“Este ano foi devastador.” Foi assim que Bill Gates começou o post de fim de ano no seu blog pessoal, “GatesNotes”. O filantropo bilionário escreveu que a pandemia de coronavírus matou 1,6 milhão de pessoas no mundo, infectou 73 milhões e causou imensos estragos econômicos. Os responsáveis pelas mortes de George Floyd e Breonna Taylor, grandes incêndios florestais e uma “eleição presidencial nunca vista antes” também contribuíram para as agitações vistas no país.
“Mas existem boas notícias chegando para 2021”, continuou. Ao citar os avanços tecnológicos em relação ao desenvolvimento e à distribuição das vacinas contra a Covid-19, o bilionário escreveu que “o ser humano nunca progrediu tão rápido na cura de qualquer doença como fez este ano com a Covid-19”. Embora vacinas levem cerca de 10 anos para serem desenvolvidas, os cientistas criaram vários imunizantes contra o vírus em 2020. E esse é apenas um dos avanços científicos citados por Gates que podem nos dar esperanças para o ano que está chegando.
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Gates ainda escreveu que, até a chegada da primavera nos Estados Unidos, as vacinas da Moderna e da Pfizer/BioNTech, com autorização emergencial da Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês), poderão “ter impacto global”. O número de mortes e infecções poderá diminuir em países ricos, o que segundo ele, significa que “as coisas voltarão a ser parecidas como antes”.
O bilionário afirmou que o sucesso das duas vacinas é um sinal positivo para outras candidatas que ainda estão em desenvolvimento, porque todas elas atacam a mesma parte do vírus. As pontas do coronavírus são feitas de proteínas que são atacadas pelas duas vacinas. “Agora que os cientistas sabem que atacar essa proteína em específico funciona, eles devem estar otimistas sobre outros imunizantes que fazem o mesmo.”
Essas duas vacinas usam tecnologia de mRNA. “Não é por acaso que as vacinas com mRNA foram as primeiras da fila”, disse ele, referindo-se ao fato de que esses imunizantes podem ser desenvolvidos mais rapidamente, já que os cientistas conseguem produzir grandes quantidade de RNA que codificam as pontas de proteína do vírus. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, vacinas de mRNA “ensinam nossas células a como fazer proteínas, ou apenas um pedaço delas, o que desencadeia uma resposta imune em nosso organismo”. Gates escreveu, ainda, que sua instituição tem trabalhado com vacinas de mRNA desde 2014 para serem usadas contra HIV e malária e, agora, essa mesma tecnologia permite “um progresso nunca antes visto” contra a Covid-19.
Outro desafio: produzir doses suficientes para todo o mundo. Serão necessárias de 5 a 10 bilhões de doses, dependendo da necessidade de uma segunda dose para total eficácia. Gates contextualiza dizendo que as empresas globais de vacinas normalmente produzem um total de 6 bilhões de doses todos os anos, para gripe e imunizantes específicos para crianças, entre outras.
Segundo ele, sua fundação está conectando empresas de vacinas de países ricos, com capacidade de produção em larga escala, com produtores de países em desenvolvimento, no que chama de “acordos alternativos”. Esse esforço é uma tentativa de aumentar a produção de vacinas contra a Covid-19 sem sacrificar outros imunizantes.
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Gates também aproveita a oportunidade para chamar a atenção sobre “falsas” teorias da conspiração em relação às vacinas da Covid-19, incluindo “algumas que envolvem minha esposa Melinda e eu”. Ele escreve que isso “não ajuda” e que o casal continuará a discutir publicamente sobre financiamentos de vacinas, porque é apaixonado por salvar vidas e garantir que todas as crianças tenham a chance de serem adultas. “Nós sentimos que temos a responsabilidade de devolver nossa riqueza para a sociedade e acreditamos que nada vale mais do que nossas doações serem transformadas em algo mais valioso para o mundo.”
Segundo Gates, outra esperança é que o “desconfortável” teste de Covid-19 – feito com um cotonete nasal que muitos dizem que parece que o cérebro está sendo cutucado – pode, em 2021, ser coisa do passado. Há alguns dias, o FDA aprovou o primeiro teste residencial que usa um cotonete mais curto. Gates diz que essa testagem é muito mais eficiente, porque as pessoas não terão que esperar por resultados laboratoriais. Ele ainda menciona um estudo financiado por sua fundação que revelou que deixar as pessoas testaram a si mesmas tem resultados tão precisos quanto a forma mais invasiva de testes. Muitas empresas estão trabalhando no desenvolvimento de outros testes rápidos e não invasivos que mostram o resultado em 15 minutos. Além de ser mais confortável para o paciente, a liberação mais rápida de resultados ajuda os pesquisadores a monitorarem a propagação do vírus. O cofundador da Microsoft diz que “o ritmo de inovação nesse setor é impressionante e irá beneficiar a todos.”
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Gates termina o texto abordando um tema diferente, mas igualmente desafiador para a ciência: as mudanças climáticas. Em janeiro de 2021, ele lançará um livro intitulado “Como Evitar um Desastre Climático”, em que compartilha 15 anos de aprendizados de estudos financiados sobre o fenômeno. O bilionário parece estar percebendo que a gestão de Biden também será focada nessa questão e escreve que “os Estados Unidos estão prontos para retomar um papel de liderança” na redução de emissões de gases do efeito estufa no próximo ano. Ele ainda escreve que uma reunião da ONU, em novembro de 2021, juntará líderes mundiais para discutir mudanças climáticas pela primeira vez desde a conferência de Paris em 2015.
“Eu vejo coisas promissoras para os próximos 12 meses”, escreve Gates. “Talvez elas não sejam imensas, mas serão notáveis e um grande avanço para o mundo em relação a 2020.”
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