Shangri-La Hotel: um paraíso em Tóquio

9 de março de 2016

Lustres de cristal, feitos à mão, estão espalhados por diversas dependências do Shangri-La (Divulgação)

Trabalhar em um título tão importante como FORBES Brasil proporciona, entre outras coisas, conhecer pessoas, destinos e experiências incríveis. É bem verdade que os convites são muitos e nem sempre condizentes com a linha editorial — de sempre trazer um conteúdo interessante e relevante para os leitores. Foi um desses convites que me deixou intrigado e permaneceu na minha cabeça por quase um ano. Certa vez, durante um almoço em Nova York, uma diretora da conceituada rede de hotéis Shangri-La insistiu na ideia de que eu precisava conhecer um dos hotéis do grupo.

O convite, por si só, já era tentador por se tratar de uma das mais conceituadas redes hoteleiras do mundo, conhecida pela qualidade irretocável de seu serviço. Basta entender o significado da origem do nome: uma comunidade perfeita, serena, isolada do mundo e guiada por gentilezas. Assim é descrita Shangri-La na obra Horizonte Perdido (1933), de James Hilton. O lugar paradisíaco no Vale da Lua Azul, idealizado pelo escritor inglês, e que virou sinônimo de paraíso, serviu de inspiração para a luxuosa cadeia de hotéis. O difícil seria escolher dentre as 90 propriedades que eles possuem pelo mundo — a grande maioria está concentrada na região Ásia-Pacífico.

A suíte Deluxe (Divulgação)

O primeiro Shangri-La foi inaugurado em Cingapura em 1971. De lá para cá, a rede expandiu-se sem perder o espírito de proporcionar aos seus hóspedes um paraíso na Terra. Para facilitar minha escolha, perguntei à executiva qual Shangri-La deveria visitar para que eu pudesse experimentar ao máximo a essência da marca.

A resposta foi quase instantânea: “Todas as unidades Shangri-La são excelentes, mas para entender e experimentar, mesmo, o que é a nossa rede, vá para o Shangri-La Tokyo. Será a melhor experiência em um hotel que você terá em toda sua vida!”. A essa altura você já deve ter entendido o motivo desse convite/intimação ter permanecido na minha cabeça por tanto tempo. Não sosseguei até conferir se aquilo era mesmo para valer. Confesso que o Japão sempre foi motivo de enorme curiosidade para mim. Fora o fato de estar do outro lado do mundo — sob a perspectiva de nós, ocidentais, obviamente —, o país concentra, talvez, uma das culturas mais interessantes e ricas dentre todos os povos. A distância impediu que eu fizesse antes esta viagem, que agora está devidamente arquivada em minha memória como uma das mais incríveis que já realizei.

Detalhe de um dos trabalhos artísticos expostos no hotel (Divulgação)

Meus laços com o Japão sempre foram muito fortes. O Brasil é o país que abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão. E o Pará, onde nasci, foi um dos estados que mais receberam japoneses durante os fluxos migratórios. Lá, por exemplo, aprendi judô na pré-adolescência com um mestre japonês — que mal falava português. Aos finais de semana pegava carona na Kombi dos meus amigos nikkeis da escola para assistir a partidas de beisebol disputadas entre times da comunidade japonesa local. Por lá, os almoços e jantares com sushi, tempura e ramen já eram os pratos principais, muito antes de se tornarem populares no resto do mundo. A importância da comunidade japonesa naquela região também pode ser medida pela enorme influência na agricultura, como no cultivo da pimenta-do-reino ou, ainda, pelo sucesso que alguns dos seus membros alcançaram no cenário econômico local, a exemplo do Grupo Y. Yamada, um dos maiores conglomerados empresariais do norte do país.

O voo entre Nova York e Tóquio passou muito rápido, nem parecia que eu tinha cruzado o globo terrestre — são aproximadamente 12 horas percorridas pelo Polo Norte, ao invés de seguir a curvatura da Terra no sentido oeste-leste — e a primeira sensação ao desembarcar no país do sol nascente foi a de um sonho realizado: eu estava no Japão! Por mais que saibamos a respeito e vejamos muitas fotos e vídeos de Tóquio, não dá para traduzir o que é estar na cidade com a maior densidade populacional do planeta — são 38 milhões de pessoas na região metropolitana. Talvez um local que melhor represente a grandiosidade desse lugar seja o famoso cruzamento no bairro de Shibuya, considerado a mais movimentada faixa de pedestres do mundo. Trata-se de um mar de gente cruzando em X ruas cercadas pelos enormes painéis de LED e neon, que são a cara do Japão.

O bar do The Lobby Lounge (Divulgação)

O maior contraponto ao cruzamento em Shibuya é o Shangri-la Hotel Tokyo, um oásis de luxo, tranquilidade, bom gosto e gentileza que ocupa os 11 andares mais altos da Marunouchi Trust Tower, uma torre multiuso de 37 pavimentos. Hospedar-se em uma de suas suítes é o início da confirmação de que o paraíso realmente existe. Tudo ali é milimetricamente pensado para satisfazer os sentidos. Uma das coisas que me surpreenderam positivamente foi o tamanho das suítes — antes de chegar ao Japão, pensei que encontraria ambientes diminutos e acanhados. Espaços amplos com janelões até o teto se descortinam para vistas deslumbrantes da megalópole e os seus principais cartões-postais — como o Palácio Imperial, a Tokyo Tower, a SkyTree, a Tokyo Bay e, em dias abertos e sem nevoeiro, o Monte Fuji.

A sensação de paz, conforto e calmaria era tamanha que por vezes eu deixava as cortinas abertas antes de dormir e ficava olhando aquele mar de prédios e suas luzes vermelhas de sinalização piscando. Era nítida a sensação de estar protegido do estresse e do barulho da vida moderna. Óbvio que, estando em Tóquio, minha primeira pergunta ao entrar na suíte foi: “O que devo fazer em caso de terremoto?”. A resposta, acompanhada de um sorriso cortês do anfitrião, não poderia ter sido mais tranquilizadora: “Não faça nada… De preferência fique em sua cama e tente, apenas, ficar longe das janelas. Este e a maioria dos prédios em Tóquio estão preparados para suportar um terremoto de até 7.3 graus de magnitude na escala Richter”. É tranquilizador saber que estamos em um dos países com um dos mais eficazes códigos de construção antiterremotos.

Adaptar-se ao fuso de 12 horas de diferença em relação ao Brasil não foi uma tarefa das mais fáceis. Mesmo com o auxílio de medicamentos para o sono, era comum acordar às 4h da manhã e, mesmo com um colchão que abraça o corpo e um delicioso cheiro da essência Shangri-La no ambiente, eu era tentado a, ainda na cama, apertar os botões que abrem automati­camente todas as cortinas da suíte. Já acordado, o jeito era me dirigir ao espaçoso e confortável banheiro high-tech para uma ducha revigorante. O hotel pensa nos hóspedes mais esquecidos: escovas de dente e de cabelo, creme dental, enxaguante bucal, hidratantes e até meia-calça estão disponíveis, sem custo, e são repostos todos os dias. Uma das coisas que mais dão orgulho a esses anfitriões é o fato de todos aqueles produtos serem “Made in Japan” e, portanto, de extrema qualidade. A essa altura era bastante claro que aquele era um éden…

A suíte presidencial do Shangri-La (Divulgação)

Mas um éden diferente do inventado por Hilton, que ficava em uma região remota e de dificílimo acesso. O nosso Shangri-La em questão oferece acesso direto à Tokyo Station, que é a principal estação ferroviária da cidade, um dos pontos de partida do famoso Shinkansen — como é chamado localmente o trem-bala — e hub de todas linhas de metrô com outros trens. Aliás, essa proximidade é bastante útil para o hóspede que não quiser utilizar o transfer em carro de luxo. O hotel dispõe de uma frota de belos Audi A8 Extended, com direito a wi-fi, TV via satélite e água mineral gelada a bordo, além de chofer bilíngue usando luvas brancas, que irá lhe esperar na esteira do aeroporto e cuidar de você a partir de então. O conforto e o serviço são incríveis, mas vamos voltar à questão do passageiro que optar por fazer o percurso aeroporto-hotel de trem: os mimos oferecidos pelo Shangri-La também estarão à disposição. Basta informar ao hotel o número do trem, do vagão e o horário de partida, que lá estará, na sua chegada à Tokyo Station, uma equipe de escolta do hotel – também com luvas brancas — para acompanhá-lo até o Shangri-La, que fica, literalmente, a passos de distância da estação.

No quesito localização, outro ponto forte do hotel é estar também muito próximo ao badalado Ginza, famoso distrito de compras que concentra as maisons das principais grifes de luxo e lojas de departamentos do mundo, aos jardins imperiais, às áreas empresariais de Marunouchi e Nihonbashi e aos principais restaurantes estrelados como o irretocável Beige de Alain Ducasse, que fica no oitavo andar do futurístico e elegante prédio da Chanel. Ou seja, um endereço bastante estratégico para quem está na cidade tanto a negócios quanto a lazer.

O lounge do Horizon Club (Divulgação)

O hotel possui 200 acomodações, sendo 16 suítes e 184 apartamentos, que variam de 50 a 269 metros quadrados — não falei que eram amplos? Os hóspedes que escolherem por uma das 37 suítes do Horizon Club recebem diversos privilégios exclusivos, como check in e check out no próprio quarto, com direito a late check-out às 16 horas e acesso irrestrito ao aconchegante e delicioso Horizon Club Lounge, que oferece uma variedade de alimentos e bebidas no café da manhã e coquetéis durante a noite. Decorado com o tema “Arte de Viajar”, o lounge tem carpetes feitos à mão. Logo na chegada, percebi que a cultura japonesa é realmente muito diferente: extremamente mais rígida e educada que a nossa.

No quarto, a hostess pediu que eu sentasse no sofá da sala para processar o meu check-in e, ato contínuo, ao invés de sentar-se para colher minha assinatura e dados, além de explicar-me todas as amenities e serviços do hotel, ela ajoelhou-se ao meu lado. Meio sem jeito, segurei-a pelo braço e pedi, delicadamente, que se levantasse e sentasse no sofá. Foi em vão… Ela agradeceu sorrindo, mas me disse que estava bem e que preferia fazer o atendimento daquela forma. Os hóspedes que optarem pelo Horizon Club têm, ainda, um concierge à disposição; uma sala de reunião para ser usada diariamente por duas horas; uma seleção adicional de jornais e revistas, entre outros serviços.

A entrada do spa (Divulgação)

O projeto de design de interiores do Shangri-la é do escritório de arquitetura Hirsch Bedner, da Califórnia. Arranjos de flores impecáveis, elaborados pelo badalado florista dinamarquês Nicolai Bergmann, estão por todas as partes, das áreas públicas aos apartamentos. Na decoração contemporânea com influências japonesas, 50 suntuosos lustres de cristal, feitos à mão, são uma atração à parte. Um deles está instalado no bar do The Lobby Lounge. Ele é formado por 890 pequenos pedaços de cristal tcheco amarrados individualmente em hastes de aço. Cada uma das peças tem a forma de uma folha de ginkgo biloba, símbolo de paz e longevidade para os japoneses. Aliás, essas folhas estão por todas as partes do hotel, às vezes em detalhes mínimos, como na textura da parede de entrada do restaurante Nadaman. Junto com os arranjos de Bergmann, elas transmitem aos hóspedes um pouco da sensação de se estar no Hanami, o tradicional festival japonês de contemplação das flores. Com música ao vivo, o bar do The Lobby Lounge é excelente escolha para antes ou depois das refeições. Durante a tarde, vale apreciar a seleção de chás finos e cafés.

Além dos lustres imponentes, os mais de 2 mil trabalhos artísticos espalhados pelos diversos ambientes do hotel também merecem destaque. Os diferentes artistas que assinam as obras inspiraram-se nas poesias de Bai Juyi (772-846). Acredita-se que o trabalho do poeta chinês da dinastia Tang retrata a experiência que ele teve ao ter sido curado espiritualmente pelas melodias de um pipa, instrumento de corda chinês. Os trabalhos feitos em diferentes técnicas – alguns utilizam gesso e até casca de ovo — apresentam desenhos com linhas horizontais e verticais que simbolizam as delicadas cordas do objeto musical.

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Andar pelas dependências do hotel e encontrar tanta beleza já é por si só uma experiência relaxante, mas é possível ir além. O spa do Shangri-La oferece terapias asiáticas antigas que utilizam produtos como pasta de saquê, farelo de arroz, sais naturais e yuzu, também conhecido como limão japonês. São seis salas de tratamento à disposição dos hóspedes. A piscina coberta, com 20 metros de comprimento, é contígua ao spa e tem uma linda vista para o Palácio Imperial, a residência oficial do imperador japonês. Os cuidados com o corpo seguem pela academia, que oferece uma completa seleção de equipamentos. Não há desculpa para deixar de treinar ou nadar, mesmo se você esquecer o tênis, as roupas de academia ou de banho: o hotel oferece esses itens aos hóspedes.

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E quem estiver a negócios encontra no Shangri-La infraestrutura para grandes eventos ou pequenas reuniões. Três salas estão disponíveis para encontros de menor porte e o salão principal acomoda até 270 pessoas. O espírito acolhedor e de bem servir da rede Shangri-La foi colocado em prática nesse mesmo salão, durante um episódio recente que comoveu o Japão e o mundo. Em abril de 2011, um forte terremoto provocou o tsunami que destruiu a usina nuclear de Fukushima. O abalo foi sentido em Tóquio e muitos serviços, como trem e metrô, pararam de funcionar. Diversas pessoas ficaram fora de suas casas, perambulando pelas ruas da cidade. Uma cerimônia de casamento que estava programada para aquela noite no salão de festas foi, obviamente, cancelada e a direção do hotel resolveu usar o espaço (e a maioria dos quartos que estavam vagos) para hospedar os desabrigados. Toda a comida que seria servida no banquete de casamento foi oferecida aos que passaram a noite no hotel. Uma verdadeira missão humanitária.

Restaurante Piacere, decorado por Andre Fu (Divulgação)

O Shangri-La também é uma agradável surpresa quando o tema é gastronomia. O chef Andrea Ferrero, do Piacere, especializado em culinária italiana, gosta de utilizar ingredientes raros em suas receitas como um vinagre balsâmico de 100 anos de idade e um queijo parmesão de quase uma década. O estabelecimento oferece 400 opções de vinhos provenientes de diversos países. Para complementar a atmosfera italiana do Piacere, o decorador Andre Fu, de Hong Kong, optou por lustres de Murano. É muito bom tomar café da manhã ali, com aqueles janelões que inundam de luz o ambiente de pé-direito duplo e a bela vista da cidade contrastando com o silêncio e o rebuscamento da comida servida em porções que parecem ter saído da mesa de um desenhista. Nesse lugar tudo é feito com extrema perfeição.

Restaurante Nadaman, também decorado por Andre Fu (Divulgação)

Andre Fu também cuidou do interior de outro restaurante do hotel, o Nadaman, de comida japonesa kaiseki. Criada em 1830, a marca Nadaman espalhou-se por Tóquio, mas a unidade do Shangri-La é uma das mais sofisticadas, graças ao projeto de Fu. A filial comandada pelo chef Takehiko Yoshida possui um salão principal, duas salas de teppanyaki, um balcão de sushi e duas áreas privadas. O menu degustação engana a primeira vista, com as pequenas porções que são comum no Japão, mas os pratos não param de chegar, um mais bonito e saboroso que o outro. Um festival de sabores e sensações que vai do mais fresco sushi ao kobe beef que derrete na boca, passando pelo creme de trufas. Por favor, não faça como eu que esperei por quase um ano para tirar a limpo a afirmação de que o Shangri-La Tokyo é uma das maiores experiências hoteleiras que se pode ter na vida. Agora, vale o aviso: você não vai querer sair mais de lá e, quando o fizer, cairá em crise de abstinência!

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