Coronavírus acelera migração para ecommerce no Brasil

4 de maio de 2020

Muitas lojas viram a crise causada pelo coronavírus como uma oportunidade para desenvolver seu ecommerce[/caption]

Os varejistas brasileiros começaram a reabrir as portas após paralisarem por semanas as atividades para evitar a disseminação do novo coronavírus, mas devem atravessar a crise transformados pela pandemia, com o setor de comércio eletrônico fortalecido enquanto redes de lojas físicas enfrentam um caminho íngreme para a normalidade.

Essa é uma boa notícia para as principais varejistas online B2W, Magazine Luiza e Via Varejo apesar da disputa cada vez mais acirrada com Mercado Livre e Amazon.com no mercado local.

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Todas ainda têm espaço para crescer com suas plataformas de marketplace por, pelo menos, mais dois anos, avalia Thiago Macruz, analista de varejo e ecommerce, segundo o qual a crescente migração de clientes para o varejo online se sobrepõe a turbulências econômicas.

“Amazon não está com capital tão intensivo e sua estratégia orgânica no Brasil ainda não virou desafio, mas tem bolsos fundos para o dia que quiser colocar dinheiro no país e mudar o cenário competitivo”, disse Macruz.

Enquanto isso, as ações da B2W, que opera sob as marcas Submarino, Americanas.com, Shoptime e Sou Barato, subiram mais de 16% até agora em 2020, superando o tombo de quase 30% do principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa.

A companhia também se destacou em relação às rivais Magazine Luiza e Via Varejo, que foram mais afetadas pela pandemia por terem mais de 1 mil lojas físicas cada.

O crescimento do comércio eletrônico no Brasil acelerou para 30% nas últimas cinco semanas, de acordo com a associação de ecommerce ABComm, com medidas de isolamento social atraindo novos consumidores e levando varejistas desenvolver canais digitais de vendas.

A entidade estima que 80 mil novas lojas online tenham sido lançadas desde março, enquanto o número de clientes com ao menos uma compra pela internet cresceu em quase 1 milhão.

“Percebemos que em crises passadas, não só no Brasil, o ecommerce nunca deixou de crescer mesmo com retração do PIB ou outras dificuldades”, afirmou o presidente da ABComm, Maurício Salvador, em entrevista por telefone.

“A percepção do consumidor é de que comprar pela internet é sempre mais barato, então em épocas de crise o ecommerce acaba sendo um canal interessante porque permite pesquisar preços”, acrescentou.

Salvador ponderou, contudo, que a alta das vendas online tende a desacelerar em relação ao ritmo observado em março e abril, conforme a recessão abala a confiança e o desemprego aumenta.

Ainda assim, a ABComm manteve sua estimativa inicial de crescimento de 18% do ecommerce em 2020 para R$ 106 bilhões, já que o segundo semestre concentra importantes datas para o varejo.

CAMINHO DIFÍCIL

Para lojistas de shopping centers, porém, o caminho para a retomada das atividades tende a ser mais difícil.

Aproximadamente 60 dos 577 shoppings do Brasil já reabriram as portas, mas o número pode chegar a 73 até o término de hoje (4), conforme mais municípios relaxam as regras de isolamento social, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

A Abrasce calcula que o setor já tenha perdido cerca de R$ 20 bilhões em vendas desde o início da pandemia e alerta que o prejuízo deve ser ainda maior até que a situação se normalize.

As ações da Lojas Renner, por exemplo, acumulam queda de cerca de 30% desde o começo do ano.

“Foram adotados novos protocolos de funcionamento e vemos as pessoas tentando voltar à rotina, mas o fluxo ainda está bem aquém do mesmo período do ano passado”, contou o presidente da Abrasce, Glauco Humai.

Para o economista da Guide, Victor Beyruti, é improvável que a demanda retorne aos níveis pré-pandemia ainda este ano. “Até na China a demanda demorou a voltar, então acho que aqui vai ser um pouco pior”, disse.

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“Ser o primeiro a reabrir [lojas] tem suas vantagens, mas a reabertura tem que ser estratégica… Não adianta reabrir tudo se não tiver movimento porque isso vai gerar custo”, explicou o economista.

Operadoras de shopping centers atualmente estão em conversas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a criação de uma linha de crédito para ajudar o setor a atravessar essa crise após a renúncia de quase R$ 1,5 bilhão em isenções fiscais e descontos ou adiamentos de aluguel a lojistas.

Enquanto isso, as empresas vêm se empenhando para reduzir custos. O grupo Iguatemi, por exemplo, está adiando obras de manutenção para cortar os investimentos em cerca de 40% este ano.

“Temos trabalhado intensamente para reduzir as despesas e conceder descontos para aliviar as restrições de caixa [dos lojistas] em abril e maio,” afirmou a diretora financeira do Iguatemi, Cristina Betts, em uma recente teleconferência com analistas sobre o impacto do coronavírus nas operações.

O Iguatemi reabriu apenas um outlet em Santa Catarina, um dos primeiros Estados a relaxar medidas de isolamento social, enquanto os demais estabelecimentos funcionam em esquema de drive-thru.

A rival Multiplan também já reabriu um de seus shoppings em Canoas, no Rio Grande do Sul, e os demais operam apenas entregas. “Acho que temos demanda reprimida. O shopping não é só compra, é local de lazer, serviços… Mas o desemprego vai pesar na renda das pessoas”, disse o diretor presidente, José Isaac Peres, a analistas na semana passada.

(com Reuters)

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