Como o Itaú Unibanco tornou-se a empresa de maior valor de mercado do Brasil

28 de junho de 2015

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O pintor Edgar Degas pintou um dos mais emblemáticos quadros de sua carreira, “A Banheira”, aos 52 anos. Ele costumava dizer que “todo mundo tem talento aos 25 anos. Difícil mesmo é continuar a tê-lo depois dos 50”. De fato, no mundo das artes, são poucos os grandes criadores que conseguem conceber obras-primas depois que atingem cinco décadas de vida. Na seara dos negócios, contudo, sobram exemplos de pessoas que deram grandes tacadas após essa idade. Talvez um dos exemplos mais contundentes, no Brasil, seja o do banqueiro Roberto Setubal.

Desde a década de 1980 o Itaú perseguia a liderança de mercado. A instituição, que já tinha sido comandada por verdadeiras lendas das Finanças como Olavo Setubal, pai de Roberto, e José Carlos Moraes de Abreu, era muito reputada pela qualidade de sua gestão e arrojo na condução dos negócios. Mas amargava, durante anos, o segundo lugar no ranking das instituições financeiras, invariavelmente atrás do Bradesco, seu rival histórico.

Finalmente, em 2008, Setubal, então com 54 anos, conseguiu virar esse jogo. Numa tacada de mestre, conseguiu o que muitos tentaram e nenhum obteve – conseguir um acordo de fusão com o Unibanco, da família Moreira Salles, até então comandado por Pedro, um dos herdeiros do chanceler Walther. Com a operação, o banco resultante do negócio, o Itaú Unibanco, pulou à frente do ranking e, até hoje, mantém-se em primeiro lugar.

Recentemente, contudo, o Itaú Unibanco chegou à primeira colocação de outra lista – a das empresas mais valiosas do Brasil. No levantamento feito por FORBES, que elege as 2000 empresas com maior valor de mercado em todo o mundo, o Itaú Unibanco chegou ao número 42 entre as grandes do planeta. A instituição, presente em 19 países, subiu quatro posições em relação ao ano passado e passou a liderar o ranking brasileiro, com R$ 1,3 trilhão de ativos. Com presença em 19 países, cerca de 60 milhões de clientes e R$ 1,3 trilhão de ativos, a holding transformou-se no maior negócio do país. Além do Itaú, mais 23 empresas nacionais figuram na lista de FORBES, todas com cifras bilionárias. “Fico feliz em ver a presença de outras empresas do Brasil figurando entre as mais valiosas do mundo, pois isso comprova a competência e eficiência do mercado corporativo brasileiro”, afirmou Setubal a FORBES Brasil.

Como o Itaú Unibanco se transformou na empresa mais valiosa do Brasil? Para Roberto Troster, ex-economista chefe da Febraban, um dos segredos está na gestão familiar. “Tanto o antigo Unibanco quanto o antigo Itaú eram empresas familiares, e o Itaú Unibanco, surgido da fusão de ambos, também é uma companhia controlada essencialmente por algumas famílias – os Setubal, os Villela e os Moreira Salles”, afirma. “É um banco de dono, como se costuma dizer. Isto faz com que a instituição tenha uma agilidade na hora de decidir e de agir que, muitas vezes, falta a seus concorrentes de capital pulverizado.”

Além disso, o banco se destaca no cenário nacional por dois pontos. O primeiro é o foco obsessivo na rentabilidade de suas operações financeiras e atenção especial aos donos de suas ações – e, aqui, não estamos falando das famílias Setubal, Vilella e Moreira Salles. Com 50% de seu capital nas mãos de mais de 100 mil acionistas, o grupo foi um dos primeiros a adotar práticas de governança corporativa no país e perseguir a transparência em seu relacionamento com os investidores. Com isso, a confiança do mercado consolidou-se e ajudou a fortalecer o valor dos papéis nas bolsas de valores – algo que se deve também ao desempenho de sua equipe de executivos, em especial aos profissionais de tesouraria e do departamento econômico, muito reconhecidos entre os especialistas em finanças. “É por isso que dedico esse reconhecimento a todos que aqui trabalham e aos que ajudaram a construir nossa organização ao longo dos seus 90 anos de existência”, afirma Setubal. “É sempre gratificante ver o banco colocado em posição de tanto destaque num ranking tão relevante.”

Ao compararmos o Itaú com o Bradesco, seu maior competidor e o segundo na lista das empresas mais valiosas do Brasil, percebe-se que as duas instituições têm perfis semelhantes no mercado acionário. Ambos são considerados blue chips e são conhecidos por pagar bons dividendos. “Eles entregam aos investidores um percentual maior do que o exigido pela legislação. Pode-se dizer que o lema dos dois bancos é remunerar bem quem acredita neles”, afirma Alex Agostini, economista-chefe da agência classificadora de risco Austin Rating.

Na corrida contra o Bradesco, o Itaú Unibanco apresentou melhores resultados este ano, segundo levantamento da Austin Rating. De 1º de janeiro a 15 de maio de 2015, as ações ordinárias do Itaú Unibanco tiveram valorização de 13,37%, cotadas a R$ 35,65. Já o Bradesco apresentou alta de 4,5% no período, sendo R$ 29,70 o preço por ação. Isso quer dizer que a batalha está ganha para o Itaú? De forma alguma. Roberto Setubal sabe disso e, apesar de ter anunciado recentemente sua saída da diretoria executiva do banco, continuará supervisionando com lupa e mão de ferro o trabalho dos executivos destacados para comandar o dia a dia da instituição. Ele conhece a operação com tanta profundidade e minúcia que chega a assustar alguns diretores durante suas sabatinas. Comportamento de quem conquistou o topo e de lá não quer ser desalojado.