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O resultado dessa instabilidade nas fábricas é a presença constante do medo. Medo de perder o emprego, do assédio e de não receber uma promoção.
O medo da pressão é bem fundamentado. Um relatório de 2009 do National Employment Law Project descobriu que 43% dos operários com baixos salários entrevistados em Nova York, Los Angeles e Chicago sofreram represálias ilegais por parte de seu empregador depois de fazer queixas relacionadas à segurança. Um estudo recente da Ethics and Compliance Initiative (Iniciativa de Ética e Conformidade, em tradução livre) concluiu que o percentual de funcionários que afirmam ter sofrido retaliações aumentou de 22% para 44% desde 2013.
Na mesma linha, um relatório da Equal Employment Opportunities Commission (Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego, em tradução livre) descobriu que 75% de todas as pessoas que relataram assédio sexual em seus locais de trabalho já passaram por alguma situação de pressão psicológica no âmbito profissional.
O medo do trabalhador fabril é ruim para a moral e o bem-estar dos funcionários em geral e pode afetar a saúde do segmento industrial. Nos últimos 12 anos, a produtividade nas fábricas norte-americanas diminuiu, em média, 0,3% ao ano. Os mesmos itens são produzidos com mais horas de mão-de-obra e custos ligeiramente maiores, apesar do aumento da eficiência criada pelo uso de robôs e outras tecnologias de aumento de velocidade. Enquanto alguns pesquisadores especulam que a baixa escolaridade dos trabalhadores é a culpada deste cenário, o medo e a incerteza enfrentados pelos colaboradores também podem contribuir.
Existe uma reclamação comum de muitos operários na última década. Devido à intimidação sofrida, eles permanecem em silêncio, apesar de terem boas ideias para melhorar a produção e reduzir erros e riscos. “Quando um supervisor me pede para disfarçar um erro, eu o obedeço. Reclamar com a alta gerência provavelmente me renderia apenas uma demissão e eu preciso desse emprego”, disse um funcionário de equipamentos pesados de manufatura baseado no Sul do país.
Há 25 anos, o especialista em gestão Dr. W. Edwards Denning redigiu uma espécie de tratado com cerca de 14 melhores práticas para alavancar a produtividade das empresas. Nele, enfatizou o valor do comprometimento dos cargos mais elevados com o feedback aos colaboradores do chão de fábrica e o afastamento do medo em relação ao local de trabalho. Dennings argumentou que a insegurança prejudica o trabalho em equipe e “é um convite para uma imagem ruim”. “Os portadores de más notícias não são bem vistos. Para manter o emprego, qualquer um pode dizer ao chefe apenas coisas boas”, diz.
Outros especialistas também enfatizaram os benefícios de ouvir os operários. Um estudo de caso da Harvard Business Review atestou o esforço bem-sucedido do fabricante de materiais alemão Isola Group para reorganizar a produção com ideias dos trabalhadores.
Nos EUA, a fabricante de ônibus elétricos BYD negociou recentemente um Acordo de Benefícios Comunitários (CBA) junto a uma coalizão promovida pela organização sem fins lucrativos Jobs to Move America (Empregos para Impulsionar a América, em tradução livre). Os trabalhadores da empresa agora são sindicalizados e têm um acordo coletivo de trabalho com a SMART, que estabeleceu um processo de feedback contínuo e direto da fábrica – incluindo treinamento aprimorado de segurança do Departamento de Administração de Segurança e Saúde Ocupacional do Trabalho.
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“Desde que negociamos o CBA e começamos a trabalhar com o sindicato, nosso controle de qualidade melhorou significativamente. Os funcionários agora detectam erros em um ritmo muito mais rápido e a confiança no chão da fábrica nunca foi tão boa”, disse o vice-presidente da BYD, Bobby Hill.