O desastre de Brumadinho ocorreu pouco mais de três anos depois de uma tragédia similar em outra mina envolvendo a Vale, sócia da BHP Billiton na Samarco, causando uma perda de mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado da empresa apenas na segunda-feira. Mas uma década atrás, a maior produtora global de minério de ferro estava considerando maneiras de usar menos barragens de rejeitos, incluindo usos alternativos para essa lama, de acordo com uma apresentação de 73 páginas. O documento apontou para o aumento do volume de rejeitos produzidos nas minas da empresa.
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Carolina de Moura, uma participante do Movimento dos Atingidos pela Vale, moradora de Brumadinho e acionista da Vale, disse que cobrou, em abril do ano passado, em uma assembleia de acionistas da empresa, da diretoria da Vale, onde estava o projeto, ressaltando que Feijão estava inserido dele. “Só que ela não tratou (dos rejeitos), porque o preço minério de ferro caiu, a empresa implementou uma política de redução de custos, deve ter socado as barragens de rejeitos mais ainda e aí o que deu?, Córrego do Feijão estourou”, disse Moura.
O autor do relatório, Paulo França, deixou a Vale um ano depois de apresentá-lo e agora trabalha como consultor do setor. Procurado pela Reuters, ele não comentou.
A Vale também informou que não iria comentar. Mais tarde, ontem (29), a Vale anunciou investimentos de R$ 5 bilhões para acabar com as barragens a montante, dizendo que o processo também vai exigir paralisação da produção em um volume equivalente a 40 milhões de toneladas ao ano.
“Estruturas inerentemente perigosas”
O vizinho Chile, mais propenso a terremotos, proíbe o design. O Brasil não é tão propenso a terremotos, mas até mesmo pequenas atividades sísmicas mostraram afetar as barragens de rejeitos a montante. Como esses tipos de estruturas são alagados, eles ficam facilmente suscetíveis a rachaduras e outros danos que podem causar rompimentos, como o que ocorreu na semana passada em Brumadinho.
“Uma barragem de rejeitos pode parecer segura, mas ainda mantém muita umidade por trás dela”, disse Dermot Ross-Brown, engenheiro da indústria de mineração que leciona na Escola de Minas do Colorado, nos EUA. “São estruturas inerentemente perigosas.”
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A barragem passou por uma inspeção em setembro de 2018 da empresa alemã Tüv Süd, e o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse que monitores mostraram que a barragem estava estável em 10 de janeiro. Três funcionários da Vale e dois engenheiros da Tüv Süd foram presos ontem (29), em operação para apurar homicídio, falsidade ideológica e crimes ambientais na tragédia.
Riscos enormes
Abalados e na espera de informações sobre centenas de colegas desaparecidos no desastre, funcionários da Vale estão se mobilizando para exigir mudanças no modelo de produção da empresa, incluindo a utilização de tecnologias já existentes para eliminar rejeitos da mineração. Analistas e engenheiros acreditam que o desastre de Brumadinho deverá forçar a indústria a parar de armazenar rejeitos úmidos e, em vez disso, seguirá em direção ao processo mais caro, porém mais seguro, de armazenar rejeitos secos. Esse processo exige a secagem dos rejeitos e o armazenamento no local, reduzindo o risco de colapso da barragem. A abordagem está se tornando mais popular no Canadá e em outros países com regulamentações de mineração mais rigorosas.
O Brasil ainda está se recuperando da tragédia de novembro de 2015, quando uma barragem maior, pertencente à Samarco despejou uma montanha de rejeitos, deixando 19 mortos e centenas de desabrigados, poluindo o rio Doce, no que foi considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil.
No caso de Brumadinho, a barragem estava construída em cima de estruturas da própria empresa e inundou prédio administrativo e refeitório da companhia, com centenas de trabalhadores no horário de almoço.
O sindicato que representa trabalhadores de mineração de Brumadinho afirmou nesta terça-feira que pediu à Vale “há pelo menos dois anos” mudança de local das instalações administrativas e do refeitório atingidos pela avalanche de lama do rompimento da barragem. “Em reunião, representantes da Vale disseram que existia um projeto pronto para a transferência, o que não ocorreu a tempo de evitar essa tragédia”, acrescentou a nota, assinada pelo Sindicato Metabase de Brumadinho e Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Minas Gerais. A Vale não comentou o assunto imediatamente.