Clínica oferece tratamento de dependência à base de ibogaína no Brasil

24 de setembro de 2022
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A Beneva começou a oferecer seus tratamentos de psicoterapia assistida por ibogaína e cetamina no país

O Brasil agora oferece opções de terapia psicodélica para pessoas que lidam com vícios, tudo dentro de um ambiente hospitalar. Segundo informações exclusivas, a Beneva, rede de clínicas de terapia da Bienstar Wellness Corp., começou a oferecer seus tratamentos de psicoterapia assistida por ibogaína e cetamina no país.

Essa empresa de saúde mental, pioneira nesse tipo de terapias na região, opera no estado de São Paulo e prepara sua expansão para outras cidades da América Latina em 2023.

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Nas últimas décadas, após um forte renascimento da pesquisa clínica em torno da ibogaína e outras drogas que expandem a mente, as terapias psicodélicas estão se tornando cada vez mais populares como alternativas viáveis ​​para pacientes adictos que não respondem aos tratamentos convencionais. 

A ibogaína é um alucinógeno originalmente produzido pelo arbusto iboga da África Ocidental. Sua aplicação no tratamento da dependência de opiáceos e outras substâncias vem sendo pesquisada. A cetamina, por sua vez, é uma droga dissociativa sintética que produz efeitos psicodélicos. Originalmente aprovada como anestésico, ela é usada atualmente para recuperar rapidamente pacientes com depressão profunda ou risco de suicídio.

O uso de ambas as substâncias para tratamento de diferentes condições de saúde mental é autorizado no Brasil, desde que realizado sob supervisão médica adequada e em ambiente hospitalar.

Ibogaína no tratamento do vício

A ibogaína é um alcaloide extraído da casca da raiz de Tabernanthe iboga, um arbusto nativo das florestas tropicais do Congo e Gabão e no delta do rio Ogoue. A primeira evidência de seu uso medicinal remonta a 20 mil anos atrás, quando os pigmeus o usavam em rituais sagrados de cura. 

Essa tradição se estende até os dias atuais, sendo central nas cerimônias do movimento religioso Bwiti, que se difundiu na região no século XIX.

O mundo ocidental não conhecia seu uso terapêutico até o século XX, com as pesquisas de Albert Schweitzer na década de 1930 e de Howard Lotsof, quase três décadas depois. 

Foi justamente Lotsof que descobriu, em 1962, que a ingestão dessa substância pode produzir efeitos positivos em pessoas com dependência de opióides, pois contribui para a redução dos sintomas de abstinência.

Essas descobertas abriram as portas para mais pesquisas sobre os efeitos terapêuticos da ibogaína em pacientes com dependência de opióides. Foram encontradas evidências científicas que confirmam que a substância pode ser segura e eficaz no tratamento desses problemas.

Tratamento com Ibogaína nas Clínicas Beneva

A administração de terapias assistidas com ibogaína pela Beneva Clinics foi possível graças à recente aquisição da BRC Saúde Mental e Terapias Assistidas em julho e à contratação de seu diretor, Dr. Bruno Rasmussen Chaves, como diretor médico. 

Especialista em clínica médica e gastroenterologia, Rasmussen tratou mais de 2 mil pessoas com ibogaína em 27 anos de atividade. Ele trabalha com uma equipe de psiquiatras e psicólogos altamente qualificados para oferecer tratamentos com rigor científico. 

Além disso, ele liderou várias investigações sobre os efeitos da ibogaína em pacientes com transtornos de dependência, incluindo um estudo realizado em uma amostra de 80 pacientes, que mostrou que 70% dos sujeitos conseguiram permanecer pelo menos um ano sem recaídas no uso de drogas.

“Não é uma droga milagrosa, mas quando usada com cuidado e com apoio psicológico, é uma valiosa alternativa para tratamento de pacientes com vícios graves, que não obtêm resultados através de outros meios”, diz Rasmussen, atual diretor médico das Clínicas Bienstar e Beneva. 

Vale lembrar que a ibogaína não é proibida no Brasil, embora também não esteja totalmente registrada como medicamento convencional. Desde 2013, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite legalmente a importação e uso desse tipo de substância – desde que seja para uso pessoal e o paciente tenha prescrição médica. 

Além disso, um Decreto do Estado de São Paulo de 2016, que incentiva a pesquisa científica contra o uso problemático de drogas, autoriza e regulamenta o uso da ibogaína para o tratamento da dependência química sob supervisão médica e em ambiente hospitalar.

Terapias assistidas por cetamina

Além dos tratamentos de dependência baseados na administração de ibogaína, a Beneva oferece diferentes tipos de terapias assistidas por cetamina, com uma equipe de anestesiologistas com ampla experiência na aplicação de cetamina intravenosa. 

As infusões são, de acordo com estudos recentes, uma opção rápida e segura para o tratamento de depressão resistente, ideação suicida e dor crônica e aguda.

Desde 2013, a Anvisa e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo autorizam o uso da cetamina para estudos clínicos, sempre sob rigoroso protocolo, bem como seu uso como anestésico e como medicamento para tratar transtornos depressivos sob supervisão médica e em ambiente hospitalar. 

Por isso, a Beneva pode oferecer essas terapias garantindo sua segurança e legalidade de acordo com o marco regulatório brasileiro.

Recentemente, a revista BJPSych Open publicou uma revisão sistemática que relata a eficácia da cetamina, não apenas no tratamento da depressão resistente ao tratamento, mas também como método para reduzir pensamentos suicidas. 

Este trabalho reúne uma série de pesquisas que demonstram a presença de efeitos anti suicidas quase imediatos após a administração da substância, com duração maior do que das de outras drogas. A conclusão é que a cetamina pode ser uma boa alternativa para pacientes com tendências suicidas.

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