Bombas, mortos, feridos, terra arrasada, falta de água, de luz, de comida, invasão, frente terrestre, armamento pesado, incêndios, repatriação, milícias, ataques criminosos, cidade sitiada. Parece que temos sido cada vez mais bombardeados por termos bélicos e humanitários. E não me refiro apenas aos conflitos internacionais que têm pipocado com maior frequência, mas aos conflitos e confrontos urbanos que acompanham todo aquele que vive em uma grande cidade brasileira.
Esse cenário afeta fortemente a saúde mental. Não é preciso dizer que quem está envolvido diretamente nesses combates sofre de exaustão, devastação, fadiga, ansiedade, pânico, estresse pós-traumático, desesperança, depressão.
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O que temos visto em nossos consultórios, entretanto, são sintomas parecidos aos de quem vive em uma zona de guerra: pessoas não envolvidas diretamente nesses confrontos ansiosas, com problemas de sono, desesperadas, estressadas, apresentando baixa produtividade e rendimento nas tarefas a cumprir, sejam elas em casa, sejam no ambiente corporativo.
A possibilidade de um futuro incerto e sombrio certamente é um deflagrador de ansiedade e de medo. Porém, as redes sociais vêm contribuindo para essa piora da saúde mental em tempos de conflitos.
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Acesso à informação de qualidade é essencial para que consigamos navegar neste mundo cada vez mais complexo.
No entanto, a quantidade de tempo que se gasta em busca de informações – via de regra, devastadoras – tem grande impacto na saúde mental, podendo provocar medo avassalador, mesmo naqueles distantes dos combates.
Minha sugestão é: faça uma dieta da mídia. Isso não significa fazer jejum dela, mas limitar o tempo que você passa em busca de atualizações.
Vivemos em um mundo gráfico, em que o celular se tornou a ferramenta número 1 para registrar graficamente tudo aquilo que nos acontece ou que acontece aos que nos rodeiam. As guerras, hoje, também acontecem nas redes sociais, numa batalha que parece ser quem registra a imagem mais devastadora ou quem viraliza com notícia verdadeira ou com desinformação.
Quanto mais tempo passarmos grudados na tela e quanto mais buscarmos material gráfico sobre esses conflitos, mais afetada a nossa saúde mental ficará. Cada um tem um estilo próprio de usar as redes sociais, mas procure reduzir um pouco o quanto você consome de informação sobre as guerras internacionais e urbanas.
Uma sugestão é não levar o celular para a mesa, quando faz alguma das suas refeições, nem para o quarto, antes de deitar na cama. A tentação de dar uma olhadinha antes de dormir, de fato, é grande, mas pode atrapalhar o seu sono.
É claro que quem tem laços pessoais nessas zonas de combate talvez não consiga simplesmente desligar-se das telas. É importante, porém, fazer um uso mais moderado delas.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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