Resumo:
- Preocupações com agrotóxicos usados na matéria-prima impedem maior crescimento desse mercado, mas fabricantes garantem qualidade;
- Especialistas de saúde e nutrição exaltam a popularização de suplementos veganos e concordam que ajuda na montagem de uma dieta;
- Preços mais altos desses produtos se devem à tecnologia e trabalho mais intenso empregado nas fábricas.
Produtos e campanhas lançadas nos últimos dois anos revelam que a indústria alimentícia começa a prestar mais atenção e desenvolver linhas especialmente para o público vegetariano, que não consome carne, e, especialmente, o vegano, que não consome nenhum item derivado da exploração animal.
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Carlos Alberto Werutsky, médico nutrólogo e do esporte e coordenador da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), chama esse tipo de restrição alimentar de espontânea. Para ele, quem escolhe ser vegano tem de prestar atenção e ter acompanhamento especializado: “Esse público costuma ter uma preocupação maior com comida, mas a carência de nutrientes pode ser um perigo”.
O motivo para esse cuidado, segundo Werutsky, é por o veganismo “contrariar as indicações da pirâmide alimentar adequada, criada com base em estudos”.
O médico nutrólogo Rogério Padovan afirma que a procura por uma dieta vegana aumentou e que os obstáculos para criar esse tipo de cardápio diminuíram. Apesar disso, ressalta a dificuldade de encontrar alguns nutrientes específicos na alimentação vegana, como a vitamina B12, ferro e zinco.
Defensora da alimentação vegana, a nutricionista Viviane Ferreira alerta para o perigo de consumir alimentos de origem animal: “Essa dieta favorece o desequilíbrio das bactérias intestinais, principalmente, as benéficas, e estimula a produção de óxido de trimetilamina (TMAO), um composto envolvido no surgimento de várias doenças”.
A especialista também lembra que os produtos veganos oferecem uma alternativa para o público que sofre de alergias alimentares, como de ovo, frutos do mar, peixes, leite e derivados.
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O setor de suplementos alimentares, que registrou faturamento de R$ 1,96 bilhão em 2018, começou a disponibilizar mais produtos veganos e possibilitou que esse público pudesse consumir mais variedade desses itens. Sobre o assunto, Synésio Batista da Costa, presidente da Brasnutri, afirma: “É um mercado em crescimento e não há dificuldade de aceitação, nenhuma resistência pelos consumidores”.
Conforme os suplementos veganos tomam um lugar de mais destaque no mercado, dúvidas sobre esse tipo de produto aparecem. Forbes entrevistou executivos de algumas fabricantes de suplementos no Brasil para falar sobre o assunto.
Origem da matéria-prima
Um dos questionamentos que põe em dúvida esse tipo de suplementação é em relação aos ingredientes usados. Erica Zago, gerente da linha Nutrify, da Integralmédica, revela que a preocupação com a matéria-prima é enorme: “Deixamos de lançar quatro produtos em 2019 por não estarmos confortáveis com a origem dos ingredientes”.
Alberto Moretto, CEO da Max Titanium, diz que o Brasil é bem restritivo quanto ao uso de agrotóxicos nos produtos de origem vegetal: “É uma das legislações mais completas do mundo nesse sentido”. O Supley Laboratório não cuida diretamente de assuntos de agrotóxicos, mas impõe alguns requisitos para os produtores.
O fundador da Mother, Marcos Leta, também diz se preocupar em usar apenas matérias que considera de qualidade: “Buscamos os melhores insumos ao redor do mundo para chegar ao melhor resultado de sabor e performance”. A empresa oferece apenas produtos de nutrição plant-based.
Dieta vegana vs. produtos de origem animal
Diego da Rocha Garcia, atleta que segue dieta vegana, afirma que já conseguia encontrar suplementos para usar há alguns anos, mas a entrada de outras marcas melhorou a variedade de preços e sabores, algo muito importante para ele.
Ele diz não se sentir prejudicado ao competir com quem consome carne, mas relata preconceito da sociedade com pessoas que escolhem viver esse tipo de vida: “Passamos décadas e mais décadas sendo convencidos de que a carne tem relação com saúde e alto desempenho no esporte.”
Para Rogério Padovan, os suplementos veganos oferecem o que ele chama de “poder biológico” menor, mas que é possível para atletas e pessoas comuns viverem dessa maneira, com orientação especializada. Esse acompanhamento médico é importante para que os pacientes não sofram de sintomas clássicos de desnutrição, como queda de cabelo e unhas.
Competitividade de preços
Com um público fiel de veganos e vegetarianos, especialistas da área ainda acham difícil que os suplementos veganos consigam brigar pela preferência das pessoas adeptas à dieta comum. Razões como o preconceito e preço são algumas das mais lembradas.
Moretto revela que os suplementos veganos costumam ter “quesitos sensoriais” mais fortes, como odor ou textura. Esse tipo de característica é desagradável para o consumidor, então, existe um custo maior para os tornar mais gostosos.
Para Leta, o valor um pouco maior se deve à procura pelos melhores produtos no mercado mundial. O público vegano costuma ser mais exigente, e o mercado de suplementação não é uma exceção.
Já Viviane prefere ver os preços mais elevados pela ótica do valor dos suplementos: “Esses produtos competem no custo benefício, são mais naturais e com alto padrão de qualidade”.
Impacto ambiental
Outro assunto em alta e que se relaciona com a fabricação de suplementos é o impacto causado no ambiente. A Mother, por exemplo, declara que seus produtos geram uma redução de 98% nas emissões de gás carbônico, 92% no uso de água e 52% do uso de terra.
Viviane lembra que os produtos veganos podem ser usados para combater a fome, já que a relação entre recursos para produzi-los é mais eficiente do que a de alimentos comuns.
Um exemplo dado por Werutsky são os aminoácidos isolados, que têm sua origem na cana-de-açúcar.
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