Aos 59 anos, a executiva é presidente de mercados internacionais da tecnológica com receita anual de 9,6 bilhões de dólares. Isso significa que ela é responsável pelos 210 países em que a empresa opera fora da América do Norte. Parece muito? Cairns lida com leveza. “É bem divertido, na verdade. Quando viajo pelo mundo, percebo que as pessoas estão se tornando cada vez mais parecidas: bebem as mesmas coisas, se vestem do mesmo jeito, ouvem as mesmas músicas. E, como consumidores, também compram as mesmas coisas, usam a mesma rede social… Há muitas similaridades entre as diferenças.”
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Se o assunto é pagamento via mobile, por exemplo, no Brasil, 14% dos consumidores são familiarizados com este meio, enquanto na Nova Zelândia apenas 9% costumam usar o recurso. Mas se a pauta for eficiência na regulamentação do sistema financeiro, o país da Oceania está entre os melhores do mundo, ao lado de Cingapura, Hong Kong e Canadá, enquanto o sul-americano ainda enfrenta um ambiente “desafiador”.
A MasterCard tem cerca de dois bilhões de cartões de crédito no mercado global, com uma estimativa de 1,5 bilhão de usuários. No primeiro trimestre de 2016, a empresa registrou receita líquida de 5,1 bilhões de dólares, aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano anterior, e lucro operacional de 2,7 bilhões de dólares, crescimento de 5% em relação a 2015. Os negócios internacionais representam uma fatia de 60% do total.
Para manter, e até acelerar esses números, Cairns e o CEO Ajay Banga apostam em duas palavras: inclusão financeira. O plano é conquistar 500 milhões de novos consumidores ao redor do mundo até 2020. “Ajudar micro e pequenos negócios a se conectar a pagamentos eletrônicos vai acelerar a adoção e o uso de novas ferramentas financeiras para os desbancarizados”, afirmou o executivo em um artigo publicado em junho deste ano.
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Outra estratégia é aumentar o investimento em países menos desenvolvidos. Na África do Sul, a empresa distribuiu, em parceria com o governo, 10 milhões de cartões, que atingem 21 milhões de pessoas, para serem usados como forma de pagamento para servidores públicos e pequenos agricultores.
Em dezembro de 2014, a companhia inaugurou um de seus centros de pesquisa, os MasterCard Labs, em Nairóbi, no Quênia, em parceria com a Gates Foundation, do casal bilionário Bill e Melinda Gates. “A ideia era criar um ambiente na África que desenvolvesse produtos feitos para pessoas que vivem com poucos dólares por dia”, diz Ann. Uma das criações mais recentes foi um aplicativo, disponível para Android, que encurta as transações para produtores de óleo de girassol.
O app apresenta o preço do produto cerca de seis vezes por dia, e permite que o agricultor o venda diretamente para o consumidor final. “Os compradores estão dispostos a pagar um pouco mais para estimular os produtores a usar as soluções mobile”, afirma Cairns. “É isto: você tem que achar algo que ajude a vida das pessoas, crie um benefício prático para elas.” O projeto já está em negociação para ser aplicado na Tanzânia, em parceria com o NBC Bank.
“Você tem que construir modelos de negócios que se sustentem”, argumenta Cairns. “Se você tentar construir algo só com filantropia, quando chegam os tempos difíceis, o investimento voltado para isso diminui. Mas, se você constrói um negócio que é forte e, além disso, ajuda as pessoas, é o melhor dos dois mundos.”
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Formada em matemática pela Sheffield University, com mestrado em estatística pela Newcastle University, ambas no Reino Unido, Cairns começou sua carreira na área de engenharia, na companhia de gás British Gas, até ir para o Citigroup, onde trabalhou por 15 anos, de 1987 a 2002, e chegar ao cargo de COO. Saiu do conglomerado norte-americano para chefiar o banco de transações holandês ABN AMRO, um negócio de 5 bilhões de euros em 52 países, por seis anos. Antes de chegar à MasterCard, em agosto de 2011, foi chefe de serviços financeiros da consultoria internacional Alvarez & Marsal para a Europa e Oriente Médio.
Para chegar a este ponto, Cairns implementou uma estratégia: exigir pelo menos uma mulher bem qualificada entre os finalistas para cargos de gerência para cima. “Não estou dizendo que ela será contratada, mas sempre peço que me mostrem os finalistas e quem foi escolhido. E peço que expliquem por que esta pessoa foi a escolhida.” Desde que adotou essa política, o número de mulheres em posições seniores subiu 10%. “Eu trabalhei em um banco de investimentos, e meu chefe não gostava de ter uma mulher ali. Ele basicamente me ignorava”, conta Cairns. “Eu vi isso como uma oportunidade. Em vez de ficar triste, aprendi a ter um excelente relacionamento com a minha equipe, e comecei a pensar em um ambiente corporativo que fosse mais amistoso e aberto. Eu tomei uma série de decisões sem o consentimento dele, porque, bem, ele passava grande parte do tempo sem falar comigo.”
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Hoje, ela foge do microgerenciamento. “Imagine se eu ligasse para o Gilberto Caldart, o brasileiro que preside a América Latina, todos os dias? Ele provavelmente ficaria bem incomodado”, afirma a executiva, rindo. “Ele conhece o seu mercado muito melhor do que eu, está mais perto. Como chefe, meu trabalho é criar um ambiente em que ele seja extremamente bem-sucedido e, caso precise de apoio, como mais investimentos, eu esteja lá. Preciso ser alguém em quem ele possa confiar, a quem ele possa sugerir o que acha que é melhor para tal país ou região.”
Difícil saber se o sarcasmo ajuda nos bons resultados, mas o lucro líquido anual em 3,8 bilhões de dólares aponta que o bom humor pode ser um caminho.