Avesso aos cliques, ele acatou nossa sugestão de posar sem aparecer. Na imagem, dois detalhes revelam muito sobre a família e o atual momento da companhia. O primeiro é o quipá (solidéu, em português), que sinaliza para a religiosidade dos Horn. Pouco antes da entrevista, foi solicitado que mudássemos da grande sala de reuniões para uma menor, a fim de preparar o espaço para a reza diária das 17h30. Geralmente, os judeus religiosos oram três vezes ao dia (de manhã, de tarde e à noite). Para os Horn, não basta pedir e agradecer. É preciso também fazer por receber. Um ensinamento de filosofia judaica, que pai e filhos estudaram.
Hábito, aliás, que Elie cultiva até hoje. Todas as manhãs, antes de sair para o trabalho, ele realiza sua atividade física e estuda (por meio de aulas e/ou leituras). “Ela ajuda a colocar o lado humano e social antes de qualquer outro valor na vida. Ela também ensina a não ter ego, a não buscar o troféu e a não desejar ser o número 1. Ser o líder não é uma meta, mas sim fazer o máximo possível de empreendimentos e boas ações”, ensina Efraim, há 13 anos trabalhando na Cyrela.
O que a Cyrela quer, além de continuar atendendo o alto padrão, é avançar como referência no luxo vertical residencial e mudar a paisagem com arranha-céus diferentes. Efraim deixa claro que não há crise para o luxo. Isso levou os Horn a selar uma parceria com a Pininfarina, o estúdio de design italiano responsável pelos desenhos arrojados de bólidos como Ferrari e Maserati: “Nosso briefing para eles foi: todo prédio tem engenharia. Como poderíamos esculpir um prédio que não parecesse ter engenharia nem tijolo e cimento? Uma obra esculpida durante anos pelo movimento do vento, fluída de todos os lados, sem uma frente e que também não fosse redonda?” Vale lembrar que essa não é a primeira vez que a Pininfarina se envolve no projeto de um prédio. Em Cingapura, por exemplo, há um residencial de luxo chamado Ferra com traços que muito remetem às curvas imortalizadas pela escuderia da Maranello.
Depois de muitas idas e vindas, o primeiro projeto da Cyrela com a Pininfarina saiu. Com a proposta de trazer “novas sensações arquitetônicas” para a cidade, o empreendimento foi apresentado a um grupo de amigos em setembro, durante um coquetel que contou com uma exposição repleta de objetos criados pela oficina de design e com a presença de Paolo Pininfarina. “Naquela noite, assinamos a venda de 20 unidades. Das 40 pessoas que foram, 50% compraram.”
Até o momento, dos 92 apartamentos do empreendimento, 65 já foram vendidos. O tamanho do imóvel que será erguido na Rua Fiandeiras, na Vila Olímpia (em São Paulo), gira em torno de 46 a 50 m2, com duas vagas na garagem, metro quadrado entre R$ 26,5 mil e R$ 31 mil e custo do apartamento em torno de R$ 1,2 milhão. O objetivo é atender o público que mora ou tem negócios na Avenida Faria Lima. A previsão de entrega é setembro de 2017.
Há 20 anos, Elie Horn provavelmente não olharia com tamanha atenção para a região da Faria Lima e seu entorno. Afinal, quem sonharia em comprar um imóvel de luxo nesse bairro quando tanto se sonhava em morar nos Jardins, na Vila Nova Conceição e em Higienópolis? Mas, como diz seu filho, as cidades são grandes células vivas que tomam rumos não identificados e surpreendentes. “A Nova Faria Lima concentrou um número grande de empreendimentos corporativos. E luxo hoje é morar perto do trabalho. Moema, Itaim e Vila Nova Conceição foram se desenvolvendo por conta de proximidade com o Parque do Ibirapuera e, mais recentemente, com o Parque do Povo. São vizinhos nobres que transformaram a Vila Olímpia, por exemplo. Não por acaso, o Shopping JK Iguatemi abriu nesse novo eixo.”
Hoje, ele considera luxo um conceito relativo. Para uns, andar de Rolls-Royce é um luxo. Para outros, é sair pelas ruas de Mini Cooper. “Inovação a Cyrela sempre teve. O que mudou foram as referências. Meu pai, por exemplo, se espelhava nos grandes hotéis de Paris e Viena e nos clássicos de Nova York. Em frente ao Pininfarina, também estamos lançando um outro empreendimento no segundo semestre feito em parceria com o escritório de design Yoo, criado por John Hitchcox e Philippe Starck — e especializado em projetar casas e hotéis. É uma empresa que não existia há 20 anos e que nos ajudou a desenvolver apartamentos com pé-direito duplo, de 6,2 metros de altura, e áreas úteis com piscina olímpica e semiolímpica coberta”, observa.
Os nomes usados para os imóveis também mudaram. Antes eles chamavam-se Ritz, Plaza Athenée, entre outros ícones internacionais. Agora, os preferidos são termos locais, ligados a nossa história, como nomes de ruas ou árvores, ou, então, nomes fantasia. Não são só nesses pontos que o mercado imobiliário está mudando. Horn lembra que, pela primeira vez na história, o metro quadrado dos imóveis residenciais de São Paulo se equipararam ao preço do metro quadrado dos comerciais. “Em todos os países desenvolvidos do mundo, o metro quadrado do luxo residencial vale dez vezes mais que o luxo comercial. Em alguns locais como Nova York, Tóquio e Mônaco, o metro quadrado pode chegar a US$ 100 mil. E isso faz sentido porque a pessoa física não precisa prestar contas aos acionistas nem dar lucro, diferentemente das empresas. O Brasil é o único lugar do mundo onde é o contrário, mas agora empatou em São Paulo.”
Ele explica que a Cyrela vai financeiramente bem, com o menor patamar de dívida dos últimos seis anos. “É uma empresa sólida, conservadora no caixa. Daquelas que se preparam para a crise, mesmo se ela não vier.” A geração de caixa da Cyrela em 2014 foi recorde:
R$ 867 milhões ante os R$ 201 milhões registrados no ano anterior.