Bernard Arnault parte para a ofensiva após Tiffany pagar dividendos

15 de setembro de 2020
Chesnot/Getty Images

A LVMH enfatizou sua insatisfação com o desempenho da Tiffany & Co. durante o período de isolamento social

O acordo bilionário de Bernard Arnault para incorporar a marca norte-americana de joias Tiffany & Co. à família LVMH por US$ 16 bilhões foi prejudicado por um movimento acalorado do conglomerado francês de luxo, após a Tiffany pagar US$ 70 milhões por trimestre a seus acionistas, durante a pandemia. A rescisão não teria a ver com as políticas francesas sobre o acordo, como revelado anteriormente por uma fonte próxima à negociação.

O negócio, anunciado em novembro, foi congelado pela LVMH na semana passada após uma carta do ministro francês de Relações Exteriores e Europa que chegou “em reação à ameaça de taxação sobre os produtos franceses pelos EUA”. Bernard Arnault, o homem mais rico da Europa e, segundo Flavio Cereda, analista de ações da Jefferies, a “pessoa mais influente na França hoje”, foi “orientado” a “adiar” a aquisição da Tiffany até depois de 6 de janeiro do próximo ano.

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No entanto, uma fonte disse à Forbes que, em vez de intervenção política, o principal ponto de discórdia para a LVMH tem sido os generosos pagamentos de dividendos que a Tiffany fez aos acionistas desde que o negócio foi anunciado, especialmente os pagos em maio e agosto durante a pandemia, que totalizam US$ 140 milhões, uma quantia descrita pela fonte como “uma espécie de brinde” e “literalmente queimando dinheiro”. Um adicional de US$ 70 milhões deve ser pago em novembro, apesar de um potencial período de isolamento social estendido.

O plano da empresa de pagar dividendos trimestrais a US$ 0,58 por ação foi descrito em um comunicado na época do negócio, mas a decisão da Tiffany de continuar com os prêmios durante a pandemia não seria uma opção para a marca, segundo a fonte “se eles estivessem ou não prestes a ser vendidos”.

“De forma alguma eles teriam concordado com isso”, disse a fonte.

A LVMH não respondeu a um pedido de comentário adicional sobre os dividendos dos acionistas, mas enfatizou sua insatisfação com o desempenho da Tiffany & Co. durante o período de isolamento social, tendo anteriormente abordado a concessão de “dividendos substanciais quando a empresa estava no prejuízo”, em uma declaração feita em 10 de setembro.

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A Tiffany & Co. –que sofreu um prejuízo líquido de US$ 32,7 milhões durante o primeiro semestre de 2020, em comparação com um lucro de US$ 261 milhões no mesmo período em 2019– disse à Forbes que a LVMH sabia sobre a política de dividendos. O acordo de fusão de novembro de 2019 confirmou que a marca de joias “continuaria a declarar e pagar seus dividendos trimestrais regulares em um valor que não ultrapassaria US$ 0,58 por ação e de maneira consistente com a prática anterior”. A Tiffany pagou 131 dividendos trimestrais consecutivos desde 1988, logo após o IPO, sem deixar passar nenhum, inclusive durante períodos de crise econômica.

Negócios

Embora o negócio esteja longe de estar morto, segundo a fonte, a relação entre as partes se deteriorou em alta velocidade durante o isolamento, enquanto as lojas de shopping da Tiffany e outras principais de Nova York lutavam para caminhar com os negócios.

Quando a LVMH anunciou sua decisão em 9 de setembro de “adiar” o negócio de US$ 16 bilhões, a Tiffany & Co. revidou com um longo processo em um tribunal de Delaware para que obrigaria a LVMH a concluir o acordo feito em novembro, negando a alegação da LVMH de que a Tiffany violou suas obrigações decorrentes do Acordo de Incorporação.

A Tiffany rejeitou a estratégia da LVMH para adiar o negócio, alegando que o “suposto esforço oficial da França para retaliar os EUA, uma vez que as novas tarifas propostas nunca foram anunciadas ou discutidas publicamente” lança dúvidas sobre se a carta era um “esforço” legítimo para “pressionar” os EUA a mudar de ideia sobre as taxas alfandegárias discutidas sobre produtos de luxo franceses.

“Lamentamos ter que tomar essa medida, mas a LVMH não nos deixou escolha a não ser iniciar um litígio para proteger nossa empresa e nossos acionistas”, disse o presidente da Tiffany, Roger N. Farah, quando a empresa entrou com o processo.

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Um dia depois, a LVMH anunciou sua intenção de responder com uma ação judicial própria para, segundo comunicado, “questionar a gestão da crise pela administração da Tiffany e seu Conselho de Administração… notadamente na distribuição de dividendos substanciais quando a empresa estava deficitária”.

Acrescentando, “a longa preparação do processo demonstra a desonestidade da Tiffany em suas relações com a LVMH”, disse o conglomerado em seu comunicado de 10 de setembro, sugerindo que o relacionamento havia se deteriorado muito antes do anúncio do dia anterior.

Apesar de citar repetidamente a influência do governo, a LVMH mais tarde sugeriu um raciocínio empresarial mais profundo, criticando a administração da Tiffany e sua gestão da crise de Covid-19, alegando que os resultados do primeiro semestre e suas previsões para 2020 são “decepcionantes” e “significativamente inferiores àqueles de marcas comparáveis ​​do Grupo LVMH durante este período”.

No entanto, o CEO da Tiffany, Alessandro Bogliolo, argumenta que “a força fundamental dos negócios da Tiffany é clara” e que o isolamento social não afetou sua lucratividade, segundo a declaração que acompanha o anúncio do processo em 9 de setembro. “Esperamos que nossos ganhos no quarto trimestre de 2020 ultrapassem o registrado no mesmo período em 2019”, disse ele.

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