Gestão de risco de terceiros é desafio para empresas

28 de março de 2017

Muitas empresas vêm se preocupando cada vez mais em melhorar seu programa de compliance. Entretanto, não podem esquecer que existe um ambiente que não gerenciam e que pode colocar em risco sua imagem, suas finanças e até sua reputação. A gestão de risco de terceiros tem se tornado o grande gargalo nas organizações na prevenção à corrupção.

“As empresas que não têm qualquer tipo de avaliação de risco de terceiros devem ter a convicção de que fazer essa gestão é fundamental para a perenidade do negócio. É impossível ter continuidade sem parceiros de confiança, com imagem e reputação ilibadas”, afirma Emerson Melo, diretor de Regulatory Compliance da consultoria KPMG no Brasil.

Para uma gestão de terceiros (fornecedores, clientes, parceiros de negócio, sócios, qualquer um que faça parte da cadeia de valor) adequada é necessário adotar critérios de risco e fazer avaliações periódicas. “A essa avaliação o mercado dá o nome de due diligence”, explica Melo. São analisados antecedentes, aspectos de imagem e reputação, qualificação, quem é o controlador final, sua situação financeira, credibilidade, histórico de cumprimento aos aspectos regulatórios etc. A partir do momento em que o fornecedor ou terceiro for incorporado à lista de cadastro, a empresa deve fazer esse monitoramento, no prazo de um a três anos, segundo Melo, dependendo do grau de risco atribuído a essa relação.

Emerson Melo, diretor da Regulatory Compliance da consultoria KPMG no Brasil, e Márcio Campanelli, gerente executivo de Conformidade da Petrobras

“O risco existe em todas as camadas da organização, do analista à diretoria. É preciso conscientizar todos”, afirma Melo. Comunicação e treinamento são ferramentas fundamentais. Também é importante documentar quais são os procedimentos, a política e as diretrizes que orientam o relacionamento com terceiros.
Para Dalton Sardenberg, professor de Governança Corporativa da Fundação Dom Cabral, o código de conduta de uma empresa, instrumento mais utilizado em projetos de compliance, deve deixar claro quais são as regras, o que o funcionário pode e não pode receber dos fornecedores. “Presentes, convites para shows, almoços, viagens, tudo isso deve estar esclarecido. É natural que se estabeleçam regras de que tipo de relação é esperada entre alguém que é de uma área de suprimentos, de compras, e o seu fornecedor, por exemplo”, diz Sardenberg.

O treinamento é outra ferramenta fundamental. A constatação, que passa pelos canais de denúncia, e a punição em casos de desvios de conduta geram credibilidade, segundo o professor.

Sardenberg alerta que, além de treinar a própria equipe, é recomendável que as empresas estabeleçam também um processo de treinamento dos fornecedores em relação ao padrão de ética esperado.

A Petrobras é uma das empresas que avaliam o Grau de Risco de Integridade (GRI) no relacionamento com seus fornecedores e parceiros operacionais. O programa Due Diligence de Integridade (DDI) da Petrobras tem como base o cadastramento e a avaliação. São feitas verificações da integridade, reputação,
idoneidade e das práticas de combate à corrupção implementadas por esses parceiros. No caso dos fornecedores, a avaliação é revisada anualmente, na renovação do cadastro.

A aplicação da DDI leva em conta critérios como a localização geográfica da empresa e da execução dos negócios, histórico e reputação, interação com agentes públicos, a efetividade de seu programa de integridade e a natureza do negócio.

Segundo Márcio Campanelli, gerente executivo de Conformidade da Petrobras, além desse processo de DDI, a comunicação interna para todos que lidam com fornecedores tem sido constante. “Temos realizado treinamentos sobre como se relacionar com essas empresas, os cuidados que se devem ter nesse relacionamento, como funciona a política de brindes e presentes. O que se pode receber e o que se pode ofertar”, afirma Campanelli.

Outra medida tomada pela Petrobras para aprimorar o combate a possíveis desvios de conduta foi a terceirização do canal de denúncias, conduzido por uma empresa independente.

Segundo Campanelli, qualquer pessoa – dentro da companhia, ou um fornecedor – pode acessar esse canal de denúncia e registrar eventuais problemas ocorridos durante o processo de contratação. “A denúncia vai ser registrada e apurada com total rigor”, garante.