Em 1992, o renomado psicólogo clínico e conselheiro matrimonial Dr. John Gottman conduziu um estudo estatístico inovador sobre casamentos e divórcios. Através dessa pesquisa, publicada no Journal of Family Psychology, ele conseguiu prever quais casais eventualmente se divorciariam com uma precisão impressionante de 94%. Desde então, o Dr. Gottman — junto à esposa, Dra. Julie Gottman — realizou extensas pesquisas sobre os fatores que fortalecem ou destroem relacionamentos.
O trabalho deles identificou várias dinâmicas-chave que contribuem para o sucesso ou fracasso conjugal. E, de acordo com pesquisa publicada no Clinical Handbook of Couple Therapy, a presença dos “Quatro Cavaleiros do Apocalipse” — uma metáfora emprestada do Novo Testamento que simboliza o fim dos tempos — está entre os maiores preditores de divórcio. Esses quatro comportamentos, se presentes de forma consistente em um casamento, podem sinalizar problemas sérios à frente.
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1. Crítica
Os Gottmans definem a crítica, o primeiro cavaleiro, como a apresentação de problemas dentro de um relacionamento como resultado direto das falhas do cônjuge. Ao contrário de uma simples reclamação ou crítica sobre um erro específico, a crítica é um ataque direto ao caráter do seu parceiro.
Esse comportamento pode ser prejudicial porque desvia o foco da questão em discussão para as supostas falhas do seu parceiro — o que, em última análise, faz com que seja mais sobre quem ele é do que sobre o que fez.
Por exemplo, uma reclamação genuína pode soar assim: “Fiquei muito preocupada ontem quando você não me ligou para avisar que sairia com seus amigos até tão tarde.” Aqui, você está abordando um comportamento específico e os sentimentos que ele causou em você, sem atacar seu parceiro.
Em contraste, a crítica pode soar assim: “Você sempre me deixa de fora e nunca pensa em como eu me sinto. Eu nunca faria algo tão egoísta.” Aqui, seu foco muda do comportamento para uma avaliação negativa abrangente do caráter do seu cônjuge.
Ao dizer “você sempre faz isso” e “você nunca faz aquilo”, você começa a enquadrar seu parceiro consistentemente como um perpetrador falho ou egoísta. A crítica não serve para expressar insatisfação, mas sim para culpar; isso pode deixar seu parceiro se sentindo rejeitado, magoado e com raiva — o que pode rapidamente se transformar em mais problemas ou cavaleiros.
2. Defensividade
O segundo cavaleiro, a defensividade, é entendido como uma tentativa do parceiro de autoproteção ou preservação, que muitas vezes surge em resposta à crítica. Esse cavaleiro pode assumir duas formas que prejudicam a resolução de conflitos dentro de um relacionamento.
A primeira forma é a “posição de vítima inocente”, na qual reclamamos ou procuramos desculpas para nossos erros para que pareça que estamos sendo acusados injustamente. Por exemplo, se seu parceiro pergunta por que você não o avisou que sairia até tarde, você responderia assim: “Faz séculos que não vejo meus amigos, e você sabe há quanto tempo quero vê-los. Não posso ter uma noite de diversão?”. Aqui, você desvia a culpa de suas ações e a coloca na suposta injustiça de seu parceiro.
A segunda forma é a “indignação justa”, na qual combatemos a crítica com crítica em uma tentativa de contra-atacar. Por exemplo, se seu parceiro reclama de algo que você prometeu fazer, mas esqueceu, você responderia com: “Tive um dia tão longo. Você sabia que hoje seria um dia puxado para mim, por que não fez isso você mesmo?”. Aqui, você ignora completamente a questão em discussão e, em vez disso, desvia com uma crítica das ações ou inações do seu parceiro.
Não há como negar que todos nós recorremos à defensividade de tempos em tempos. No entanto, o uso persistente dela apenas adia a resolução de problemas dentro do relacionamento, pois é uma ótima arma para evitar a responsabilidade.
Em um relacionamento saudável, os parceiros não deveriam ter muita dificuldade em assumir a responsabilidade por um erro ou falha — já que não deveriam ter medo de fazê-lo. Em última análise, a defensividade só serve para mostrar ao seu cônjuge que você não leva suas preocupações a sério, o que pode agravar problemas existentes em problemas maiores e mais assustadores.
3. Desprezo
O terceiro cavaleiro, e certamente o mais cruel, é o desprezo. Ele é, inclusive, o que os Gottmans declaram ser o maior preditor de divórcio. O desprezo geralmente resulta de ressentimento ou raiva profundamente enraizados e pode se manifestar de várias maneiras:
• Sarcasmo: usar comentários mordazes para menosprezar seu parceiro.
• Insultos: fazer ataques ao caráter ou inteligência do seu parceiro.
• Xingar: usar nomes depreciativos ou desrespeitosos para se referir ao seu parceiro.
• Linguagem corporal desrespeitosa: revirar os olhos, bufar, zombar ou outros gestos que sinalizam desdém.
Dada a natureza odiosa do desprezo, seus efeitos em um relacionamento podem ser devastadores. É quase impossível resolver um problema quando o desprezo está presente, pois é incrivelmente difícil ignorá-lo. O desprezo transmite ao seu parceiro que você se considera superior e pensa muito pouco dele, o que é uma maneira garantida de deixá-lo se sentindo inútil ou inferior.
4. Afastamento
O cavaleiro final é o afastamento, que envolve o completo e total desligamento de uma interação com seu parceiro. Essa retirada total geralmente ocorre em resposta aos outros cavaleiros, mais frequentemente o desprezo. Nesse estado, você se desliga completamente; você fica tão zangado, magoado ou sobrecarregado que para de ouvir completamente e deixa isso bem claro para seu cônjuge também. Por exemplo, você pode:
• Parar de dar sinais de que está ouvindo, como acenos de cabeça, contato visual e movimentos faciais
• Deixar a conversa
• Se desligar completamente
• Fingir estar ocupado com outras tarefas
• Ignorar ativamente a outra pessoa
O afastamento geralmente se manifesta quando os outros três cavaleiros se tornam tão insuportáveis que parece não haver outra maneira de lidar com a interação. Mas, uma vez que o afastamento começa, ele pode se tornar um mecanismo de enfrentamento profundamente enraizado e ruim, que é difícil de quebrar. Não é bom para a resolução de problemas ou reconciliação porque, como o nome sugere, seu parceiro pode sentir que está falando com uma parede; ele não terá como chegar até você nem como evoluir nas tentativas de reconexão.
*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.