Após dois anos consecutivos de queda no Produto Interno Brasil (PIB), o setor tem uma perspectiva otimista para 2017 impulsionada pelo resultado positivo dos balanço do primeiro bimestre do ano. Os números, no entanto, não foram divulgados. Mesmo assim, a performance da economia e das vendas ao consumidor deve ficar bem aquém das registradas em anos anteriores à crise.
Para tentar recuperar o dinamismo, o discurso do empresariado foi além das estratégias que têm sido adotadas pelas companhias, como novas formas de venda, relacionamento com o consumidor e sinergia com as distribuidoras e financiadoras. O debate estendeu-se para a esfera política, mais especificamente para o papel do Estado na economia, como deve ser a relação da empresa com a sociedade e o comportamento cidadão do empresário. Inicialmente, as manifestações empresariais a respeito da política econômica tiveram o mesmo conteúdo de outros fóruns realizados sob circunstâncias econômicas mais favoráveis, com as recorrentes reclamações sobre a elevada carga tributária, o “intervencionismo do governo” e a ineficiência dos gastos públicos. Gradativamente as falas dos empresários foram se direcionando para temas como a forma com que o governo regulamenta e intervém na economia em áreas como as relações de trabalho – tema impulsionado pela aprovação na semana passada da Lei de Terceirização -, a relação empresa-governo e até a política externa.
O fórum foi realizado três dias depois da aprovação da Lei de Terceirização, que regulamenta a contratação pelas empresas de trabalhadores terceirizados, tanto para as chamadas ocupações de atividade-meio (auxiliar de limpeza e técnico de informática, por exemplo) como para as funções de atividade-fim da empresa, ou seja, uma montadora poderá contratar um empregado terceirizado para trabalhar na linha de produção dos veículos. Entretanto, a aprovação da lei não foi considerada suficiente pelo empresariado do setor. A iniciativa foi qualificada como um “primeiro passo para a modernização das leis trabalhistas”, e houve pedidos para a extinção e o ressurgimento da CLT com base na flexibilização.
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O presidente da Inbrands – holding detentora de marcas de moda e de confecção – Nelson Alvarenga, disse que não prevê alteração no regime de contratação de trabalhadores pelas empresas e qualificou a Lei de Terceirização de “mentirinha”. “Quem contrata ainda é responsável”, afirmou Alvarenga, que pediu, ainda, regras de liberalização e simplificação para o desenvolvimento das atividades da iniciativa privada no Brasil.
Impostos
Destacou-se a fala do ex-diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp e atual vice-chairman do Lide, o economista Roberto Giannetti da Fonseca, sobre a reforma tributária enviada ao Congresso pelo Palácio do Planalto. O governo propôs a extinção de sete tributos federais (IPI, IOF, CSLL, PIS, Pasep, Cofins e salário-educação), do ICMS (estadual) e do ISS (municipal), criando três novos impostos para ocuparem a vaga dos extintos: o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), o Imposto Seletivo e a Contribuição Social Sobre Operações e Movimentações Financeiras. Giannetti saudou a iniciativa do governo federal de simplificar a cobrança de impostos, mas chamou a atenção para um “golpe” na alteração proposta por esta reforma. “Há um risco de elevação da carga tributária implícita no estabelecimento de uma nova alíquota para o IVA”, alertou o economista.
Internacionalização dos serviços
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Sobre a política externa, Nelson Alvarenga pediu mais ênfase comercial do que política nas relações internacionais brasileiras. “É preciso alavancar as marcas brasileiras no exterior, não ficar com foco no Mercosul”, disse.
O empresário-cidadão
Além disso, o presidente da Riachuelo criticou os empresários que se beneficiam de desonerações em troca de “obras públicas”, uma crítica indireta aos executivos das empreiteiras acusados de corrupção pela Operação Lava Jato. “O empresário tem que estar sob o freio e o contrapeso do mercado, e não de um Estado hipertrofiado”, disse.
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Ao mencionar que se inspirou na obra de Milton Friedman para elaborar o princípio do empresário-cidadão, Rocha disse que discorda do economista em apenas um ponto. “Ele diz que a empresa existe para ganhar dinheiro, mas ela precisa de um propósito”, afirmou, avaliando que a empresa é a “melhor instituição para mediar os conflitos entre o capital e o trabalho a partir da precificação”, diferentemente do Estado que potencializaria o confronto.