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Marchetti é um cara genial, tenaz, persistente. Um tímido cordial, que, enquanto fala, bebe continuamente chá com gengibre e cúrcuma, iguaria que o deixa em paz com seu estômago e com seu caráter um pouco asiático, como ele mesmo diz. Nasceu em Ravena, na Itália, há 48 anos – mas é, desde sempre, um cidadão do mundo. Agora, é também um protagonista do mundo, sobretudo dos mundos da moda e do e-commerce, que conseguiu fazer com que convivessem quando eram, na verdade, dois pólos distantes.
Pouco a pouco o empreendedor construiu um império de € 2 milhões em faturamento, mais de 4.500 funcionários e três milhões de clientes espalhados em 180 países que compram nas lojas online multimarcas do grupo, cada uma com suas próprias características, mas sempre baseadas na moda de luxo ou super luxo: Net-a-Porter, Mt Porter, Yoox e The Outnet.
Ele também é um cara teimoso. Desde 2009, Marchetti estabeleceu como objetivo fundir a Yoox e a Net-a-Porter, os dois líderes mundiais do varejo de luxo online que se afirmaram em um mercado de rápido crescimento e de mudanças contínuas. Ele conseguiu na terceira tentativa, em 2015, criando o Ynap, um grupo capaz de reunir todas os tipos de consumidor do setor do luxo.
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Mas Marchetti era, acima de tudo, um visionário e um “imaginador”, como diziam os seus professores. “Eu cresci com um grupo de pessoas que, até hoje, são os meus melhores amigos”, conta ele, sorrindo com os olhos. “Davide é o meu contador, Cristiano abriu diversos restaurantes e Fabio e Gigi administram as empresas de seus pais. Quando volto a Ravena, principalmente no verão, sempre me encontro com eles. O meu pai, Giancarlo, era um grande trabalhador, gerente de um depósito da Fiat em Ravena. A minha mãe, Lidia, era telefonista”, conta.
De fato, a juventude de Marchetti se parece com a de milhões de meninos italianos. Mas, já naquela época, ele sentia algo que os outros não sentiam: o seu projeto, a sua ideia, o seu sonho. E, sobretudo, a vontade firme de realizá-lo. “Desde pequeno eu tinha paixão pelas invenções, por criar coisas novas. Eu era um pequeno Arquimedes, sempre com ideias revolucionárias. Às vezes exagerava, como quando pensava em combater a fome do mundo com o queijo de leite de animais selvagens. Pena que não era possível ordenhar animais selvagens. Ou, então, quando queria produzir meias reforçadas na ponta (pois furam sempre). Eu pensava nisso, até que percebi que, para quem as produz, era melhor se as meias furassem, pois assim poderiam vender mais.”
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E continua: “Eu sempre fui apaixonado pela possibilidade de unir os opostos. Gosto de desafios, de resolver coisas difíceis. Gosto dos projetos complexos, porque a minha mente trabalha melhor na gestão da complexidade. Quando eu fiz o plano de negócios da Yoox, em 1999, o digital e a moda eram dois opostos que eu pretendia colocar juntos. O desafio me apaixonava e, mais do que isso, me encorajava.”
O sucesso chegou, mas demorou um pouco. Na verdade, o período em que Marchetti pensou que estava pronto para ser um empreendedor coincidiu com a saída dos Estados Unidos e a volta à (dura) realidade italiana. Esperava comandar algum projeto, mas, em vez disso, encontrou-se na Bain fazendo coisas pelas quais não era nada apaixonado.
“Deixei a minha efervescente vida em Nova York e voltei para a Itália procurando encontrar uma síntese de todas as minhas experiências. Como italiano, me perguntei qual era a vantagem competitiva do meu povo e lembrei da moda, do legado “Made in Italy” no setor, que representava também uma paixão pessoal. E chegou a explosão da Yoox, que fez com eu me considerasse, acima de tudo, um profissional do entretenimento. É verdade que vendemos, mas, de alguma forma, somos como um veículo de mídia porque produzimos também conteúdo. Na verdade, gosto de me definir como alguém que reúne o entretenimento e a atividade do varejo.”
Assim, voltamos para os opostos. “Eu queria unir a acessibilidade e a exclusividade, dois aspectos que se fundem de modo perfeito naquilo que estamos fazendo. O nosso trabalho é apresentar produtos exclusivos, quentes, por meio de um meio que tende a ser frio – a internet. Para conseguir isso, fundimos o conteúdo e o comércio. Todo o nosso sistema gira em torno da possibilidade de criar um mundo exclusivo mas, ao mesmo tempo, acessível a todos. Essa é a essência que nos tornou diferentes de todos os concorrentes em nível global. Sem considerar que contamos com uma rede de entregas em algumas grandes cidades”, explica.
“Acabamos de lançar em Londres um novo serviço, o ‘you try, we wait’ (‘você prova, nós esperamos’, em tradução livre): um cliente encomenda um produto, nós o entregamos e ficamos esperando se ele vai querer aquilo ou não. Tudo sempre seguindo a lógica de tornar a exclusividade acessível. Assim, o Yoox Net-a-Porter Group é, hoje, um modelo de negócios que vende produtos e conteúdo de altíssima qualidade. A nossa filosofia consiste em um modelo de negócios que proteja a exclusividade das marcas de luxo e a imagem das casas de moda por meio da venda de produtos de altíssima qualidade.”
Há quem diga que a Ynap é a Amazon do luxo. Porém, para Marchetti, isso não é verdade. “A Amazon tem um grande potencial para fazer volume e tem como foco marcas que entendem a moda como vestuário”, analisa. “A Ynap, por sua vez, aposta na altíssima qualidade e se volta, exclusivamente, às marcas do luxo. É a única plataforma de e-commerce do mundo que permite a mais alta difusão e acessibilidade de produtos de classe alta.”