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Bartelle conquistou dois títulos brasileiros (de Fórmula Chevrolet e Fórmula 3) e foi vice-campeão sul-americano de F-3. Como se vê, ele tratava o esporte com total profissionalismo. “Tive o Nuno Cobra como preparador físico, tinha assessores e obtive ótimos resultados”, lembra. Mas havia também muita pressão e responsabilidade. “E eu queria aproveitar a juventude”, lembra, ao justificar a pausa. “Depois me dei conta de que poderia ter ido longe no automobilismo”, diz – sem ressentimentos.
Diante das peculiaridades do mercado brasileiro em relação, por exemplo, à variação da cotação do dólar e à disposição para o consumo, a Under Armour, que já estava no país desde 2014, procurou a Vulcabras Azaleia para propor uma parceria – a brasileira já tinha expertise em contratos de licenciamento após representar a Reebok durante 20 anos, até 2015, experiência que ocorreu por influência de Bartelle. “Estive nos Estados Unidos três vezes para conversar principalmente com o fundador da Under Armour, Kevin Plank. Tivemos um relacionamento muito bom. Eles viram valor na Vulcabras e no nosso diferencial competitivo e se sentiram confiantes em nos deixar criar produtos para o mercado brasileiro”, conta Bartelle, lembrando que em apenas três meses decidiram celebrar o acordo.
"Estive nos EUA três vezes para conversar com o fundador da Under Armour. Eles viram o nosso valor e sentiram confiança"Pelo acordo, ficou decidido que a brasileira pagaria R$ 97,5 milhões para assumir por dez anos a operação da norte-americana no país, incluídas aí sete lojas: três em São Paulo, três no Rio de Janeiro e uma em Brasília. Além disso, será responsável pela produção de toda a parte de calçados e de metade da de vestuário. Neste caso, a Vulcabras não terá participação na criação dos artigos, apenas “clonará” as peças que for mais vantajoso ou mais rápido produzir no Brasil – caso contrário, importará os itens do parceiro. No que se refere aos tênis, tem total liberdade para criar produtos sob a marca Under Armour – seis modelos serão feitos no país (a empresa também pode trazer outros dos Estados Unidos).
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História de vida
Pedro Bartelle é um competidor nato. Aos 14 anos, ingressou no automobilismo e passou oito anos correndo. Passou pelo Kart, Fórmula Ford, Fórmula Chevrolet e Fórmula 3. Dois anos antes de parar, montou um outlet da Reebok, uma forma de começar a trabalhar sem se envolver na empresa da família. Chegou a deter quatro lojas no Sul e 15 em São Paulo, até a Vulcabras incorporá-las em seu negócio.
Nessa época, o jovem empreendedor passou a trabalhar na área de marketing da empresa, onde ficou até 2003, quando foi morar na Argentina para operar a licença da Reebok no país, já que o operador local sucumbiu com a crise que assolava o país vizinho. Quando retornou ao Brasil, alguns anos depois, o empresário nascido em Farroupilha (RS) assumiu a área global de marketing do grupo. Embora os planos fossem para montar base em São Paulo logo após o casamento, em 2007, onde está toda a família, acabou pegando novamente a estrada de volta para o Sul – a aquisição da Azaleia pela Vulcabras acabou demandando a presença de alguém perto do centro de desenvolvimento em Parobé (RS).
A família também foi a responsável por fazer o executivo abrir mão de um de seus hobbies: pescar na Amazônia. Pedro conta que costumava passar uma semana “800 quilômetros rio acima” pescando. Agora, com dois filhos pequenos (Pedro Paulo, de 8 anos, e Vitório, de 5), prefere passar o tempo livre com os dois, já que eles – ainda – não têm idade para acompanhá-lo na pescaria.
Hoje morando em Porto Alegre, ele passa boa parte da semana viajando. Em São Paulo, num escritório no prédio ao lado do Shopping Eldorado, ficam os departamentos comercial, de negócios e marketing. Em Jundiaí, no interior paulista, concentra-se o centro administrativo da empresa, que detém ainda três fábricas no Nordeste: em Horizonte (CE), Itapetinga (BA) e Frei Paulo (SE). Há ainda duas filiais e centros de distribuição no Peru e na Colômbia.
A promoção de Bartelle a CEO ocorreu em 2015, ao término de um período bastante delicado para a companhia, durante um processo de reestruturação que demorou dois anos e meio e contou com a ajuda da consultoria Galeazzi & Associados, especializada em reestruturação de empresas. O processo levou à demissão de 30 mil dos 45 mil funcionários, além do fechamento de 22 fábricas e venda da unidade da Argentina. “O governo tinha adotado medidas antidumping contra os produtos chineses. Havia expectativa de um grande crescimento nas vendas de calçados, mas não foi o que aconteceu, porque nos demos conta de que a produção estava espalhada pela Ásia”, recorda o empresário, ao acrescentar que, naquele momento, os países ricos também vinham em crise e os excedentes de produção acabaram caindo nos países emergentes, dificultando ainda mais o mercado.
Números
“A reestruturação colocou a e
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Com o processo que levou ao enxugamento da estrutura, o faturamento líquido caiu de R$ 2,3 bilhões em 2010 para R$ 1,5 bilhão em 2018. No primeiro trimestre deste ano, segundo resultados recém- -divulgados, a Vulcabras Azaleia registrou lucro líquido de R$ 26,2 milhões, desempenho 21,6% abaixo do auferido no mesmo período do ano passado por causa do impacto do ritmo fraco das economias brasileira e argentina.
No comentário do balanço, a empresa destaca que as vendas dos produtos Under Armour entrarão no segundo trimestre, o que, junto com a melhora no desempenho vista a partir de março, pode culminar em resultados mais promissores.
Top of mind
Além da Olympikus, a empresa é dona das marcas Vulcabras, Azaleia, Dijean, Olk e Opanka. Na linha feminina, a Azaleia, segundo Bartelle, é “top of mind”. Mas, da mesma forma que ele na condução atual de seu preparo físico, a empresa apenas tem feito a “manutenção” dessas linhas. “Fast fashion muda muito. Damos atenção, mas é relativamente menos importante. A marca, no entanto, segue relevante no Brasil e no exterior”, destaca, ao citar as 50 lojas próprias na Colômbia e no Peru e as 22 franquias que a marca possui no Chile. “Estamos crescendo lentamente”, acrescenta.
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O CEO da Vulcabras Azaleia é o segundo filho do primeiro casamento de seu pai, Pedro Grendene. Sua irmã mais velha, Giovana, já trabalhou na empresa, e, dos dois irmãos caçulas, do segundo casamento, apenas Gabriella não se envolveu nos negócios; André é conselheiro da empresa.
Seu pai, que está atualmente no terceiro casamento, fundou a Grendene com o tio, Alexandre, em 1971. Pedro Grendene adquiriu a Vulcabras em 1988 e, em 2007, a Azaleia, embora ainda tenha participação na empresa do irmão.
“Depois do processo de crise, aprendemos que a empresa precisava se profissionalizar”, lembra Pedro ao comentar o envolvimento dos parentes nos negócios e a migração da companhia para o Novo Mercado da Bolsa. “Temos dois conselheiros independentes. Sou o único acionista que tem cargo executivo”, conclui, lembrando que os cargos são profundamente ligados à performance dos executivos. “Sabemos separar quem é acionista e quem é executivo.”
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