Inaugurado há 18 meses, o restaurante de Bangcoc Gaa, de Garima Arora, foi premiado com uma estrela Michelin na semana passada. Desde então, sua chef, de origem indiana, diz que o telefone não para de tocar. “Estamos com lotação máxima pelos próximos quatro meses”, diz Arora, 32 anos, fundadora e sócia-proprietária de 20% do estabelecimento.
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Esta é também a primeira vez que uma chef de cozinha indiana consegue uma classificação da bíblia da gastronomia. O chef celebridade Gaggan Anand, que também é da Índia e administra restaurantes na capital tailandesa, possui uma participação de outros 20% no Gaa, juntamente com três investidores.
A experiência anterior de Arora inclui um período como subchefe no restaurante homônimo de Gaggan, também em Bangcoc, antes de se lançar sozinha em abril do ano passado – embora tenha permanecido no mesmo bairro. O Gaa fica na mesma rua de seu antigo empregador, mas ela afirma que os dois estabelecimentos não competem entre si. Aliás, Gaggan foi classificado como o número um na lista dos 50 melhores restaurantes da Ásia por três anos consecutivos.
Receber uma estrela no icônico guia significa “culinária de alta qualidade que vale a pena experimentar”. O guia é publicado desde 1889 pela empresa de pneus Michelin e surgiu na França para encorajar as pessoas a pegarem estradas para conhecer os locais e, assim, usar mais os pneus.
Os inspetores da Michelin pagam por suas próprias refeições e fornecem análises anônimas sobre cinco parâmetros: qualidade da comida, domínio do sabor e técnicas culinárias, consistência, custo-benefício e personalidade do chef.
O Gaa, com acomodação para 40 pessoas, serve o que Arora descreve como “culinária moderna e eclética”. São dois tipos de refeições: uma opção de 10 pratos por US$ 73 e outra de 14 pratos por US$ 85. Harmonizações com vinho e suco são cobradas à parte.
O menu contempla pratos como donut de pato, caranguejo azul e sorvete de coco queimado orgânico. A chef tem como inspiração seu amor pela comida indiana, ingredientes tailandeses e influências globais de seu tempo no mundialmente famoso Noma, em Copenhague. Para seu restaurante, Arora procura ervas, temperos e legumes de tribos da Tailândia. “Estou sempre interessada em descobrir novas especiarias e sabores”, diz ela, estimando que os investidores recuperem o dinheiro aportado ao longo dos próximos dois meses.
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O amor da chef pela culinária começou durante sua infância em Mumbai, quando via o pai preparar novos pratos na cozinha. A família dirigia uma empresa de gerenciamento de eventos e, quando voltava de suas viagens, ele se perdia no enorme prazer de cozinhar. “Ele ficava feliz, sorria, cozinhava e se divertia”, lembra Arora. “Ele adorava comer e gostava de cozinhar também. Comecei a achar que eu também poderia fazer isso.”
Arora estudou mídia de massa no Jai Hind College, em Mumbai, e trabalhou brevemente como jornalista no “The Indian Express”, na mesma cidade, antes de se mudar para Paris para frequentar a escola de gastronomia. Em 2010, formou-se na Le Cordon Bleu e começou a trabalhar para o famoso chef Gordon Ramsay, na Table 9 Kitchen. Em seguida, foram dois anos no Noma, em Copenhague, com o célebre chef Rene Redzepi, onde ela começou a encarar a culinária como um “exercício inteligente”. Em 2015, mudou-se para Bangcoc para trabalhar com Gaggan.
Segundo ela, a maior transição de chef para empreendedora é que, agora, tem que pensar em seus funcionários primeiro. “Esta é uma jornada muito diferente, porque você é responsável por 30 outras pessoas”, diz. “Demora um pouco para se acostumar.”
E, além da parte administrativa, ainda existe a contabilidade do negócio. “Em uma organização pequena como essa, você faz um pouco de tudo. A cozinha está totalmente sob meu controle. Eu me sinto muito confortável nela. Mas não fico na cozinha durante o tempo que gostaria.”
Embora as horas de trabalho sejam longas, Arora consegue dar conta de tudo graças a um marido solidário, que ela descreve como um dos homens mais generosos que já conheceu. O casal foi apresentado há uma década e é casado há um ano. Seu marido é piloto da Jet Airways de Mumbai.
Ela diz que também teve a sorte de contar com o apoio de seus investidores. “Eles me deixam ser quem sou e executar tudo isso sozinha”, afirma. “Não há mais nada que eu preferisse estar fazendo.”