E se o bitcoin for mesmo uma bolha especulativa?

24 de março de 2018
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O bitcoin era cotado a US$ 16.330, em 11 de dezembro (iStock)

Em 2017, o bitcoin começou a invadir as análises dos investidores tradicionais. Após ser a moeda que mais se valorizou em 2016, seu preço nominal ultrapassou o do ouro em março, quando atingiu US$ 1.265. Em 11 de dezembro, data de fechamento desta edição, era cotado a US$ 16.330, um incremento de mais de 1.600% em relação ao primeiro dia do ano, quando valia US$ 997,69. A volatilidade, entretanto, foi corriqueira, com a variação diária – positiva ou negativa – do preço em dois dígitos.

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Em dezembro, estrearam as negociações de contratos futuros de bitcoin na Chicago Board Options Exchange (CBOE) e na Bolsa de Chicago – mais um motivo para o aumento do preço. E, cada vez que o assunto vem à tona, levanta-se o debate se a criptomoeda é ou não parte de uma bolha especulativa.

A valorização da tulipa holandesa chegou, em um mês, a mais de 1.900%

“A bolha se caracteriza quando há um aumento grande no preço de um ativo, principalmente se os seus compradores se endividam para adquiri-lo”, explica Olivia Bullio Mattos, professora de economia na St. Francis College, de Nova York. Quanto mais endividamento ocorre para comprar o ativo, maior se torna a bolha, assim como a exposição dos bancos, os agentes financiadores do processo. Foi nessa dinâmica que ocorreu, por exemplo, o estouro da bolha imobiliária nos EUA, em 2008.

Segundo o jornal britânico “Financial Times”, os investidores que apostam no bitcoin estão alavancados em até 15 vezes o tamanho do seu capital, o que evidencia a situação especulativa. “Essa negociação dos contratos futuros tem potencial para que as perdas [em uma desvalorização] sejam maiores do que o mercado de bitcoin”, diz a economista.

A trajetória da criptomoeda em 2017 se assemelha à elevação do preço das tulipas na Holanda no século 17. “São objetos de especulação com oferta estática, cujo preço se eleva devido ao medo dos investidores de ficarem de fora desse mercado”, explica Olivia. A tulipa, originária da Ásia Central, tornou-se rapidamente sinônimo de status na Holanda no período, com o seu preço aumentando em alta velocidade.

A valorização da planta chegou, em um mês, a mais de 1.900%, impulsionada, também, pelo período de floração, que leva de 7 a 12 anos depois da plantação. Para facilitar a comercialização, foi implementado um sistema de vendas por contrato, no qual um comprador se comprometia a adquirir uma determinada quantidade de tulipas no fim de cada safra, uma operação semelhante a um contrato futuro.

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Em 1636, as tulipas eram negociadas nas bolsas de valores de várias cidades holandesas. Porém, no inverno de 1637, o preço despencou a um centésimo do que valia depois que um comprador não honrou seu contrato, influenciando outros a fazerem o mesmo e provocando um efeito dominó que levou muitos comerciantes à falência. A pergunta, 380 anos depois, é se o bitcoin terá o mesmo destino das tulipas.

 

Reportagem publicada na edição 56, lançada em dezembro de 2017