Fernando Matias, da Payly: a moeda digital no Brasil ainda precisa ser democratizada

10 de dezembro de 2019
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Custos elevados e distância de agências físicas fazem com que grande parte da população brasileira esteja fora do sistema bancário

Resumo: 

  • Fernando Matias é chief product officer da Payly, uma empresa que trabalha com a digitalização do dinheiro;
  • O executivo falou sobre o processo de digitalização pelo Brasil e pelo mundo no terceiro dia do Forbes Start no São Paulo Tech Week;
  • Prado revela se o Brasil tende a seguir o caminho do e-commerce em conjunto com a moeda digital e quais os empecilhos para isso.

A revolução digital chegou ao mundo financeiro, gerando complexidade no sistema. Há o surgimento de subadquirentes, a abertura do oligopólio de mercado e, não menos importante, a digitalização do comércio e do dinheiro. Fernando Matias é chief product officer da Payly e assiste de camarote aos novos acontecimentos.

Mas além de espectador, Matias atua diretamente na área. Sua empresa busca novas formas de digitalizar o dinheiro e democratizar essa tecnologia, criando uma união para áreas financeiras que ainda estão desconexas entre físico e digital. O chief product officer falou sobre o assunto no terceiro dia do Palco Forbes Start do São Paulo Tech Week.

Para ele, a questão de desconexão entre físico e digital acontece principalmente na relação comércio versus dinheiro. O varejo já se concretizou digitalmente, e embora nas áreas centrais do país tudo esteja se encaminhando de forma plena com o massivo uso de cartões de crédito, essa não é uma realidade no Brasil como um todo.

Matias explica que hoje cerca de 70% da população brasileira é bancarizada, mas uma grande parte desse número deve-se a programas públicos do governo, como Minha Casa Minha Vida ou Bolsa Família. “Eles precisam ter uma conta na Caixa [Econômica Federal], mas na verdade podem não ser clientes bancarizados”, destaca.

O chief product officer adiciona que o processo de bancarização ainda é distante por conta de questões como custos elevados e distância de agências físicas, o que faz com que grande parte da população brasileira esteja fora do sistema. Além disso, muitos não têm acesso a crédito. “Se não tem acesso a crédito, não tem cartão de crédito e não compra no e-commerce. Não tem acesso a moeda digital e cada vez mais se torna excluído nesse ecossistema”, pontua.

Digital e físico deveriam estar diretamente ligados, mas isso não acontece ainda. Por isso, empresas como a Payly buscam construir um ambiente em que dinheiro e comércio online coexistam. Mas a partir dessas iniciativas, há a possibilidade de o papel moeda deixar de existir?

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Matias incita o questionamento, mas diz não ter resposta exata. Para ele, o melhor segredo na verdade é observar o que acontece em outros países. “Brasil não é um país vanguardista, ele é mais seguidor”, adiciona. Com isso, dá o exemplo de lugares como Japão e Alemanha, em que as transações são quase exclusivamente feitas com dinheiro físico, e Suécia, em que apenas 1% das transações são feitas com papel moeda e a meta para ano que vem já é zerar essa porcentagem. 

“Cada país com sua realidade”, destaca. E as realidades realmente são distintas. Mesmo em locais que tomam a mesma atitude quanto a digitalização do dinheiro, as motivações são particulares. Na Suécia, a pretensão de acabar com o papel moeda não tem relação com economia de emissão ou combate a fraudes. A emissão de moeda em solo sueco é 50% mais barata do que no Brasil, e eles teoricamente não precisariam fazer isso. Diferentemente da Índia, que realizou um movimento para tirar o dinheiro físico da rua em 2016 na tentativa de eliminar a lavagem de dinheiro. Com isso, 85% de todas as notas foram tiradas de circulação.

Mas e no Brasil? Existe motivação? Para Matias, isso é o que não falta. Ele explica que o custo para produção de mil notas é de R$ 300. Se todo mundo utiliza o papel moeda de forma massiva, o custo operacional para emissão de todo esse dinheiro se torna gigantesco. É um gasto que poderia ser direcionado para outro âmbito do país. 

Além disso, ele destaca o poder de rastreabilidade e segurança que a moeda digital carrega, “quando se digitaliza o dinheiro, aumenta-se a rastreabilidade das transações e se diminui a ocorrência de fraudes, lavagem de dinheiro. Além de baixar o risco de assaltos e roubos no dia a dia”.

Parece ideal, mas ainda não é bem assim. Matias ressalta que embora a digitalização se encaixe muito com a realidade brasileira, é necessário ter acessibilidade e democratização para dar certo. “É preciso trazer para perto as pessoas fora do sistema financeiro e do processo móvel de tecnologia”. De forma esperançosa, o chief product officer diz estar trabalhando para isso e imaginando um Brasil digitalizado para os próximos dez anos.

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