Spotify e compositores brigam por salários

12 de abril de 2019

O fundador e CEO da Kobalt, Willard Ahdritz, me disse no ano passado que, em 2009, houve 90% de pirataria musical na Suécia.

Resumo:

Spotify pode ser considerado a chave para acabar com a pirataria da música;

Com a possibilidade de pequenos músicos começarem a ganhar dinheiro com streaming, Spotify quer diminuir lucro dos compositores;

Os lucros com a produção musical na atualidade são muito menores do que no passado.

Isso nunca foi falado por ninguém da indústria da música.

Embora seja complicado explicar a última questão financeira envolvendo compositores e serviços de streaming, como o Spotify, é válido dar um resumo.

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Você já deve ter ouvido falar da Lei de Modernização Musical (Music Modernization Act, em inglês), que foi aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos no ano passado. Esse foi um esforço bipartidário raro, que tinha como objetivo atualizar leis que mantiveram a indústria da música sufocada no século passado. Outra iniciativa importante foi quando o Conselho de Direitos Autorais do país anunciou, em janeiro de 2018, que haveria um aumento de 44% nas taxas de royalty dos compositores. Mas o Spotify e outros serviços de streaming – exceto a Apple Music – apelaram oficialmente para o aumento de salário dos compositores no último mês, levando a alvoroço na comunidade da música.

Tal apelo está em desacordo com a iniciativa Secret Genius, do Spotify, que tem como meta conquistar os corações e mentes das comunidades de compositores. Ela coloca produtores e escritores, sempre nos bastidores, em grandes anúncios públicos, conteúdo de mídia viral e os homenageia em uma premiação anual. E a comunidade criativa ficou satisfeita por entrar no grupo, já que os principais compositores de músicas de artistas renomados como Halsey, Shawn Mendes, Demi Lovato e Cardi B passaram a ser notados e mencionados pela indústria de tecnologia.

Portanto, é de extrema importância que mais de 100 participantes do Secret Genius tenham acabado de assinar uma carta que diz, entre outras palavras, que agora eles entendem o verdadeiro motivo de expor os compositores. “Vocês nos usaram e tentaram nos dividir, mas juntos, lutaremos pela coisa certa e deixamos aqui o nosso apelo”, diz o documento.

Entre os que assinaram a carta está Ross Golan, que já compôs grandes sucessos para Selena Gomez e Flo Rida. “Parabenizamos o Spotify e os outros serviços de streaming por terem uma discussão pública com nossos representantes. Não temos nada a esconder.”

Lucas Keller, da empresa Milk & Honey, gerencia compositores e produtores. Ele ajudou a organizar a carta e planeja organizar artistas para soltarem a voz também. Ele informou que a mensagem deles para o Spotify é direta: “Obrigado por tudo que fizeram pelo negócio da música, mas agora é necessário corrigir as publicações e também os compositores”.

Quando questionado sobre quem exatamente assinou a carta, Keller explicou: “São pessoas que aparecem nos outdoors do Spotify, foram à redação, produziram conteúdo de vídeo em seus escritórios. Os compositores nomeados fazem parte do Secret Genius”.

Quando o streaming se tornava popular nos EUA, havia várias histórias virais que mostravam como os músicos – ou seja, baby-boomers ajustados a outra época – estavam fazendo uma parte daquilo que costumavam fazer. Em 2014, o compositor Van Dyke Parks escreveu: “Quarenta anos atrás, co-escrever uma música com Ringo Starr teria me proporcionado uma casa com piscina. Agora, estimando 100 mil execuções no Spotify, estamos supondo a divisão de uns US$ 80.”

Por um lado, a indústria se ajustou ao fato de que o streaming é um veículo necessário para promover outros empreendimentos lucrativos. Os artistas se voltaram para as turnês e as marcas, enquanto os compositores se mantêm focados no licenciamento para filmes e programas de TV.

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Mas, por outro lado, finalmente surgiu um caminho legítimo para a classe média da música gerar lucros por meio de streaming. Hoje, o volume de 1 milhão de streams representa pouco menos que US$ 5 mil, que precisa ser dividido. O fundador e CEO da Kobalt, Willard Ahdritz, me disse no ano passado que, em 2009, houve 90% de pirataria musical na Suécia. “É surpreendente. O Spotify é o assassino da pirataria, é o caminho para ganhar dinheiro novamente. E se eu dissesse que teremos muito mais bandas e artistas nos próximos cinco anos? E que esses mesmos artistas terão uma vida comercial?”, pergunta. “Se você é dono de sua produção, opte por não ter um contrato com uma grande gravadora. Há muito dinheiro a ser feito em streaming”, acrescentou.

Como compositor, posso dizer que, normalmente, não somos pagos pelo trabalho de uma sessão com um artista. Em vez disso, todos os envolvidos esperam que a música encontre maneiras de gerar mais lucros no futuro – seja no Top 40 das rádios ou quando ela é escolhida para fins comerciais. A natureza especulativa do negócio, juntamente com a distribuição de fundos, dificulta o agrupamento de uma receita previsível. Portanto, torna-se ainda mais importante coletar cada dólar de maneira oportuna. Além de abraçar cada aumento de salário que possa surgir.

Então, é exatamente nesse ponto de virada – quando a indústria da música finalmente aceitou a nova realidade, quando o streaming foi incorporado na comunidade criativa e quando há a possibilidade real de músicos desconhecidos começarem a ganhar dinheiro – que o Spotify chegou com uma ação legal contra um aumento de pagamento do compositor. Por que decidir varrer um esforço de longo alcance e persuasão com um único golpe, que corre grandes riscos de ser rejeitado no tribunal?

“Acho que pensam que, embora o programa Secret Genius tenha sido ótimo, eles não querem ter que pagar mais para todas as partes”, explicou Keller. “Tenha em mente que um compositor se beneficia com o Spotify. Nós somos uma espécie de motoristas e vitrine para aquilo que eles criaram. Logo, é uma posição conflitante. Eles foram responsáveis pelo renascimento da música gravada. Os anos 2000 foram a idade das trevas no mundo da música, então temos que agradecer de muitas maneiras – mas não recorram ao nosso salário”, acrescentou.

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