Tejon define a própria história como improvável e afirma que tinha tudo para não acontecer. Sua mãe biológica veio para o Brasil fugindo da Espanha franquista, carregando-o no ventre. Chegou a Santos, litoral de São Paulo, onde tinha alguns conhecidos, e passou a trabalhar como doméstica e viver de forma muito precária. Exercia a função com Tejon no colo, por não ter com quem deixá-lo. Fez amizade com um casal, que passou a cuidar da criança quando ela foi para a Argentina à procura de uma vida melhor. O que era temporário se tornou permanente, já que a mulher morreu antes de conseguir retornar para buscar o filho.
A estrada da vida de Tejon encontrou outro grande obstáculo quando ele tinha entre três e quatro anos: um terrível acidente doméstico. Uma mistura de cera e gasolina que sua mãe adotiva preparava pegou fogo e queimou severamente o rosto da criança. Boa parte da infância foi passada em hospitais, em internações pós-cirurgias. Tejon se sentia um patinho feio e se escondia por causa das cicatrizes, até que a música o salvou. Sua auto-estima surgiu a partir do momento em que percebeu o poder da criação.
“A minha carreira não aconteceu da noite para o dia. Sempre fiz muitas coisas ao mesmo tempo. Enquanto executivo, sempre dei aula também. E nunca neguei ajuda, sempre participei de associações da minha categoria profissional”, pontua.
Quando completou 50 anos, ganhou da filha um livro de autoajuda. Apesar da aversão que tinha ao gênero na época, a orelha da obra chamou atenção: Roberto Shinyashiki era o autor, um amigo da época da adolescência. Ele entrou em contato para retomar a amizade, adormecida pelos 30 anos sem encontros. Foi de Shinyashiki a ideia para que Tejon se reconciliasse com a própria história e colocasse tudo no papel. Até então, ele só escrevia obras com teor profissional sobre marketing, vendas e agronegócio. A proposta virou “O Voo do Cisne”, de 2002, e deu início a uma nova fase na vida do executivo.
Ele passou a ser mais procurado para palestras, agora sobre sua história e não sobre sua expertise profissional, e cinco anos depois decidiu deixar o cargo corporativo por não conseguir mais se dedicar da forma que considera ideal. “É genial o tanto que aprendi e realizei como executivo, mas, a partir daquele momento, eu precisei me doar mais no campo de educador e encorajador do ser humano, no fortalecimento da resiliência para combater os sofrimentos”, conta.
Para quem tinha tudo para negar a criança interior em função do passado difícil, Tejon acredita que é essencial mantê-la viva e ativa para não perder o brilho no olhar depois da maturidade. “A vontade de criar é especial. É nela que você encontra a criança do ser humano e é ela que nos impulsiona ao sonho e a visualizar o que os adultos acham impossível.”
Siga FORBES Brasil nas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.
Tenha também a Forbes no Google Notícias.