“Já tinha comunicado que precisava de um novo desafio, a partir da Copa do Mundo”, diz o executivo, de volta ao ano de 2014. “Surgiu o convite para ser o VP da América Latina. Mas foi só desligar o telefone e me veio à cabeça que não queria mais.”
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Ele queria algo novo. Do zero. Que não tivesse nem mesmo um imóvel. “Queria conhecer algo novo do começo ao fim.”
Tão cru quanto sugere nos cardápios o nome da comida ao qual seu restaurante, o Ró, que deve ser inaugurado neste início de maio, se dedica. “Raw food [comida crua]! Algo que nunca havia caído no meu radar.”
Schiavo manteve os sprints ao redor da lagoa, mas começou outra correria. Era preciso encontrar o lugar perfeito, a chef perfeita, o sócio perfeito. “Passava várias vezes em frente a um ponto no Jardim Botânico (zona sul do Rio de Janeiro). Era um casarão dos anos 1920. Casava com o estilo que eu queria: uma casa charmosa, de frente para o Jardim Botânico. Eu me perguntava: ‘O que vou fazer aqui? Um contemporâneo, um japonês?’ Eu queria qualidade de vida. Venho para o trabalho de bicicleta, de moto, não ando mais de carro. O que de fato combinava com aquilo?”
Então convidou o jornalista Alexandre Lalas para conhecer o espaço. O sobrado branco, protegido por tapumes vermelhos da rua Pacheco Leão, a duas quadras da lagoa, o encantou. A vizinhança já havia transformado a região em um polo de comida natural/orgânica da zona sul carioca. O arquiteto André Piva foi convidado para reformá-lo. “E o Lalas falou que aquele local era a cara da Inês”, afirma. ”
Schiavo fala da chef Inês Braconnot. Ela pesquisa e cria, há 15 anos, comidas naturais e cruas. “Uma mulher fascinante, artista plástica, paisagista, e que domina a raw food. Começou a me mostrar a comida pelo Instagram. Me apaixonei pela estética e pela filosofia de um alimento que só se pode aquecer até 42ºC. Nós a mandamos para o curso do Matthew Kenney, nos Estados Unidos, enquanto a casa era preparada.” O norte-americano Kenney é uma celebridade do mundo da comida natural. Aos 51 anos, tem 12 livros publicados sobre o tema.
Aos poucos, Schiavo organizou os espaços. Lalas advogou pelos vinhos orgânicos. “Já temos um engarrafado com a marca do Ró”, diz. Inês, além do cardápio, cuida dos sucos e dos queijos naturais (“Ela é a fera”, afirma Schiavo). O ex-executivo da Sony, como era natural, é o one man band — para ficar no universo musical — do empreendimento.
“Quero quebrar a resistência à comida natural”, afirma Schiavo. “Que venham beber nosso vinho orgânico e comer os queijos. Quero entregar um ambiente que não seja hostil e que a pessoa possa experimentar.”
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Os queijos do Ró não levam nada de alimento animal. “São de macadâmia”, diz. São também a maior especialidade do restaurante, que, no período noturno, deve oferecer de três a quatro pratos em duas opções de menu. Os doces, afirma, não ficam nada a dever àqueles que não são considerados raw. “Tem uma panna cotta raw que é espetacular”, sugere.
Com a cabeça dos tempos de Sony, ele planeja os próximos passos do recém-inaugurado sobrado do Jardim Botânico. “No futuro, teremos nossa marca própria. O plano é plantar tudo o que vier a ser consumido no Ró. E o queijo é um universo a ser explorado.” Alexandre Schiavo quer mais. Muito mais.