EUA e China falam de agricultura em Washington

20 de setembro de 2019
Mark Schiefelbein/Pool via Reuters

As discussões estão focadas fortemente na questão da soja, por exemplo

Negociadores comerciais de segundo escalão dos Estados Unidos e da China retomaram conversas presenciais pela primeira vez em quase dois meses, enquanto as duas maiores economias do mundo tentam superar profundas diferenças e encontrar uma saída para a prolongada guerra comercial. As negociações, que continuam hoje (20), visam lançar as bases para rodadas de negociação de alto nível no início de outubro que determinarão se os dois países estão trabalhando para uma solução ou se caminham para impor novas e mais elevadas tarifas um ao outro.

Uma delegação de cerca de 30 funcionários chineses, liderada pelo vice-ministro das Finanças do país, Liao Min, reuniu-se com contrapartes do Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês) perto da Casa Branca. O representante comercial adjunto, Jeffrey Gerrish, chefiou a delegação dos EUA.

As discussões estão focadas fortemente em agricultura, incluindo a exigência dos EUA de que a China aumente substancialmente as compras de soja americana e outros produtos agrícolas, segundo uma pessoa com conhecimento do planejamento das discussões. Duas sessões de negociação durante os dois dias cobrirão questões agrícolas, enquanto apenas uma será dedicada ao fortalecimento das proteções de propriedade intelectual da China e à transferência forçada de tecnologia dos EUA para empresas chinesas.

LEIA MAIS: China e EUA iniciam nova rodada de tarifas em meio a guerra comercial

“As sessões sobre agricultura receberão uma quantidade desproporcional de tempo”, disse a fonte, acrescentando que uma dessas sessões também incluirá um foco na exigência do presidente dos EUA, Donald Trump, de que a China interrompa os embarques do opioide sintético fentanil para os Estados Unidos.

O presidente está ansioso para oferecer oportunidades de exportação para agricultores dos EUA, eleitorado político chave de Trump que foi afetado pelas tarifas retaliatórias da China sobre a soja e outras mercadorias agrícolas.

O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, disse em entrevista à Fox Business Network na quinta-feira que ainda não está claro o que a China queria e que “descobriremos muito, muito em breve nas próximas semanas”. “O que precisamos é corrigir os grandes desequilíbrios, não apenas o atual déficit comercial”, disse Ross. “É mais complicado do que apenas comprando um pouco mais de soja”.

Em uma reviravolta inesperada, alguns membros chineses da delegação ficarão nos Estados Unidos para visitar regiões agrícolas na próxima semana, disse o secretário de Agricultura, Sonny Perdue a repórteres. “Eles querem ver a produção agrícola. Eu acho que eles querem construir boa vontade”, disse Perdue.

A CNBC informou anteriormente que o grupo visitará Bozeman,Montana e Omaha, Nebraska. Um porta-voz do USTR não respondeu imediatamente às perguntas.

Câmbio na mesa

O Secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, que junto com o Representante do Comércio do país, Robert Lighthizer, e do vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, participará das discussões de outubro, disse que questões cambiais serão o foco das novas rodadas de negociações.

Mnuchin declarou, formalmente, que a China é uma manipuladora de moeda no mês passado, após o yuan enfraquecer em relação ao dólar, acusando Pequim de tentar obter uma vantagem comercial.

Trump já disse que a China não conseguiu atender compromissos de compras agrícolas assumidos pelo Presidente Xi Jinping em uma cúpula do G20, no Japão, como um gesto de boa vontade para a retomada das negociações. A China negou ter feito tais compromissos.

Quando essas compras não se concretizaram durante negociações comerciais entre EUA e China, no final de julho, Trump rapidamente agiu para impor tarifas de 10% sobre praticamente todas as importações chinesas remanescentes que não tinham sido afetadas por rodadas anteriores.

Na semana passada, no entanto, Trump adiou um aumento de tarifa programado para 1º de outubro sobre 250 bilhões de dólares em importações chinesas para o meio do mês, e a China adiou as tarifas de alguns tipos de medicamento de câncer nos EUA,ingredientes para alimentação animal e lubrificantes.

Na quinta-feira, o Escritório do Representante Comercial dos EUA disse que dezenas de outros produtos chineses seriam excluídos das tarifas existentes, incluindo coleiras para cães, algumas placas de circuito impresso usadas em computadores, certas peças de automóvel e luzes natalinas.

Posturas difíceis

“Há uma certa suavização no ar”, disse o consultor da Casa Branca, Larry Kudlow, à Fox Business Network quando os negociadores se reuniam na manhã de quinta-feira.

O editor do jornal estatal Global Times da China advertiu, no entanto, que Pequim manterá sua postura difícil.

“Muitas autoridades americanas facilmente interpretam de forma errada a boa vontade da China, pensam que Pequim mostra fraqueza”, disse Hu Xijin no Twitter. “A China não gosta de falar grosso antes das negociações, mas sei que a China não está tão ansiosa para chegar a um acordo quanto pensava o lado dos EUA”.

Pequim também busca reduzir as sanções dos EUA contra a fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei Technologies, que foi amplamente impedida de comprar produtos de tecnologia sensíveis dos EUA.

A guerra comercial, que se arrasta há 14 meses, tem agitado o mercado financeiro, à medida que formuladores de políticas e investidores se preocupam com as consequências econômicas globais.

Preocupações com uma recessão levaram os bancos centrais em todo o mundo a afrouxar a política nos últimos meses. O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) reduziu, na quarta-feira, as taxas de juros pela segunda vez neste ano para fornecer “seguro contra riscos contínuos”.

Especialistas em comércio, executivos e funcionários do governo em ambos países dizem que, mesmo que as negociações de setembro e outubro produzam um acordo provisório, a guerra comercial EUA-China endureceu para uma batalha política e ideológica que é muito mais profunda do que tarifas e pode levar anos para ser resolvida.

Siga FORBES Brasil nas redes sociais:

Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn

Tenha também a Forbes no Google Notícias.