizer, podem contribuir bastante – e, de fato, contribuem – para estreitar laços, para tornar mais claras regras e posicionamentos que por vezes não são colocados de forma transparente no trabalho e até para aprender quem é confiável e quem não é.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.