RANKING: 70 maiores bilionários do Brasil em 2016
Rupert, de 65 anos, pertence àquele substrato dos estratosfericamente ricos para quem o silêncio é valiosíssimo. Ele raramente dá entrevistas, mas é inegavelmente tagarela quando a conversa é sobre vinho. Pelas janelas do escritório veem-se fileiras de Chenin Blanc, casta muito difundida na África do Sul, e que se compara à do Vale do Loire.
“A Chenin Blanc é uma uva que, se manuseada da forma correta, dá um vinho ótimo de beber”, diz Rupert, muito bronzeado e fumante compulsivo. Com patrimônio líquido de quase 6 bilhões de dólares, ele nunca subestimou o valor de um bom cliente. “Olhando as pessoas, eu diria que há bebericadores e bebedores. As pessoas que misturam uma salada e bebericam um pouco de Sauvignon Blanc são provavelmente as mesmas que, no passado, bebiam spritzer. Não são bebedoras de vinho, e não é esse o meu ramo. Quero gente que ame vinho.”
NÃO PERCA: 6 vinhos da África do Sul para beber antes de morrer
Ansioso por transformar a visão do irmão em realidade, Rupert ampliou substancialmente as operações, acrescentando centenas de hectares de vinhedos mais ao norte e ao oeste — e logo ao lado também, após comprar terras da Graham Beck, cujo vinho espumante foi usado nas posses de Nelson Mandela e Barack Obama, pelo que consta. Quem visita a L’Ormarins e outras vinícolas próximas costuma se hospedar em um dos hotéis de campo de Franschhoek; o elegante La Residence, com diárias a partir de 530 dólares, é o melhor deles. Perto da L’Ormarins, na vizinha Stellenbosch, fica a vinícola do bilionário dos diamantes Laurence Graff, a Delaire Graff Estate, que conta com dez alojamentos luxuosos com diárias a partir de 800 dólares. Ao lado fica a Babylonstoren, cujo dono é o bilionário Koos Bekker, e que custa bem menos (a partir de 250 dólares), mas também é suntuosa.
Para alcançar uma ampla clientela internacional, Rupert vem insistindo em exportar seus produtos em contêineres climatizados, uma mudança em relação ao método de transporte usual — navios lentos que passam por temperaturas diferentes, o que pode alterar as características de um vinho. Entre as novas ofertas de sua vinícola está uma linha chamada Terra Del Capo, feita com uvas italianas em homenagem à predileção de Anthonij pelos vinhos daquele país. Em termos mais pessoais, ele aprendeu a aceitar que a vinicultura nunca teria o mesmo grau de previsibilidade que, digamos, seu negócio de relógios. “Uma vez que nós tenhamos feito o nosso trabalho corretamente”, diz ele sobre a Richemont, “não precisamos nos preocupar com seca, com granizo ou com algum inseto de que nunca ouvi falar na vida. Se você tem autoconfiança em excesso, o ramo de vinhos acaba com isso rapidamente.”
O maior sucesso de sua propriedade leva, apropriadamente, o nome do irmão: Anthonij Rupert 2007, uma mistura de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot, ao estilo de Bordeaux. (O preço também é de um Bordeaux, ou seja, mais de 100 dólares.) Em 2012, essa safra ganhou 95 pontos na classificação da bíblia do setor, a revista Wine Spectator — foi apenas o quinto vinho sul-africano a realizar essa façanha — e, naturalmente, é difícil de encontrar hoje em dia.
Um sucesso surpresa foi o Petit Verdot 2005, produzido originalmente como parte de uma combinação (conforme o costume de Bordeaux). Nos estágios iniciais, ele tinha taninos poderosos, mas, depois de envelhecido, melhorava imensamente. A equipe de Rupert decidiu engarrafá-lo e vendê-lo como vinho independente, mas não consultou o chefe. Ele não ficou decepcionado. “As pessoas ficaram loucas por ele”, diz Rupert. “Os verdadeiros amantes do vinho o descobriram.”
Um conhecido francês provou uma garrafa e levou uma caixa à França para compartilhar com amigos do ramo. “Eles disseram: ‘É impossível!’ Não conseguiam acreditar. Quer saber? Vamos começar a fabricá-lo de novo este ano, e vamos plantar um pouco mais.”
Rupert também desfruta uma próspera parceria com o barão Benjamin de Rothschild, estabelecida originalmente por Anthonij. Os vinhos Rupert & Rothschild incluem o aclamado Baroness Nadine Chardonnay. Quanto ao nome que aparece no rótulo, Rupert recorda que o barão disse apenas que “soa melhor do que Rothschild & Rupert”.
Você não verá Rupert trabalhar muito com Pinotage, a variedade que é marca registrada da África do Sul e que foi desenvolvida há cerca de um século. Para muitos vinicultores, esse cruzamento de Pinot Noir e Cinsaut (também conhecida como Hermitage) dá um vinho intragável, que evoca um estábulo. “Eu simplesmente não tenho afinidade com o Pinotage”, comenta ele. “Disse aos meus colegas: ‘Precisamos fazer vinhos que eu aprecie, porque, se eu não conseguir vendê-los, pelo menos poderei bebê-los’.”