“Eu não poderia esperar resultados melhores”, diz Bancel. Os dados mostraram que 11 pessoas no grupo de placebo do estudo contraíram Covid-19 grave, mas ninguém no grupo vacinado teve a versão agressiva da doença. “Significa que, se você tomar a vacina Moderna, terá 95% de chance de não contrair a doença e, se tiver, será com sintomas leves”, diz ele. “Isso é fantástico.”
VEJA TAMBÉM: Distribuição de vacina pode fazer com que dólar caia 20% em 2021, diz Citi
A chave do sucesso parece ser a tecnologia de mRNA da Moderna, que depende do RNA mensageiro para entregar instruções às células do corpo. Essas células então produzem pequenas partes do vírus Covid-19 que são apenas o suficiente para ativar o sistema imunológico, produzindo anticorpos e células de memória que entrarão em ação se você entrar em contato com o vírus novamente. Os dados do estudo parecem sugerir que isso deve ajudar as pessoas no geral. A análise foi feita com 30 mil pessoas no total, com ampla diversidade étnica, bem como de faixa etária (cerca de 7.000 tinham mais de 65 anos, o grupo de maior risco para as formas graves da doença).
A Moderna começou a trabalhar em sua vacina contra a Covid-19 em janeiro e despachou seu primeiro lote para o National Institute of Health (Instituto Nacional de Saúde, na tradução literal) para um estudo de fase um apenas 42 dias depois. O processo foi incrivelmente rápido, considerando que a maioria das vacinas leva anos para serem desenvolvidas.
A Moderna não é a única a fazer um progresso rápido: na semana passada, a Pfizer divulgou resultados que mostram que sua vacina de mRNA, produzida em parceria com a empresa alemã BioNTech, apresentou 90% de eficácia na prevenção da Covid-19. Os resultados validaram a aposta de US$ 1 bilhão que o CEO da Pfizer, Albert Bourla, fez no projeto.
E AINDA: J&J inicia teste de candidata a vacina contra Covid-19 de duas doses
Mas Bancel não sente que está competindo com a Pfizer –ou qualquer outra empresa de vacinas. “Como sempre disse, desde que começamos a trabalhar em cima do vírus em janeiro, nenhuma empresa é capaz suprir a demanda do planeta”, diz Bancel. “Precisamos de três ou quatro vacinas para alcançar a linha de chegada, o sucesso da Pfizer é uma grande coisa para o mundo e para o país”.
Carr concorda: “Para a Covid-19, acho que a demanda vai superar a oferta”, diz ele. “Ambas as vacinas serão procuradas”.
Ao contrário da Pfizer, que fez a maior parte de suas pesquisas e ensaios clínicos internamente, a Moderna fez uma parceria direta com o governo dos EUA desde o começo da pandemia. Bancel diz que a empresa trabalhou em estreita colaboração com a equipe de Anthony Fauci no National Institute of Allergy and Infectious Disease (Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, na tradução literal) para conduzir seus os clínicos. A Biomedical Advanced Research and Development Authority (Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado, na tradução literal) do governo federal deu à empresa um pouco menos de US$ 1 bilhão para estudar a vacina. Todo esse investimento leva a um imunizador que custa ao governo cerca de US$ 25 por dose, que provavelmente será distribuída gratuitamente ao público, segundo Bancel. Ele diz que eles têm “milhões de doses” que estão prontas para distribuir. Redes de farmácias como Walgreens e CVS, além da McKesson Corporation, maior distribuidora da vacina contra a gripe nos EUA, já estão estudando como trabalhar a distribuição de forma mais eficiente.
LEIA AQUI: Reino Unido espera distribuir vacina da Pfizer contra Covid-19 antes do Natal
A Moderna ainda tem alguns obstáculos a superar antes que a vacina seja disponibilizada ao público. Primeiro, ela precisa concluir sua fase três de ensaio clínico, fornecer os dados para a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, e obter autorização de emergência para distribuir a vacina. Bancel estima que o ensaio de fase três atenderá à meta de dados-chave nas próximas duas semanas e planeja acionar a FDA para obter uma autorização de uso de emergência no final de novembro ou início de dezembro (o ensaio em si vai durar mais dois anos conforme a saúde dos participantes continua a ser monitorada). Se esse prazo se mantiver, algumas pessoas nos EUA –prováveis profissionais de saúde no início– poderiam começar a receber a vacina no final de 2020.
Por fim, também existe o risco do vírus da Covid-19 sofrer mutação, tornando a vacina atual ineficaz. Isso não preocupa Bancel. “A adaptação à novas cepas é possível”, diz ele, “o mRNA é fantástico porque você pode simplesmente trocar por uma nova cepa e continuar a operar com ela.” Ele espera que, se outra versão da Covid-19 começar a circular, a Moderna levará ainda menos do que seus atuais 42 dias para criar uma vacina.
No momento, entretanto, todas essas preocupações são para o futuro. Após um dia agitado, Bancel está animado com a perspectiva de finalmente descansar um pouco no fim do dia. “Estou ansioso para ir para casa esta noite, tomar uma boa garrafa de vinho e dormir cedo”, diz ele.
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
LinkedIn
Siga Forbes Money no Telegram e tenha acesso a notícias do mercado financeiro em primeira mão
Baixe o app da Forbes Brasil na Play Store e na App Store.