CEO da Moderna diz que vacina pode estar pronta no próximo mês

17 de novembro de 2020
Reprodução/Forbes

Alta nas ações da Moderna elevaram patrimônio líquido de Stéphane Bancel, CEO da companhia, para US$ 3 bilhões

O CEO da Moderna, Stéphane Bancel, dormiu por três horas na noite de domingo (15). Às 4h, ele saiu para correr e, algumas horas depois, conduziu uma reunião com toda a empresa. O assunto: dados preliminares do ensaio de fase 3 da vacina contra a Covid-19 da Moderna, que apresentou ser cerca de 95% eficaz na prevenção da doença. Bancel diz que algumas pessoas podem começar a ser vacinadas no próximo mês nos Estados Unidos.

“Eu não poderia esperar resultados melhores”, diz Bancel. Os dados mostraram que 11 pessoas no grupo de placebo do estudo contraíram Covid-19 grave, mas ninguém no grupo vacinado teve a versão agressiva da doença. “Significa que, se você tomar a vacina Moderna, terá 95% de chance de não contrair a doença e, se tiver, será com sintomas leves”, diz ele. “Isso é fantástico.”

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A notícia é pessoalmente boa para Bancel, que possui participação de cerca de 9% na empresa. Como as ações subiram 10% hoje, o patrimônio líquido do CEO subiu para US$ 3 bilhões. Outros também lucraram com os resultados: o cientista do MIT Robert Langer, que fundou a Moderna e tem uma participação de 3% na companhia, viu seu patrimônio líquido aumentar para cerca de US$ 1,2 bilhão; Timothy Springer, professor de Harvard e com participação acionária de 3,5%, um dos primeiros investidores da empresa, agora tem fortuna estimada pela Forbes em US$ 1,6 bilhão.

A chave do sucesso parece ser a tecnologia de mRNA da Moderna, que depende do RNA mensageiro para entregar instruções às células do corpo. Essas células então produzem pequenas partes do vírus Covid-19 que são apenas o suficiente para ativar o sistema imunológico, produzindo anticorpos e células de memória que entrarão em ação se você entrar em contato com o vírus novamente. Os dados do estudo parecem sugerir que isso deve ajudar as pessoas no geral. A análise foi feita com 30 mil pessoas no total, com ampla diversidade étnica, bem como de faixa etária (cerca de 7.000 tinham mais de 65 anos, o grupo de maior risco para as formas graves da doença).

A Moderna começou a trabalhar em sua vacina contra a Covid-19 em janeiro e despachou seu primeiro lote para o National Institute of Health (Instituto Nacional de Saúde, na tradução literal) para um estudo de fase um apenas 42 dias depois. O processo foi incrivelmente rápido, considerando que a maioria das vacinas leva anos para serem desenvolvidas.

A Moderna não é a única a fazer um progresso rápido: na semana passada, a Pfizer divulgou resultados que mostram que sua vacina de mRNA, produzida em parceria com a empresa alemã BioNTech, apresentou 90% de eficácia na prevenção da Covid-19. Os resultados validaram a aposta de US$ 1 bilhão que o CEO da Pfizer, Albert Bourla, fez no projeto.

“É um resultado bastante impressionante”, disse Alan Carr, analista de biotecnologia da Needham, sobre os dados da Moderna. “Parece haver um padrão com as duas vacinas de mRNA que sugere que a tecnologia é muito útil para doenças infecciosas”.

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Mas Bancel não sente que está competindo com a Pfizer –ou qualquer outra empresa de vacinas. “Como sempre disse, desde que começamos a trabalhar em cima do vírus em janeiro, nenhuma empresa é capaz suprir a demanda do planeta”, diz Bancel. “Precisamos de três ou quatro vacinas para alcançar a linha de chegada, o sucesso da Pfizer é uma grande coisa para o mundo e para o país”.

Carr concorda: “Para a Covid-19, acho que a demanda vai superar a oferta”, diz ele. “Ambas as vacinas serão procuradas”.

Talvez parte da falta de sentimento competitivo resulte das parcerias globais da Moderna. A empresa já firmou acordos para fornecer vacinas contra a Covid-19 para vários países, incluindo os EUA, a União Europeia, o Japão e o Canadá. Embora os contratos com parte das nações permaneçam secretos, o governo Trump anunciou em agosto que chegou a um acordo para comprar 100 milhões de doses da vacina da Moderna por cerca de US$ 1,5 bilhão.

Ao contrário da Pfizer, que fez a maior parte de suas pesquisas e ensaios clínicos internamente, a Moderna fez uma parceria direta com o governo dos EUA desde o começo da pandemia. Bancel diz que a empresa trabalhou em estreita colaboração com a equipe de Anthony Fauci no National Institute of Allergy and Infectious Disease (Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, na tradução literal) para conduzir seus os clínicos. A Biomedical Advanced Research and Development Authority (Autoridade de Pesquisa e Desenvolvimento Biomédico Avançado, na tradução literal) do governo federal deu à empresa um pouco menos de US$ 1 bilhão para estudar a vacina. Todo esse investimento leva a um imunizador que custa ao governo cerca de US$ 25 por dose, que provavelmente será distribuída gratuitamente ao público, segundo Bancel. Ele diz que eles têm “milhões de doses” que estão prontas para distribuir. Redes de farmácias como Walgreens e CVS, além da McKesson Corporation, maior distribuidora da vacina contra a gripe nos EUA, já estão estudando como trabalhar a distribuição de forma mais eficiente.

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A Moderna ainda tem alguns obstáculos a superar antes que a vacina seja disponibilizada ao público. Primeiro, ela precisa concluir sua fase três de ensaio clínico, fornecer os dados para a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, e obter autorização de emergência para distribuir a vacina. Bancel estima que o ensaio de fase três atenderá à meta de dados-chave nas próximas duas semanas e planeja acionar a FDA para obter uma autorização de uso de emergência no final de novembro ou início de dezembro (o ensaio em si vai durar mais dois anos conforme a saúde dos participantes continua a ser monitorada). Se esse prazo se mantiver, algumas pessoas nos EUA –prováveis ​​profissionais de saúde no início– poderiam começar a receber a vacina no final de 2020.

Os especialistas também temem que a vacina da Moderna precise ser refrigerada a baixas temperaturas, em torno de -20°C, o que pode causar problemas na cadeia de abastecimento. A empresa colocou pelo menos parte desses temores para descansar quando anunciou novos dados que mostram que sua vacina pode ser mantida em um refrigerador padrão por até 30 dias. Isso poderia ser uma vantagem sobre a Pfizer, cuja vacina contra a Covid-19 deve ser armazenada a -70°C.

Por fim, também existe o risco do vírus da Covid-19 sofrer mutação, tornando a vacina atual ineficaz. Isso não preocupa Bancel. “A adaptação à novas cepas é possível”, diz ele, “o mRNA é fantástico porque você pode simplesmente trocar por uma nova cepa e continuar a operar com ela.” Ele espera que, se outra versão da Covid-19 começar a circular, a Moderna levará ainda menos do que seus atuais 42 dias para criar uma vacina.

No momento, entretanto, todas essas preocupações são para o futuro. Após um dia agitado, Bancel está animado com a perspectiva de finalmente descansar um pouco no fim do dia. “Estou ansioso para ir para casa esta noite, tomar uma boa garrafa de vinho e dormir cedo”, diz ele.

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